quinta-feira, 9 de julho de 2009

Biodiesel e etanol: combustíveis ecológicos como alternativa

08/07/09 - Muito se tem falado sobre biodiesel e etanol, principalmente a importância em território brasileiro. Vale lembrar que o biodiesel é uma alternativa aos combustíveis derivados do petróleo, sendo que pode ser usado em carros e qualquer outro veículo com motor diesel. Fabricado a partir de fontes renováveis (girassol, soja, mamona), é um combustível que emite menos poluentes que o diesel.

Este biocombustível apresenta inúmeras vantagens, como pode ser conferido no quadro abaixo:

Vantagens na utilização do biodiesel

• É energia renovável. No Brasil há muitas terras cultiváveis que podem produzir uma enorme variedade de oleaginosas, principalmente nos solos menos produtivos, com um baixo custo de produção;

• O biodiesel é um ótimo lubrificante e pode aumentar a vida útil do motor;

• O biodiesel tem risco de explosão baixo. Ele precisa de uma fonte de calor acima de 150 graus Celsius para explodir;

• Tem fácil transporte e fácil armazenamento, devido ao seu menor risco de explosão;

• O uso como combustível proporciona ganho ambiental para todo o planeta, pois colabora para diminuir a poluição e o efeito estufa;

• A viabilidade do uso direto foi comprovada na avaliação dos componentes do motor, que não apresentou qualquer tipo de resíduo que comprometesse o desempenho;

• Para a utilização do biocombustível, não precisa de nenhuma adaptação em caminhões, tratores ou máquinas;

• O biodiesel é uma fonte limpa e renovável de energia que vai gerar emprego e renda para o campo, pois o país abriga o maior território tropical do planeta, com solos de alta qualidade que permitem uma agricultura auto-sustentável do plantio direto; topografia favorável à mecanização e é a nação mais rica em água doce do mundo, com clima e tecnologia que permitem a produção de duas safras ao ano;

• Por outro lado, o diesel do petróleo é um combustível não-renovável. O petróleo leva milhões de anos para se formar;

• Substitui o diesel nos motores sem necessidade de ajustes;

• O produtor rural estará produzindo seu combustível;

• Diminuição da poluição atmosférica;

• Redução de custos na propriedade;

• No caso do biodiesel Eco Óleo o produtor não compra o biodiesel, a comercialização será por meio de permuta, ou seja: troca de mercadorias como, por exemplo, o produtor entrega o girassol e recebe o Eco Óleo. Será o uso cativo;

• O produtor estará fazendo rotação de culturas em sua propriedade, incorporando nutrientes na sua lavoura;

• O biodiesel é usado puro nos motores, porém aceita qualquer percentual de mistura com o diesel, pois é um produto miscível;

• Outra grande vantagem é que, na formação das sementes, o gás carbônico do ar é absorvido pela planta;

• O calor produzido por litro é quase igual ao do diesel;

• Pouca emissão de partículas de carvão. O biodiesel é um éster e, por isso, já tem dois átomos de oxigênio na molécula;

• Na queima do biodiesel, ocorre a combustão completa;

• É necessária uma quantidade de oxigênio menor que a do diesel;

• É uma fonte de energética renovável, a exemplo de todos os produtos originários do ciclo produtivo da agroindústria. Nesse ciclo, a energia que está armazenada nos vegetais, no caso o grão da soja, é transformada em combustível e depois da combustão uma parte destina-se à operação de um sistema como um motor, e outra retorna para a nova plantação na forma de CO2, o CO2 combinado com a energia solar realimenta o ciclo;

• Não são necessárias alterações na tecnologia (peças e componentes) e de regulagem. Apenas é preciso que o biodiesel tenha uma qualidade definida. Por ser um produto natural e biodegradável, surgem problemas de degradação natural. Ao utilizar biodiesel você estará utilizando qualidade;

• Os óleos vegetais usados na produção do biodiesel podem ser obtidos do girassol, nabo forrageiro, algodão, mamona, soja, canola… Qualquer oleaginosa;

• É constituído de carbono neutro. As plantas capturam todo o CO2 emitido pela queima do biodiesel e separam o CO2 em Carbono e Oxigênio, neutralizando suas emissões;

