sábado, 26 de maio de 2007

ÁLCOOL COMO “COMMODITY” INTERNACIONAL

A evolução da produção e uso dos combustíveis, em todo o mundo, veio seguindo a lógica da substituição das fontes então utilizadas por outras mais práticas e rentáveis (da lenha ao carvão; do carvão ao petróleo), até avançar na procura de caminhos onde o objetivo passou a ser a sustentabilidade do uso da energia. Essa síntese das fases, que ocorreu desde o século XVIII, explica o crescimento da produção e do uso do gás natural e, mais atualmente, a objetiva discussão e adoção das energias renováveis.

Na prática, apenas a partir da década de 70, século XX, é que a questão do desenvolvimento sustentável veio sendo tratada em reuniões internacionais. A associação entre o meio ambiente e o desenvolvimento, onde a produção e o uso de energia renovável tem importância fundamental, levou à valorização da biomassa para esse fim.

A experiência em larga escala da produção e uso do etanol no Brasil é, sem dúvida alguma, um exemplo que vem sendo seguido e debatido em países e em reuniões internacionais. A ação local, com impacto global em termos ambientais, faz do álcool um produto de extrema importância para a rápida resposta que o mundo deve dar às reduções de emissões dos gases do efeito estufa.

Devido as suas condições priveligiadas de solo e clima, o Brasil é o único país no mundo com grande capacidade de expandir sua produção de cana-de-açúcar e oleaginosas para a produção de agroenergia através da produção de Biocombustíveis em larga escala.

Por isso, além do foco ambiental, o etanol provoca em países como o Brasil, entre outros, impactos econômico-sociais de primeira grandeza, como a melhoria da renda rural, a reconhecida capacidade de distribuição desses efeitos na cadeia produtiva sucroalcooleira; geração de empregos em larga escala; redução de dependência externa de petróleo e melhoria da balança comercial.

Alguns pontos importantes referente ao setor sucroalcooleiro brasileiro:

a) Movimenta : R$ 40 bilhões/ano
b) Representa : 2,35 % do PIB nacional
c) Gera : 3,6 milhões de empregos(dir/ind)
d) Envolve : 72.000 agricultores
e) Produz : 17,8 bilhões de lts/álcool/ano
f) Exporta : 2,5 bilhões de lts/álcool/ano
g) Recolhe : R$ 12 bilhões em impostos e taxas
h) Investe R$ 4 bilhões/ano

A propagação da produção e do uso do etanol nos vários países é, de forma relevante, salutar caminho de desenvolvimento local e global. Alguns pontos são essenciais para a consolidação desse objetivo, valendo ressaltar a importância de se fazer, do álcool carburante, uma “commodity” ambiental internacional.

O Brasil, desde a década de 20, usa o álcool combustível. Com o Proálcool, implementado em escala comercial no final dos anos 70, foi pioneiro na efetiva substituição da gasolina em meio à crise dos preços do petróleo. Desde então, o álcool da cana é usado como combustível no País de duas maneiras: como álcool etílico hidratado carburante (AEHC), em carros 100% movidos a álcool, ou como álcool anidro (AEAC), em carros a gasolina, com adição média variando de 20% a 25% (Lei nº 8.723 / 93).

Considerado um programa bastante eficaz e de grande sucesso mundial foi, durante alguns anos, responsável por mais de 66,4% da produção interna total de automóveis (movidos a álcool etílico hidratado carburante). Isso garantiu ao País não só a produção em larga escala de etanol de biomassa como, também, a atuação de uma forma mais competitiva do que qualquer outro país no mercado mundial do açúcar, graças aos intensos investimentos em P&D.

Contudo, a sustentação dinâmica da oferta e o consumo brasileiro do álcool carburante viram-se sempre pressionados pela competição oscilante dos preços internacionais do petróleo e tendências de atratividade da “commodity” açúcar, o que exigia um complexo sistema de regulamentação para a garantia de sua estocagem e oferta. Nesse contexto, a desaceleração do programa nos anos 90 representou a significativa diminuição da frota de carros 100% a álcool e a desestabilização conjuntural do modelo.

