domingo, 20 de abril de 2008

Combustível do futuro

Pesquisadores da UnB apostam na facilidade de produção para a expansão do uso do biodiesel no país

“O motor diesel pode ser alimentado com óleos
vegetais e poderá ajudar consideravelmente o
desenvolvimento da agricultura nos países onde
ele funcionar. Isto parece um sonho do futuro,
mas eu posso predizer com inteira convicção que
esse modo de emprego do motor diesel pode,
num tempo dado, adquirir uma grande importância”
Rudolph Diesel


ANDRÉ AUGUSTO CASTRO
Editor Online da Assessoria de Comunicação

Quando criou o motor à diesel, no final do século XIX, Rudolph Diesel já previa que a máquina poderia, no futuro, usar óleos minerais como combustível, em substituição ao petróleo (não renovável e poluente). Visionário, não imaginava, no entanto, que a tecnologia para isso estaria disponível inclusive em uma rede mundial de computadores. Com os altos níveis de emissões de gases poluentes na atualidade, o biodiesel surge como alternativa de baixo impacto ambiental, fácil produção e, especialmente, no Brasil, fonte de energia renovável. O combustível foi o tema da sexta edição do Café com Ciência, promovido pelo Decanato de Pesquisa e Pós-graduação (DPP) da Universidade de Brasília (UnB). O encontro reuniu os professores Kleber Mundim, do Instituto de Química (IQ), e João Nildo de Souza Vianna, do Departamento de Engenharia Mecânica e do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da universidade na manhã de terça-feira, 28 de setembro, no auditório da Reitoria.

De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o Brasil importou, somente em 2004 (até agosto), 5.499.324 milhões de barris de óleo diesel e gastou US$ 216.055.660. As exportações ficaram em 355.628 barris, com lucro de US$ 13.665.708. Mundim e Vianna defendem o biodiesel como uma alternativa altamente viável e estratégica para o país. A fabricação seria uma forma de diminuir essa dependência internacional. No entanto, apontam, o custo de produção do biodiesel é cerca de R$ 0,48 mais cara que a do diesel proveniente do petróleo. “O fato de ser uma tecnologia simples reduz os custos de transporte para regiões distantes, como a Amazônia, e isso pode se transformar em uma ferramenta muito útil”, explica Mundim.

DE ONDE VEM O BIODISEL?
Geralmente de óleos vegetais. Para se ter uma idéia, pode ser obtido a partir das seguintes plantas: mamona, babaçu, cotieira, indaiá, pinhão-manso, buriti, tingui, pupunha, dendê, algodão, piqui, amendoim e soja. Já que o Brasil é um dos principais exportadores mundiais de soja e, por ano, produz 3.770.000 toneladas de óleo a partir da semente (90,7% da produção nacional de óleos vegetais), tem grande potencial para essa produção.


MINIUSINAS - As pesquisas na UnB começaram há cerca de quatro anos por demanda do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) de transformar óleos vegetais em combustível. Mas o maior desenvolvimento se deu em diversas parcerias com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O Instituto de Química da universidade também trabalha em conjunto com outros departamentos como a Engenharia Mecânica (que desenvolve projeto para misturar, gradualmente, o biodiesel ao óleo diesel comum). “A Eletronorte chegou a nos procurar para a elaboração de miniusinas que possam atender a comunidades mais isoladas na região norte”, destacou Mundim.

A grande vantagem do biodiesel é a simplicidade em sua produção. Existem dois tipos de técnicas (veja quadro) que possibilitam o desenvolvimento desse combustível, sendo que alguns resultados assemelham-se bastante ao óleo obtido a partir do petróleo. Outro ponto positivo é o baixo impacto ambiental e a eliminação da emissão de gases poluentes como o enxofre. De acordo com o professor João Nildo de Souza Vianna, mais de 70% das emissões poluentes nas grandes cidades é decorrente da queima do óleo diesel convencional. “Isso tem impacto direto na saúde, qualidade de vida e sustentabilidade ambiental da sociedade”, explica.

COMO OBTER O BIODISEL?

Transesterificação – é reação química que mistura o óleo vegetal ao álcool de cana (tem o inconveniente de produzir muita glicerina como subproduto)

Craqueamento – é resultado de quebra molecular por processos térmicos e/ou catalíticos

IMPACTOS ESPERADOS

- uso alternativo de produtos agrícolas
- fonte de energia alternativa
- combustível isento de enxofre
- formação de pessoal especializado
- construção de miniusinas geradoras de energia elétrica no meio rural
- redução no custo de produção e transporte com a possibilidade de regionalização desses procedimentos

Vianna relata que, entre 1983 e 1985, veículos pesados experimentais rodaram 1,5 milhão de quilômetros pelo Brasil usando o biodiesel. A intenção era verificar, na prática, o desempenho do motor e descobriu-se que o rendimento era pouco menor do que o motor que usava diesel convencional. O professor acrescentou ainda que o programa Combustível Verde do Ministério de Minas e Energia procura alternativas ao uso do petróleo e a redução das importações. Tem como meta, entre outros tópicos, substituir o óleo diesel gradualmente e produzir, até 2010, 1,5 milhão de toneladas/ano de biodiesel, gerando 1,350 milhões de empregos.

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Café com Ciência

Diesel ecológico


Fontes:

Textos: UnB Agência.

Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência

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