• Contribui ainda para a geração de empregos no setor primário, que no Brasil é de suma importância para o desenvolvimento social e prioridade de nosso atual governo. Com isso, segura o trabalhador no campo, reduzindo o inchaço das grandes cidades e favorecendo o ciclo da economia auto-sustentável essencial para a autonomia do país;

• Muito dinheiro é gasto para a pesquisa e prospecção do petróleo. O capital pode ter um fim social melhor para o país, visto que o biodiesel não requer esse tipo de investimento;

• Podemos prever claramente os efeitos positivos do biodiesel, analisando os benefícios da adição do etanol na gasolina. O etanol vem da indústria do álcool, uma indústria forte e que faz circular um grande volume de capital, gera empregos e ainda gera dinheiro para o governo através dos impostos, ajudando a reduzir o déficit público;

• A maior parte dos veículos da indústria de transporte e da agricultura usam atualmente o diesel. O biodiesel é uma alternativa econômica, tendo a vantagem de ser confiável, renovável e fortalecer a economia do país gerando mais empregos;

• Como combustível já é uma realidade em expansão;

• Beneficia os agricultores e contribui para o crescimento econômico dos municípios, pois reduz a exportação de divisas e permite a redução de custo desse insumo;

• Preservar o interesse nacional;

• Promover o desenvolvimento, ampliar o mercado de trabalho e valorizar os recursos energéticos;

• Proteger os interesses do consumidor quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos;

• Proteger o meio ambiente e promover a conservação de energia;

• Utilizar fontes alternativas de energia, mediante o aproveitamento econômico dos insumos disponíveis e das tecnologias aplicáveis;

• Redução da emissão de poluentes locais com melhorias na qualidade de vida e da saúde pública;

• Possibilidade de utilização dos créditos de carbono vinculados ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo decorrentes do Protocolo de Kioto;

• Sedimentação da tecnologia de produção agrícola e industrial;

• Lubricidade otimizada;

• Número de cetano mínimo 51;

• Sem a presença de aromáticos (benzeno);

• Estável e com boa atividade;

• Ajuda na eficiência de catalisadores;

• Tecnologia atual permite aos veículos Diesel atender a norma EURO III, dispositivos de retenção de particulados - filtros regenerativos (com B100 poderão operar melhor pela ausência de enxofre e material particulado);

• Melhora o número de cetano (melhoria no desempenho da ignição) e lubricidade (redução de desgaste, especialmente do sistema de ignição);

• Ampliação da vida útil do catalisador do sistema de escapamento de automóveis;

• O biodiesel é uma alternativa tecnicamente viável para o diesel mineral, mas seu custo hoje, de 1,5 a 3 vezes maior, o torna não competitivo, se externalidades positivas, como meio ambiente local, clima global, geração e manutenção de emprego, balanço de pagamentos não forem consideradas. Esses custos já consideram todos os créditos por subprodutos (uso da torta residual; glicerina). Não são previstas possibilidades de reduções significativas no custo de produção, para os óleos vegetais usados na Europa para biodiesel. Trata-se de processos agrícolas e industriais muito conhecidos, “maduros” e eficientes. O custo de referência, de diesel mineral, sem impostos, utilizado nesta análise é de US$ 0.22/ litro.

Desvantagens:

• Os grandes volumes de glicerina previstos (subproduto) só poderão ter mercado a preços muito inferiores aos atuais; todo o mercado de óleo-químicos poderá ser afetado. Não há uma visão clara sobre os possíveis impactos potenciais desta oferta de glicerina.

• No Brasil e na Ásia, lavouras de soja e dendê, cujos óleos são fontes potencialmente importantes de biodiesel, estão invadindo florestas tropicais, importantes bolsões de biodiversidade. Embora, aqui no Brasil, essas lovouras não tenham o objetivo de serem usadas para biodiesel, essa preocupação deve ser considerada.

Biodiesel no Brasil

No Brasil, existe uma lei (Lei nº 11.097, de 13/01/2005) que prevê quem no ano 2013 todos os veículos de transporte de cargas do Brasil serão obrigados a usar o combustível conhecido como B5, ou seja, uma composição de 95% de óleo diesel e 5% de biodiesel. Para essa adequação, as mudanças serão paulatinas. Nos primeiros três anos, a proporção de biodiesel no óleo diesel será de 2% em caráter experimental, sendo gradualmente ampliada até a obrigação do uso, em 5%. Essas projeções fazem parte do Programa Nacional de Biodiesel, que surgiu junto com a lei.