Apesar da desaceleração do Proálcool durante os anos 90, a produção de etanol se manteve, graças à mistura do álcool etílico anidro carburante na gasolina, cujo crescimento compensou a queda no consumo de álcool hidratado. Os avanços tecnológicos continuaram e o Brasil detém, hoje, supremacia na geração e difusão de tecnologias da cadeia açúcar/álcool de cana. São crescentes os esforços em pesquisa e desenvolvimento tecnológico em todos os elos da cadeia (empresas privadas, universidades, institutos de pesquisa e governo).

Novas variedades de cana de açúcar - mais ricas em sacarose, mais resistentes a doenças - , adaptabilidade a solos, pesquisas para redução do custo de produção da cana, melhoramentos do processo de moer, fermentar e destilar aumentaram a eficiência do setor, ao mesmo tempo em que a introdução de um avançado sistema de usos alternativos dos subprodutos e derivados do processo produtivo tem contribuído para marcantes ganhos potenciais:

 dos resíduos, utilizam-se a vinhaça e o vinhoto como fertilizante. Existem ainda outros derivados: dextrana, xantan, sorbitol, glicerol, cera refinada de torta, antifúngicos, etc.;

 utilização do bagaço de cana hidrolisado para alimentação animal, fabricação de vários tipos de papéis, fármacos e produtos como o furfurol, de alta reatividade, para a síntese de compostos orgânicos, com grande número de aplicações na indústria química e farmacêutica;

 obtenção de plástico biodegradável via bagaço de cana; e

 co-geração de energia a partir do bagaço de cana (energia elétrica da biomassa), garantindo a energia consumida pela própria usina e obtendo excedente comercializável.

Todos esses avanços tecnológicos vêm permitindo que as usinas pratiquem custos mais baixos e operem com os melhores índices de produtividade do mundo na fabricação do açúcar e álcool.

Assim, a tecnologia da produção e uso da cana-de-açúcar é, hoje, totalmente dominada pela indústria brasileira e está apoiada por normas, regulamentos, especificações, “engineering” e “know-how” disponíveis aos países interessados na utilização dessa alternativa energética renovável e limpa. Vários projetos de consolidação, aperfeiçoamento e criação de novos usos derivados encontram-se em permanente pesquisa nos institutos, universidades e empresas.

À eficiência produtiva somam-se benefícios socioeconômicos e ambientais. O setor é responsável por grande geração de empregos: foram criados mais de 700.000 empregos rurais com modesto investimento (US$ 20.000/cada); e dados seus efeitos multiplicadores responde pela dinâmica econômica de várias regiões de alguns Estados brasileiros.

O balanço energético do setor também é extremamente favorável:

• cada unidade de energia utilizada para produzir álcool gera, no final, uma produção de energia de nove a onze vezes maior.

Melhor ainda é o balanço de CO2: medidas tecnicamente todas as emissões de CO2 para produzir os equipamentos e máquinas que irão ser usados na produção da cana e do álcool; mais as emissões do uso de insumos para produzir o açúcar e o álcool; mais as emissões da queima da cana ou de NO3, quando subtraídos do “seqüestro” do CO2 pela substituição da gasolina (pelo etanol) e do óleo combustível (pelo bagaço), tem-se, como resultado final, que o “sistema cana”, liquidamente, seqüestra 20% de todas as emissões de CO2 do setor petróleo e derivados no Brasil.

Algumas observações relevantes:
 Maior produtor mundial de cana-de-açúcar, álcool e açúcar;
 Detém, hoje, supremacia na geração e difusão de tecnologias da cadeia açúcar/álcool de cana;
 Vasta experiência no uso do etanol como combustível;
 Condições para ser um fornecedor competitivo e “confiável de etanol”;
 Maior exportador de açúcar e álcool;
 Maior consumidor de álcool no mercado Mundial;
 Mais de 25 mil postos, com álcool hidratado - abastece mais de 3 milhões de veículos, 20% da frota nacional;
 São crescentes os esforços em pesquisa e desenvolvimento tecnológico em todos os elos da cadeia (empresas privadas, universidades, institutos de pesquisa e governo).

O ÁLCOOL COMO UMA "COMMODITY" INTERNACIONAL
As exigências ambientais mundiais e as circunstâncias do mercado mundial de petróleo têm levado alguns países, com condições e tradição de produzir álcool, a procurarem no etanol uma fonte renovável de combustível, espelhando-se, principalmente, na bem sucedida experiência brasileira na produção e no uso desse combustível.

