quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Carbonômetro

O cálculo que leva ao resultado que aparece no Carbonômetro considera que:

  • 80% da frota nacional de carros flex roda com puro etanol (E100);
  • 20% dos carros flex usam gasolina que, por lei, contém 25% de etanol no Brasil (E25) ;
  • uma taxa de sucateamento da frota de 1% ao ano após o primeiro ano de uso do veículo;
  • a emissão evitada de CO2 considera as seguintes médias anuais:
    - 5,16 toneladas anuais em veículos flex que utilizam E100
    - 1,08 toneladas anuais em veículos flex que utilizam E25

O total que você vê no Carbonômetro, em toneladas de CO2, é o volume de emissões evitadas pela frota brasileira de carros Flex-Fuel desde 2003, quando eles foram lançados no País.

Árvores


O número de árvores se baseia em 3,20 árvores retirando uma tonelada de CO2 da atmosfera ao longo de 20 anos, considerando-se o plantio de árvores nativas da Mata Atlântica plantadas pela ONG SOS Mata Atlântica no estado de São Paulo. A medição foi feita pela SOS Mata Atlântica, com apoio da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) e da consultoria Key Associados.


Fonte: Etanol - Uma atitude inteligente

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Tecnologia inovadora melhora a qualidade do biodiesel

Westfalia e centros de pesquisa como o ITAL investem em tecnologias e estudos para garantir a qualidade do biodiesel e processos de produção mais ecológicos


A GEA Westfalia Separator Brasil está disponibilizando no país uma planta industrial com um novo processo para cisão de borra (sabão), efluente indesejáveis do pré–tratamento de óleos vegetais para produção de biodiesel. No novo método ocorre a cisão contínua de borras, aumentando o rendimento final deste processo. “E ainda, a água ácida, que poderia afetar a qualidade do produto, é decantada em tanques cobertos e percorre um fluxo especial, onde efluentes são neutralizados. Tudo isso antes de ser enviada para o tratamento convencional”, destaca Renato Dorsa, gerente de engenharia da GEA Westfalia Separator Brasil.

O processo de cisão de borra tem por finalidade transformar os sabões - formados durante o processo de neutralização - em ácidos graxos. “Esta tecnologia permite dar um fim mais nobre ao óleo arrastado na borra nos processos de pré-tratamento de óleos vegetais”, afirma Dorsa. Plantas com esse sistema da Westfalia já estão em funcionamento na Europa e Ásia. No Brasil, as plantas com sistemas tradicionais possuem tanques abertos, o que resulta em um processo mais perigoso e poluente. “O processo com centrífugas fechadas e compactas da Westfalia substitui os antigos métodos e é mais ecológico”, diz Dorsa.

Segundo Roseli Ferrari, pesquisadora científica do Centro de Ciência e Qualidade de Alimentos do ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos) de Campinas-SP, além do biodiesel extra que pode ser gerado com esse processo de eliminação total da borra - resíduo que é prejudicial ao meio ambiente -, evita-se os odores desagradáveis que ocorrem nos métodos tradicionais, o que permite que esse tipo de planta possa ser instalada mesmo dentro das cidades.

O ITAL tem investido em pesquisas com o biodiesel, preocupando-se com a satisfação do consumidor final. Todas as plantas do Brasil devem seguir os padrões observados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biombustíveis), cujo objetivo é proporcionar um biodiesel de qualidade. “Como o país tem diversidade de clima e de matérias-primas, as especificações internas são diferentes, mas devemos nos adaptar cada vez mais para atender a uma demanda de exportação”, ressalta Roseli.

A pesquisadora destaca aspectos importantes na qualidade do biodiesel, como, por exemplo, o fato de os motores diesel serem capazes de usar biodiesel sem adaptações. “Também o teor residual de álcool, glicerina e óleos deve ser o mais baixo possível. O biodiesel é biodegradável e sua estabilidade à oxidação deve ser assegurada. Enfim, todos os agentes, do produtor até as usinas, são responsáveis pela qualidade do biodiesel antes dele chegar ao motor do veículo”, reforça Roseli.

Sobre a GEA Westfalia Separator Brasil.