Em território brasileiro o que não falta é matéria-prima para o biodiesel. As regiões mais quentes do País são propícias para o cultivo de mamona, dendê (palma), babaçu, amendoim, pinhão manso, girassol, algodão e soja. Todos esses frutos podem ser transformados em biodiesel. Entre as plantas cultivadas no Brasil, o dendê e o pinhão-manso têm a melhor produtividade de óleo por hectare. O dendê (também conhecido como palma) produz de 3 a 6 toneladas de óleo por hectare cultivado. O Pinhão Manso, 1 a 6 toneladas de óleo por hectare. As duas plantas, junto com a Mamona (cuja produtividade é de 0,5 a 0,9 t/ha) , são as principais vedetes do programa.

Uma vantagem benéfica para o Brasil é que o biodiesel pode ser uma alternativa para diminuir a dependência brasileira do óleo diesel, já que o País importa cerca de 10% de todo o óleo que consome, o que custa US$ 800 milhões ao ano. E o óleo diesel, usado tanto em caminhões como em carros de passeio, é o combustível mais consumido no País, registrando 56% do mercado.

O etanol

Quimicamente, o etanol (álcool etílico) é o mais comum dos alcoóis e caracteriza-se por ser um composto orgânico (CH3CH2OH), obtido por meio da fermentação de amido e outros açúcares, como a sacarose existente na cana-de-açúcar, nos açúcares da uva e cevada e também mediante processos sintéticos. O álcool etílico é utilizado como combustível desde o nascimento dos automóveis, na tentativa de adaptar os motores recém inventados para a sua utilização. Desde então, o uso do etanol em veículos automotores tem sido um considerável avanço. O álcool é menos inflamável e menos tóxico que a gasolina e o diesel. Ele pode ser produzido a partir de biomassa (resíduos agrícolas e florestais). No Brasil, ele é gerado principalmente da cana-de-açúcar. Nos Estados Unidos, o milho é o mais usado.

No Brasil, estima-se que, em 2012, as áreas de cultivo de cana-de-açúcar atinjam a marca de 9 milhões de hectares e que a produção de etanol seja de 25 bilhões de litros, obtidas de mais de 600 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Para 2030, a produção de etanol deverá atingir a impressionante marca de 67 bilhões de litros. Espera-se que com a biotecnologia e o desenvolvimento recente do genoma da cana-de-açúcar, o país solidifique o etanol como o biocombustível apropriado e sustentável para substituir mundialmente o petróleo.

Ribeirão Preto, capital mundial do etanol

O tema dos biocombustíveis em competições automotivas se tornou constante em Ribeirão Preto depois que os organizadores da Fórmula Indy colocaram a cidade como uma das candidatas para sediar uma das etapas da competição. O combustível utilizado na Fórmula Indy é o etanol.

Em abril, convidada pelo diretor da Fórmula Indy, Terry Angstadt, Darcy Vera, prefeita de Ribeirão Preto, assistiu como convidada de honra a Indy Racing League, em Long Beach, Califórnia, onde assinou o protocolo de intenções para que Ribeirão Preto sedie uma etapa do campeonato de Fórmula Indy.

Na oportunidade, ela salientou a sua determinação em tornar Ribeirão Preto, não como a capital do agronegócio, mas também como capital mundial do etanol.

As chances de a cidade conseguir a etapa da Indy são grandes, devido a sua importância econômica para o mundo.


Fonte: Revista Ecoturismo

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O que são os Leilões feitos pela ANP?

Os Leilões são um compromisso de compra futura, com preços estabelecidos e datas de entregas fixadas.

Assim os participantes, desde já poderá participar dos leilões realizando suas vendas futuras, bem como produzir sabendo que para a quantidade comercializada nos leilões existe um preço pré-estabelecido. É uma segurança para aqueles que querem atuar neste mercado ainda em formação. Para atingir tal objetivo o empreendedor deverá, além de todos os requisitos estabelecidos pela ANP, possuir o cadastro do selo social, emitido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Leilões da ANP

quinta-feira, 26 de março de 2009

ENTREVISTA-Brasil deve ver expansão de óleo de palma em breve

KUALA LUMPUR - O Brasil, que importou óleo de palma pela primeira vez em 2008, pode ver uma rápida expansão das lavouras de palma nos próximos anos, já que a crescente demanda por biodiesel deve atrair mais investimentos.

Várias empresas, incluindo algumas refinarias de petróleo, estão de olho no setor de palma no Brasil, apesar da recessão global, já que a taxa de mistura de biodiesel no diesel deve ser elevada neste ano, disse um produtor na quarta-feira.

"Até agora não vimos recessão. É claro que os preços estão mais baixos, mas a demanda continua forte no Brasil", disse Marcello Brito, diretor da Agropalma.

"Os produtores de palma não podem reclamar dos mercados. No momento, alguns dos produtores estão importando mais volumes da Ásia para atender a suas necessidades".

Em meio à contração global, o óleo de palma perdeu 56 por cento de seu valor desde que atingiu o seu pico na Malásia em março.

Brito afirmou que a situação da demanda no Brasil é diferente, já que o país precisaria anualmente de 1,7 milhão de toneladas de óleo vegetal para fazer biodiesel.

"Nós já temos uma indústria de álcool bem forte. No momento a mistura obrigatória de biodiesel é B3 (3 por cento) e em julho ou agosto teremos B4", disse ele à Reuters no intervalo de um seminário. "É por isso que o biodiesel é o motor para novos desenvolvimentos para as lavouras de palma".

Segundo o governo brasileiro, em 2013 a mistura deve atingir 5 por cento, sendo que este percentual pode ser antecipado.

Brito afirmou que algumas grandes petrolíferas estão planejando investir em óleo de palma, mas ele se recusou a identificá-las.

"Alguns investimentos virão, acreditamos que esses investimentos virão da indústria de petróleo".

Apesar de 70 por cento do biodiesel brasileiro vir do óleo de soja, isso deve mudar já que o de palma é uma alternativa mais barata. Um hectare de palma pode produzir 5 a 6 toneladas de óleo, contra 400 a 500 quilos de óleo de soja.

"No futuro, o principal óleo para o biodiesel será o de palma, mas isso vai levar tempo", disse ele. "O óleo de soja tem uma produtividade menor por hectare e não é sustentável para a produção de biodiesel já que é preciso muita área para isso".

A expectativa é de que a produção de óleo de palma do Brasil em 2009 suba mais de 20 por cento, para 230 mil toneladas, já que mais áreas plantadas ficarão maduras, disse Brito.

Fonte:

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

As energias do Brasil

Os choques do petróleo de 1973 e 1979 inseriram o planejamento energético no centro da política dos Estados nacionais. No Brasil, foi o tempo da ida da Petrobras para o mar em busca de óleo offshore e do programa do álcool, ambos bem-sucedidos. A queda do preço do barril na segunda metade da década de 1980 retirou a energia do cenário político. Na década de 1990, a doutrina neoliberal dominante se opôs ao papel do Estado na energia, reduzindo-a à dimensão econômica de mercado. O petróleo teve o preço baixo garantido pelo poder americano após o colapso soviético, minimizando as turbulências nas áreas produtoras, como o Oriente Médio. O barril chegou a 10 dólares no fim do século XX, e quem previsse seu aumento era renegado pelo mainstream da economia.

O gás natural, um produto em parte associado ao petróleo, também teve seu preço garantido por contratos. A expansão da energia elétrica foi assegurada pelas privatizações, que a integraram como um bom negócio na economia globalizada, atraindo as grandes empresas transnacionais. Restou ao Estado o papel regulador para dirimir conflitos de interesses.

A desregulamentação da energia foi apenas uma parte do processo de liberalização da economia sob a globalização financeira, cujo resultado, contingente ou necessário, foi a crise mundial de 2008. No caso da energia, somou-se à crise ambiental, com o efeito estufa, outro grande problema político, pois se trata de escolhas da sociedade que não cabe às empresas fazerem sozinhas.

O preço do barril de petróleo subiu de 10 dólares até mais de 20 dólares na virada do milênio. Em 2007, chegou a mais de 70 e, em julho de 2008 alcançou 147 dólares, caindo a seguir para menos de 50 dólares. O gás natural, por sua vez, ocasionou anteriormente problemas entre a Rússia e a Europa e entre a Argentina e o Chile, tanto quanto ou mais do que o ocorrido entre a Bolívia e o Brasil. Na energia elétrica, houve colapsos que desligaram centros urbanos por muitas horas no Brasil e nos Estados Unidos, bem como racionamentos sérios em 2001, por muitos meses ou por todo o ano, aqui e na Califórnia.