A GEA Westfalia Separator Brasil pertence ao grupo alemão GEA, líder mundial em equipamentos industriais, cujo faturamento anual gira em torno de 5 bilhões de euros. A empresa oferece soluções de engenharia de projetos e processos para o desenvolvimento e implementação de unidades completas para a produção de biodiesel. Cada uma dessas plantas tem capacidade de produção que pode atingir até 300 mil toneladas por ano. A equipe da GEA Westfalia Separator Brasil, com 35 anos de experiência no processamento de óleos vegetais, é também responsável pelo desenvolvimento e implementação de plantas de elevada confiabilidade para o pré-tratamento de diversas oleaginosas para a produção de biodiesel. A Westfalia do Brasil é reconhecida pela qualidade e agilidade de seus serviços de pós-venda, sendo também uma das fundadoras da UBRABIO (União Brasileira do Biodiesel).

Sobre o Ital

O Instituto de Tecnologia de Alimentos é uma instituição de pesquisa, desenvolvimento e assistência tecnológica da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo. Foi fundada em 1969, na cidade de Campinas-SP.


Alessandra de Falco
Assessora de Imprensa
GEA Westfalia Separator Brasil
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19 3579.5466 / 19 9772.0970

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Escândalo da Agrenco

24 Junho 2008

O grupo Agrenco, que abriu seu capital em outubro do ano passado, teve seus principais executivos presos na operação Influenza da Polícia Federal (Executivos de megaexportadora de soja estão entre os presos, Patrícia Cançado , O Estado de São Paulo, 21/06/2008) .

As acusações são de estelionato, formação de quadrilha, falsidade ideológica, uso de documentos falsos e lavagem de ativos.

A partir da constatação de que a empresa recolhia ISS em Itajaí, apesar de não operar no porto de Santa Catarina, chamou a atenção e iniciou as investigações.

Num dos golpes, há indícios de que os três sócios da Agrenco simularam compra de grãos desse produtor e pegaram nota fiscal inidônea. “Em vez de pagar a fatura para o produtor, o dinheiro era dado a um laranja, que distribuía os lucros para todos. O laranja, por acaso, é parente do produtor. Ele recebeu algumas dezenas de milhares de dólares para emprestar a conta bancária”, explica o delegado, que pediu anonimato.
Segundo informações do último balanço financeiro da companhia, a Agrenco é responsável por quase 15% da soja exportada pelo Brasil. Caso as investigações comprovem as operações fictícias, apenas uma parte desse volume realmente foi comprada e vendida.
Os sócios também são acusados de trazer dinheiro de suas contas particulares no exterior para o Brasil por meio de contratos fictícios de prestação de serviços de consultoria. Segundo a PF, as empresas eram criadas para esse fim e desfeitas após a distribuição do dinheiro.( Executivos de megaexportadora de soja estão entre os presos, Patrícia Cançado , O Estado de São Paulo, 21/06/2008)

Conforme normas brasileiras, a empresa Agrenco, que é uma empresa com ações na Bovespa, foi considerada vítima pois os três sócios estariam lesando os outros acionistas.

A conseqüência é que no dia anterior o preço das ações caiu quase 50%, o que determinou a suspensão das negociações.

Para manter a saúde aparente da empresa, os sócios teriam forjado documentos, segundo investigação da PF. No começo do ano, a KPMG, responsável pela auditoria da Agrenco, identificou cerca de 60 irregularidades no balanço, que depois teriam sido sanadas, afirma a polícia. Em 2007, o grupo faturou R$ 3,4 bilhões e teve um prejuízo de R$ 123 milhões. Sua dívida supera R$ 1 bilhão.
A contabilidade da Agrenco é naturalmente complexa. O grupo, criado há 16 anos na França por Iafelice, é formado pela Agrenco do Brasil S.A.; pela Terlogs, que opera o Terminal Marítimo de São Francisco do Sul; por empresas de distribuição na Itália, Reino Unido, Cingapura e Ilha da Madeira, em Portugal; pela Agrenco Argentina; pela Agrenco Shipping and Chartering, do ramo de fretes marítimos; pela Finacom (com sede em Malta), de serviços financeiros. Na Noruega, possui ainda 40% do capital da Danofa, uma das principais processadoras e distribuidoras de soja do norte europeu. ( Executivos de megaexportadora de soja estão entre os presos, Patrícia Cançado , O Estado de São Paulo, 21/06/2008)


Em outro texto (PF prende 24 por crime financeiro, Júlio Castro, 21/06/2008, O Estado de São Paulo) a imprensa detalha mais os problemas da empresa:

Segundo a PF, a organização fazia operações cambiais ilegais, ocultava bens, rendas e movimentações financeiras com a participação de “laranjas”, além de operações comerciais simuladas com o uso de documentos falsos e fraudes em licitações. Há indícios de que a quadrilha corrompia servidores públicos de todas as esferas e níveis para alcançar seus objetivos, notadamente nos portos das cidades catarinenses de São Francisco do Sul e de Itajaí.
A PF apurou a existência de fortes indícios de fraudes em licitações promovidas pelo Porto de Itajaí/SC, como ajuste prévio de vencedora, afastamento irregular das demais concorrentes e superfaturamento dos serviços contratados. Além disso, os presos articulavam-se para praticar crimes contra o mercado acionário, ou seja, adquiriam papéis da empresa Agrenco SA, visando ao lucro indevido. A empresa exporta e importa grãos. As penas previstas para os crimes ultrapassam 50 anos de prisão, além de multas.

Como todo bom escândalo, na véspera a negociação dos papeis da empresa foi anormal:

Segundo um analista, a companhia é alvo de desconfiança há alguns dias. O volume médio de negociações, sempre abaixo de R$1 milhão, chegou a R$13 milhões na segunda-feira. A Bovespa pediu esclarecimentos, e a empresa alegou que a oscilação se deveria à convocação de uma assembléia, em 11 de julho, para discutir a emissão de 25 mil novas ações. No mesmo dia, a produtora de equipamentos Hunter do Brasil pediu a falência de uma subsidiária da Agrenco.
(...) O banco Credit Suisse tem participação de 6,89%. Ontem, no Brasil, ele foi o que mais vendeu ações, num total de R$3,2 milhões.
No ano passado, o banco emprestou US$120 milhões à empresa. Em troca, coordenou o lançamento das ações na Bolsa, quando foram captados R$670 milhões. Na época, recebeu US$10 milhões em dinheiro, além de US$30 milhões em comissão. Além disso, ficou com uma participação acionária na empresa.



(PF prende 24 pessoas por lavagem de dinheiro em SP e Santa Catarina, 21/06/2008, O Globo, p. 34, Adriana Baldissarelli*e Juliana Rangel)

Veja também a reportagem no Wall Street Journal que mostra a participação do Credit Suisse

Fonte: Blog Contabilidade Financeira

domingo, 3 de agosto de 2008

O biodiesel e os desafios da inovação

O lançamento do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) foi cercado de esperanças de que ele traria uma nova matriz de produção na área de energia, mais inclusiva do ponto de vista social e menos desgastante do ponto de vista ambiental. Mas não é bem assim.

Embora as origens do biodiesel remontem à invenção do motor com ignição por compressão, desenvolvido pelo engenheiro alemão Rudolf Christian Karl Diesel no final do século XIX, e a primeira patente tenha sido atribuída ao brasileiro Expedito Parente nos anos 1980, sua incorporação efetiva à agenda das políticas enérgicas brasileiras só ocorreu no final da década de 1990 e início dos anos 2000. Entre outras iniciativas que marcaram o redescobrimento do potencial do biodiesel destaca-se o Programa Brasileiro de Biocombustíveis (Probiodiesel) lançado em 2002 e coordenado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Os principais argumentos avançados na época para a implementação do programa eram: 1) a diminuição da dependência dos derivados do petróleo; 2) a criação de novos mercados para oleaginosas; 3) o crescimento da demanda global por combustíveis alternativos e 4) a redução das emissões de gás carbônico.

No entanto, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência no final de 2002, o Probiodiesel acabou reformulado para incorporar a questão da inclusão social, um dos pilares da estratégia do governo “Lula”. Esse aspecto era, em particular, associado à possibilidade de usar o óleo de mamona na produção de biodiesel, incentivando a geração de renda e emprego no Nordeste, já que a matéria-prima era apropriada às condições socioambientais da região. Para institucionalizar o programa, foi estabelecida, por meio de um decreto em dezembro de 2003, a Comissão Executiva Interministerial encarregada da implantação das ações direcionadas à produção e uso de biodiesel como fonte alternativa de energia. Durante o ano de 2004, foram realizados vários estudos técnicos que comprovaram a viabilidade do biodiesel, apoiando-se nas seguintes decisões: em setembro de 2004, o governo editou a Medida Provisória 214 definindo o biodiesel e delegando competências à Agência Nacional do Petróleo para a sua regulação; 2) no final de novembro, foi aprovado um programa de apoio financeiro aos investimentos em biodiesel pelo BNDES e 3) no dia 6 de dezembro de 2004, foi oficialmente lançado pelo presidente da República o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). Ao mesmo tempo, instituiu-se o Selo Combustível Social, concedido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) aos produtores de biodiesel que adquirissem matéria-prima dos agricultores familiares e lhes assegurassem assistência e capacitação técnica. Para incentivar a efetivação do selo, o PNPB institucionalizou uma redução das alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, com coeficientes diferenciados em função da matéria-prima (mamona, soja, dendê etc.), da região de produção e do tipo de fornecedor (agricultura familiar ou agronegócio). (Veja a Legislação do Biodiesel Brasileiro aqui)