A energia voltou a ser uma questão política no mundo. No Brasil, a retomada do desenvolvimento implica dar atenção ao tema. A política do petróleo deve ser integrada em uma política de combustíveis, por sua vez enquadrada dentro de uma política energética, envolvendo também a energia elétrica, na qual se inclui a geração termoelétrica, e as fontes renováveis de energia. Isso ainda deverá ser feito. O Brasil utiliza combustíveis da biomassa renováveis – o álcool, o bagaço de cana, a lenha e o carvão vegetal – e expande o biodiesel, ao passo que, no mundo, os combustíveis usados em grande escala são de origem fóssil, como o carvão mineral, os derivados de petróleo e o gás natural. O consumo do carvão mineral, cujas reservas mundiais são grandes, mantém-se alto em nível, apesar de seu impacto nas emissões de gases de efeito estufa. No Brasil, o consumo é restrito ao coque importado, além de algumas termoelétricas no Sul.

Os efeitos do pré-sal
As projeções das reservas de petróleo não apresentam um encurtamento tão drástico do tempo de vida, como alguns autores previram, tampouco esse tempo é muito longo. Considerando o petróleo convencional, inclusive a recuperação terciária do restante deixado nos poços já explorados, as reservas entrarão em declínio em poucas décadas. Caso se inclua o petróleo não convencional, como os óleos pesados venezuelanos, os de águas extremamente profundas e o xisto betuminoso, o prazo se dilata relativamente. O gás natural, por sua vez, tem reservas para um tempo maior do que o petróleo convencional. Embora haja muitas incertezas, a tendência futura é de preço alto do petróleo, ainda que não deva permanecer na faixa recentemente atingida. Contribui para esse aumento o forte crescimento da demanda da China.

Isso sugere a necessidade de um critério para uso das reservas brasileiras, além da auto-suficiência que se configurou nos últimos anos, graças ao êxito da Petrobras. Elas não eram muito grandes em termos mundiais, o que torna questionável a exportação de petróleo, além daquele para compensar a importação de derivados e petróleo leve para o blend com o óleo pesado nacional no refino. A descoberta do petróleo no pré-sal muda essa situação? Até que ponto? Essas perguntas têm de ser respondidas.

As descobertas do poço de Tupi e, sucessivamente, da área petrolífera do pré-sal sob o mar, ao longo do litoral do Espírito Santo a Santa Catarina, revolucionou a situação do petróleo no País. Não é adequado aos interesses nacionais simplesmente fazer leilões periódicos de blocos para a exploração do petróleo. Concorrem nos leilões grandes empresas estrangeiras – ou, raramente, empresas privadas nacionais – e a Petrobras.

As descobertas têm base no acúmulo de conhecimento da Petrobras sobre a geologia das áreas promissoras. Os defensores da mudança do regime do monopólio constitucional do petróleo, no governo Fernando Henrique Cardoso, argumentavam que as empresas mundiais viriam liderar o setor petrolífero no Brasil. Entretanto, a Petrobras se consolidou. É a líder mundial na exploração em águas profundas no mar. Seus competidores preferem em muitos casos se associar a ela em parcerias.

A descoberta no pré-sal gerou a expectativa de acrescentar às reservas nacionais de 14 bilhões de barris outros 30 bilhões ou 80 bilhões. A diferença das estimativas estabelecerá a distinção entre uma posição confortável para atender ao crescimento e à demanda interna e a posição de se tornar um exportador de petróleo.

O Brasil adotou, com a reforma constitucional realizada há dez anos, o sistema de concessões, mas há outras opções, como o sistema contratual com partilha da produção ou prestação de serviços. Nas concessões, o petróleo extraído pertence à empresa petrolífera, que paga taxas, royalties e participações especiais ao governo. Países ricos como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Noruega adotam esse sistema, também utilizado por algumas nações em desenvolvimento. Entretanto, outros emergentes utilizam o sistema contratual, como a China, a Índia e, na América do Sul, a Venezuela. Também a Rússia usa esse sistema. O petróleo produzido não pertence à empresa petrolífera. No contrato de partilha, é repartido entre ela e o país. No contrato de prestação de serviços, em vez da partilha, há a remuneração do trabalho da empresa. Uma possibilidade sugerida no debate é aumentar substancialmente as obrigações pagas pela empresa de petróleo, que chega, em alguns países, a até 80% da receita.

Outra possibilidade é a exploração ser feita pela empresa estatal, o que ocorre, com freqüência, nos grandes produtores de petróleo. Como a Petrobras, embora controlada pela União, tem grande porcentual de suas ações vendido na Bolsa de Nova York e remete muito em dividendos ao exterior, foi posta em discussão a criação de uma empresa estatal responsável pela exploração do pré-sal. A tecnologia detida pela Petrobras, entretanto, teria de ser utilizada pela nova companhia. O petróleo de Tupi está a 6 mil metros de profundidade, abaixo de 2 mil metros de lâmina de água no mar. A exploração em tais condições é cara e exige investimentos importantes. Não há uma solução simples. Infelizmente, a crise mundial tirou a questão do petróleo da prioridade do governo, obstruindo o rico debate público que vinha sendo realizado.
Finalizo esta parte com duas questões. Primeiro: é conveniente para o Brasil apostar todas as cartas na produção de petróleo a ponto de se tornar um grande exportador em detrimento da diversificação da sua produção? Aqui se apresenta o problema da doença holandesa na teoria econômica. A Noruega foi bem-sucedida, mas é um país pequeno que já tinha seus problemas sociais equacionados quando as reservas do Mar do Norte foram descobertas. Segundo: qual o efeito da crise nos investimentos no pré-sal, com a queda do preço do petróleo?

Do problema do gás à questão com o Paraguai
O gás natural tem sido objeto de debate, com destaque para a necessidade de definir melhor sua participação na geração elétrica, inclusive na distribuída fora das redes, bem como para injetar o excedente de energia na rede elétrica como uma usina virtual distribuída. De outro lado, ampliou-se o uso nos veículos, na indústria e nas residências. Esses pontos se relacionam ao problema das relações com a Bolívia após a nacionalização das reservas. No setor elétrico, o novo modelo avançou em relação ao anterior, voltado para a privatização. A criação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para o planejamento do setor foi importante.

Entretanto, há pontos ainda polêmicos que carecem de debate. Muitas das questões dizem respeito à transição malfeita do antigo para o novo modelo, em decorrência da herança deixada por um processo de privatizações malsucedido e, em particular, pelas seqüelas do racionamento de 2001.

Entre esses pontos, destacam-se: a energia hidrelétrica mais barata está sendo substituída por energia termoelétrica mais cara, o cancelamento dos contratos iniciais das geradoras elétricas federais, determinado pelo governo, que manteve a regulamentação anterior voltada para a privatização, e a manutenção de contratos de termoelétricas onerosos ao consumidor.

No fim de 2006 e 2007, cresceu a preocupação a respeito de um novo apagão. Mas a situação foi diferente da ocorrida em 2001. As chuvas foram favoráveis. Os reservatórios de hidrelétricas tinham níveis em média acima da curva de aversão ao risco, definida como limite a ser evitado. Se as chuvas não forem favoráveis no futuro próximo, com a economia crescendo significativamente, pode haver um risco de racionamento maior que o desejável.

As termoelétricas devem dispor de gás. A Petrobras remanejou o produto de outros usuários para operar as termoelétricas. Tudo isso revela que há problemas no novo modelo a serem corrigidos. Por exemplo, há os consumidores livres, que compraram a energia hidrelétrica barata. As grandes indústrias intensivas absorvem 30% da energia elétrica do País, fora do sistema atendido pelas concessionárias com tarifas altas.

Uma termoelétrica operará em complementação às hidrelétricas, pois não faz sentido verter água enquanto se queima gás, fóssil e importado. Nos contratos usuais, paga-se pelo uso de gás sem interrupção. Foi uma atitude positiva a Petrobras ter começado a importação de gás natural liquefeito por navios, pois pode ser interrompida conforme a necessidade. As termoelétricas estão sendo introduzidas sem considerar o sistema hidrelétrico brasileiro.