Uma vez sancionada a Lei do Biodiesel, iniciou-se a fase de implementação do programa. Apesar das expectativas suscitadas pelo seu caráter inovador, havia um alto grau de incerteza quanto ao andamento efetivo dessa fase. Em primeiro lugar, não era trivial a incorporação numa mesma esfera de ação pública de atores sociais tão distantes do ponto de vista dos interesses, valores, rotinas e cultura organizacional, como, por exemplo, a Petrobras e os agricultores familiares, ainda que o programa tenha proporcionado incentivos para tornar essa articulação efetiva.

Em segundo lugar, os problemas encontrados nos suprimentos de óleo de mamona causavam incertezas. Procurando solucionar esses problemas, representantes do MDA passaram a intensificar seu trabalho junto com sindicatos e movimentos sociais no intuito de dar maiores informações sobre as regras contratuais, os padrões de produção industriais e as oportunidades de renda e trabalho proporcionadas pelo PNPB. Esperava-se que essas organizações pudessem servir como agentes de transmissão de informações e conhecimentos junto aos produtores e estabelecer um grau de confiança sem o qual a continuidade do projeto poderia estar comprometida. Além disso, o MDA criou uma linha de financiamento do Pronaf para estimular a produção de mamona. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o MCT, a partir da mobilização dos recursos proporcionados pela rede brasileira de biodiesel, intensificaram seu trabalho de mapeamento das rotas tecnológicas viáveis, buscando sobretudo opções para diversificar as fontes de matéria-prima. Esses esforços tiveram o mérito de mostrar que havia várias soluções possíveis, como o dendê e o girassol, e até mesmo inesperadas como o pinhão manso. A Petrobras, do seu lado, passou a incentivar pesquisas para elevar a produtividade e descobrir novos usos para a “torta” de mamona objetivando elevar a lucratividade do negócio, embora cogitasse mais fortemente o uso de outras oleaginosas para garantir o suprimento.

As diferentes iniciativas visavam garantir credibilidade e viabilidade ao PNPB. No entanto, para muitos, sejam eles críticos ou torcedores do programa, o primeiro teste realmente significativo era vinculado aos resultados dos leilões públicos de venda de biodiesel, promovidos pela ANP, cujo desenho tinha sido idealizado para servir de matriz institucional inicial ao desenvolvimento do mercado e da indústria de biodiesel no Brasil. No primeiro leilão foram adquiridos 70.000 m3 de biodiesel, sendo 54,3% deste à base de óleo de mamona e vendido pela Brasil Biodiesel. As demais oleaginosas foram soja (38,6%) e dendê (7,1%). Os leilões posteriores, no entanto, revelaram uma série de problemas, minando parte do entusiasmo inicial e mostrando a necessidade de realizar ajustes institucionais e organizacionais para manter vivas as aspirações originais do PNPB.

O volume de biodiesel negociado nos leilões, por exemplo, não tem apresentado crescimento regular e a entrega da produção negociada encontra-se incerta. Segundo a ANP, entre janeiro e junho de 2007 foram produzidos 122 milhões de litros de biodiesel. Ainda que represente uma expansão da oferta, o volume é 30% inferior ao que deveria ser entregue até junho de 2007, de acordo com os contratos firmados no segundo leilão de biodiesel. Além disso, quase todas as empresas produtoras de biodiesel estão com sua produção abaixo do que foi prometido e parte do volume produzido não está em conformidade com as normas de qualidade estabelecida pela ANP, obrigando sua devolução pelas distribuidoras.