Os leilões de energia levaram as termoelétricas a carvão e a diesel, caras e poluentes, emitindo mais gases de efeito estufa. O governo deve dar mais atenção às fontes renováveis, entre elas a geração hidrelétrica, embora deva reconhecer seus problemas ambientais, incluindo emissões de metano.

Quando presidi a Eletrobrás, a empresa assumiu o compromisso de comprar energia de usinas eólicas e de biomassa e de pequenas hidrelétricas do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), totalizando 3,3 GW, e foram feitos investimentos na duplicação de Tucuruí, nas duas novas turbinas de Itaipu e na hidrelétrica de Peixe Angical, em parceria de Furnas com a empresa EDP. Além do projeto do rio Madeira, foi muito reduzida a área inundada no projeto de Belo Monte. Mas concordo que as regras ambientais têm de ser obedecidas. Cabe ao governo convencer a sociedade da qualidade dos projetos.

E discordo da substituição de futuras hidrelétricas por reatores nucleares, como se cogita. Caberia ao Grupo Eletrobrás um papel maior, e a gestão das suas empresas deveria ser realizada por um conselho formado por seus presidentes. Além disso, tais empresas deveriam ser retiradas da partilha dos partidos da base parlamentar.

Passando ao outro desafio, o presidente do Paraguai quer a revisão do acordo de Itaipu. A usina binacional tem dívida de 19 bilhões de dólares com a Eletrobrás e com o Tesouro brasileiro, pois foi o Brasil que construiu a usina e obteve seu financiamento. Essa dívida é amortizada pela tarifa paga pelos consumidores, que, na maioria, são brasileiros.

Metade da energia gerada por Itaipu pertence ao Brasil e metade ao Paraguai, que consome cerca de 5% do que lhe cabe. Pelo acordo, a Eletrobrás compra os restantes 95%, pagando um valor que, por muitos anos, era alto. Uma cota compulsória da energia de Itaipu teve de ser estabelecida no governo Ernesto Geisel para empresas elétricas brasileiras. Hoje não é mais cara, comparativamente, pois a energia elétrica gerada no Brasil encareceu desde as privatizações. O que se paga pela energia de Itaipu (US$ 42/MWh) é da ordem de grandeza do preço previsto da geração pela hidrelétrica de Santo Antônio, a ser construída no rio Madeira (R$ 78/MWh).

Deve-se ter em conta na negociação que, desde a primeira eleição de Lula, algumas concessões foram feitas beneficiando o Paraguai. Na transição, em dezembro de 2002, foi reduzida a quantidade de energia de Itaipu contratada pela Ande, estatal elétrica paraguaia. Com isso, o Paraguai foi favorecido em cerca de 80 milhões de dólares anuais que deixam de ser pagos pela Ande a Itaipu. A taxa de cessão de energia subiu de US$ 1,70/MWh para US$ 2,80/MWh, dando mais 25 milhões de dólares anuais. Finalmente, foi retirado o fator de ajuste da dívida pela inflação americana.

O que não deverá ser admitido na negociação é que a parte da energia de Itaipu pertencente ao Paraguai possa ser colocada no mercado para a Argentina e o Chile, perdendo o Brasil o direito de dispor dela por meio da Eletrobrás. Itaipu supre cerca de 19% da energia elétrica do País. O Itamaraty deve chegar a um bom termo na negociação, como fez no caso do gás natural boliviano.

Biocombustíveis, alimentos e desmatamento
Intensificou-se o debate internacional sobre os biocombustíveis, acusados de contribuir ora para a alta de preços dos alimentos, ora para o desmatamento da Amazônia. Há grandes interesses em jogo, como em tudo o que diz respeito à energia. O presidente da República tem defendido o álcool produzido no Brasil em conferências internacionais.

A vantagem dos biocombustíveis, como o álcool, é que, no crescimento do vegetal, ele absorve da atmosfera o CO2 emitido na combustão do álcool nos carros. Do ponto de vista do aquecimento global, em virtude das emissões de gases que agravam o efeito estufa – como o CO2 produzido na queima de carvão, derivados do petróleo e gás natural –, o álcool de milho pouco adianta como substituto da gasolina. Para se ter uma idéia, a redução das emissões de CO2 é de apenas 20%. Já a cana dispõe de um excedente de biomassa sob a forma de bagaço que é utilizado na produção do álcool. A proporção é invertida: a redução das emissões chega a 80%. E pode ser ainda maior, caso se passe a usar álcool com aditivo ou biodiesel nos tratores e caminhões usados na colheita.

O álcool de milho nos Estados Unidos é subsidiado e, diferentemente do brasileiro, feito de cana, afeta o preço do cereal e reflete em outros alimentos. Ademais, a captura de CO2 do ar no crescimento da cana iguala aproximadamente a sua emissão na produção e no consumo do álcool. Logo, é efetiva para evitar emissões de gases que contribuem para o aquecimento global ao substituir a gasolina.

Em segundo lugar, a disponibilidade de biomassa pode aumentar, ao se evitar a queima das folhagens em virtude da utilização crescente da mecanização na colheita da cana. Isso traz a vantagem de abolir o trabalho árduo dos bóias-frias e, ao mesmo tempo, a desvantagem de reduzir empregos. O excedente de bagaço e as folhagens podem servir para gerar eletricidade para a rede, com substituição do gás natural e de outros combustíveis, até carvão e diesel, que infelizmente vêm tomando o lugar da hidreletricidade na expansão da geração elétrica.

Dois outros pontos favoráveis ao álcool de cana são o menor custo e o menor uso da terra, por conta de sua maior produtividade em litros por hectare, em relação ao álcool de milho. Finalmente, o milho para o álcool nos Estados Unidos acaba por competir com a produção de alimentos, em virtude da área plantada, dos subsídios e do fato de o próprio milho ser um importante item utilizado na alimentação humana e de animais.

A cana, por sua vez, ocupa no Brasil somente 7 milhões de hectares, dos quais 3 milhões são destinados para o açúcar e 4 milhões ao álcool. Já a soja, em grande parte para exportação, ocupa 23 milhões de hectares (Mha). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), temos 152 Mha de área agricultável, da qual só utilizamos 62 Mha, e há 177 Mha de pastagens. Excluídos os 440 Mha de florestas nativas, dispõe-se de 90 Mha para expandir a agricultura sem desmatamento e sem considerar a conversão de pastagens degradadas.

O consumo de gasolina nos Estados Unidos é de 10 milhões de barris/dia. A expectativa é aumentar o porcentual de álcool para 20%, algo como 140 bilhões de litros de álcool por ano, considerando 1,3 litro de álcool para cada litro de gasolina. Poderá o Brasil suprir esse mercado? Como o Brasil produz 23 bilhões de barris por ano, teria de ocupar para o álcool uma área seis vezes maior, ou seja, 24 Mha, parte significativa da área agricultável não usada sem desmatar. Não levamos em conta o aumento de produtividade por hectare nem o aumento do consumo interno e outros mercados externos. Apenas uma parte da área disponível é adequada ao plantio da cana e é econômica e socialmente viável para os biocombustíveis, como álcool e biodiesel, ambos em crescimento no mercado interno. Até o momento, o biodiesel no Brasil vem sendo produzido a partir da soja, contrariamente à expectativa do governo. A soja para exportação tem pressionado o desmatamento da Amazônia.

Portanto, a expansão do álcool para o mercado interno não apresenta problema no uso da terra, mas o atendimento do mercado externo potencial necessitaria de área significativa. Devemos levar em conta, ainda, a expansão de culturas para alimentos. Fica a questão: é conveniente para o Brasil se tornar um grande exportador de energia?

A política de combustível do governo incluiu, agora, o biodiesel e deu ênfase ao álcool motor, cujo crescimento acentuou-se pelo uso de motores flexíveis, que permitem a mistura de álcool e gasolina, e pela alta do preço internacional do petróleo. Os motores flexíveis são adaptados e, quando se usa o álcool sem a gasolina, o rendimento cai. O consumo de álcool por quilômetro é maior do que poderia ser em carros a álcool puro, cuja taxa de compressão é aumentada para compensar o menor poder calorífico. Devem-se aperfeiçoar os motores flexíveis para superar essa perda de eficiência. No biodiesel, o problema é a diversidade de matérias-primas, que produzem óleos com características diferentes, alguns com problemas que estão sendo resolvidos. Não há problema na fase atual de adição de até 2% de biodiesel ao diesel. A mamona de pequenos produtores foi estimulada, mas cresceu o uso da soja. Um avanço importante paralelo ao biodiesel foi o uso de óleos vegetais no refino pela Petrobras (Hbio).

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