Em teoria, numa situação em que os preços do biodiesel compensam tanto os custos de produção quanto aqueles derivados dos problemas de coordenação entre os atores envolvidos, os leilões da ANP representariam uma opção atraente para as empresas e as expectativas de lucros incentivariam maior disciplina entre os agentes da cadeia. No entanto, os preços negociados nos leilões mostraram trajetória de queda enquanto os preços internacionais das principais matérias-primas, a soja em particular, estão subindo. Por outro lado, os problemas organizativos da cadeia de biodiesel – como a assistência técnica deficiente, logística inadequada, falta de fiscalização, mercado informal crescente, insegurança contratual e conflitos com governos estaduais, etc. – dificultam a coordenação entre os atores envolvidos no programa.

Esses problemas e suas possíveis conseqüências sobre a credibilidade e legitimidade do PNPB estão levando o governo e as demais partes interessadas no desenvolvimento do biodiesel a rever seus objetivos, critérios e modos de operar. Uma primeira linha de ação é a reafirmação do compromisso do governo federal com o desenvolvimento do biodiesel como parte da matriz energética de longo prazo. Em recentes viagens ao exterior, por exemplo, o presidente destacou que o biodiesel brasileiro é uma “semente que certamente vai dar muito fruto”.

A busca da maior integração entre os órgãos públicos, assim como entre os diversos atores da cadeia, representa um outro conjunto de ação relacionado com os ajustes necessários para manter o PNPB operacional. Uma iniciativa nessa direção foi empreendida para reunir, em Brasília, no dia 13 de junho de 2007, representantes da recém-criada União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio) e o ministro do MDA, Guilherme Cassel. Para o governo, a criação da entidade é um elemento que pode proporcionar maior colaboração e facilitar a comunicação com os produtores de biodiesel. Essa busca por maior integração organizacional marcou, também a II Reunião do Selo Combustível Social que ocorreu em Brasília e reuniu representantes das empresas produtoras de biodiesel e da Petrobras, do Governo Federal, das instituições de apoio ao PNPB, como agentes financeiros e instituições de pesquisa, dos movimentos sociais e sindicais, das equipes técnicas e de supervisão dos Projetos Pólos Centro-sul e Nordeste e da equipe da Secretaria de Agricultura Familiar do MDA.

A esses esforços organizativos soma-se uma revisão do mix de matéria-prima capaz de sustentar o desenvolvimento do programa. Com efeito, visto que os preços dos dois principais componentes do biodiesel, soja e mamona, colocam em xeque a viabilidade do programa, seja porque o preço da soja aumenta, seja em função do dos preços pagos pelas indústrias químicas e cosméticas pelo óleo de mamona, o alargamento da oferta se torna uma questão estratégica. Não por acaso, vêm se multiplicando estudos sobre o potencial energético do pinhão manso ou do dendê, considerada a matéria-prima mais viável para a produção de biodiesel, com rendimento de até 6 mil litros por hectare.

Do ponto de vista da dinâmica institucional, o lançamento do PNPB é interessante por vários motivos. Em primeiro lugar, destaca-se o grande número de organizações e instituições envolvidas na formulação do programa. De fato, além de 13 ministérios e várias estatais, participaram direta e indiretamente um conjunto heterogêneo de deputados e senadores, diversos institutos de pesquisa e centros tecnológicos, algumas associações empresariais e sindicatos. Essa formatação organizacional e institucional aponta para a complexidade dos valores e interesses em jogo na formulação de políticas públicas, tornando a identificação das causas e efeitos do processo de decisão um exercício bastante difícil. No mesmo sentido, a multiplicidade dos modos de coordenação, tanto em níveis interindividuais como interorganizacionais, implica o reconhecimento da diversidade de lógicas de ação, às quais recorrem os policy makers, e da complexidade das formas de governança da ação pública. Em segundo lugar, o PNPB, com seu foco na inclusão social, sua expectativa de crescentemente substituir as importações de diesel mineral e sua ambição de proporcionar um novo modelo de gestão do desenvolvimento agrário e energético, representa uma iniciativa corajosa e inovadora. No entanto, como toda inovação que modifica os parâmetros institucionais e organizacionais da implementação das políticas públicas, tradicionalmente setoriais, o PNPB requer ajustes, comprometimento e aprendizagem por parte dos atores envolvidos. Por fim, cabe assinalar que uma melhor compreensão desses processos demanda novas pesquisas e análises no assunto.

Georges Flexor é professor adjunto do Instituto Multidisciplinar IM/UFRRJ e pesquisador do Observatório de Políticas Públicas para a Agricultura OPPA/CPDA.

Fonte:

Do Blog ISES do Brasil