O álcool é um combustível com características adequadas para alimentar motores à combustão interna que funcionam segundo o Ciclo Otto. Esse tipo de motor tem seu início de queima (ignição) por centelha (faísca gerada na vela de ignição). Além do etanol, o metanol, a gasolina e o gás natural têm as mesmas características mencionadas. Entre os combustíveis líquidos citados, o etanol é o que melhor se mistura à gasolina.

Por sua vez, a geração de veículos com tecnologias mais novas exige uma gasolina com maior quantidade de oxigenados para poder cumprir as exigências das normas de emissões veiculares. O atendimento a essa exigência pode ser conseguido com grandes e caras modificações no processo de refino da gasolina, ou com a adição de substâncias oxigenadas, sendo o álcool etílico anidro carburante reconhecidamente a melhor opção.

As propriedades do etanol (como combustível) levaram ao desenvolvimento de motores a álcool e motores para a mistura álcool/gasolina no Brasil. Até 1988, esses motores foram desenvolvidos pela indústria automobilística (GM, Ford, Volkswagen, Fiat) para sistemas carburados. Atualmente, encontram-se disponíveis para todos os motores com sistemas de injeção eletrônica.

A introdução da mistura gasolina/álcool no Brasil teve um impacto positivo imediato na qualidade do ar das grandes cidades, particularmente em São Paulo. Inicialmente, aditivos (como o chumbo) tiveram seu uso reduzido à medida que a quantidade de álcool na gasolina aumentava e foram totalmente eliminados em 1991. Também os hidrocarbonetos aromáticos (tais como o benzeno), presentes na gasolina e que são particularmente tóxicos, foram eliminados e o conteúdo de enxofre da gasolina foi reduzido.

Nos automóveis movidos a etanol puro, a emissão de enxofre foi eliminada trazendo um dividendo duplo. Sem essas ações, carros equipados com catalisadores teriam encontrado dificuldades. Devido ao alto nível de enxofre na gasolina brasileira, os catalisadores seriam contaminados rapidamente. Como conseqüência, o uso de etanol viabilizou de uma forma indireta a introdução dos catalisadores no Brasil.

Segundo o MME, com a utilização do álcool combustível, as emissões de monóxido de carbono foram drasticamente reduzidas. Foi evitada a emissão de 644 milhões de toneladas de CO2 até 2005. Uma Economia total acumulada de 1,194 bilhão de bep ou 23 meses de produção nacional de petróleo hoje.Portanto, muito mais do que as discussões sobre a finitude do petróleo, a política dos países produtores e os interesses corporativos do poderio da indústria do petróleo no mundo, o uso do álcool vem se colocando como fator decisivo na redefinição da matriz energética no âmbito da perspectiva econômica dos combustíveis renováveis e ambientalmente limpos.
A crescente importância do etanol na estrutura de produção e no consumo de combustíveis surge no cenário internacional, pois os efeitos ambientais decorrentes da queima de hidrocarbonetos fósseis vêm criando uma série de externalidades negativas, que ameaçam desestabilizar o meio ambiente, em face dos impactos do aquecimento do planeta, principalmente por essa queima.

Já existe uma mobilização para consolidar o álcool como primeira alternativa de combustível renovável limpo. Essa proposição encontra-se na ordem do dia em vários países, inclusive já contando com interesses e experiências do uso do álcool em mistura.

Para que o seu uso se faça em condições internacionais, é necessário não somente produzi-los - e ter a sua especificação para uso é fundamental -, como também ter os mecanismos de mercado para tanto. Isto é, é preciso haver mecanismos que assegurem a estabilidade de preços e a garantia de abastecimento. Dos vários países produtores, o Brasil foi o primeiro a ter uma Bolsa com contrato futuro do etanol (BM&F), que é condição essencial para que se tenha uma referência de preços, como ocorre entre outras “commodities” como o petróleo, gasolina, açúcar, etc.

Os contratos futuros de álcool combustível tiveram seu “début” em grande estilo na Nybot (New York Board of Trade), no dia 7 de maio de 2004. Uma caravana de produtores brasileiros participou do evento, passando o álcool a ter uma cotação diária. Os negócios nesta bolsa são do tipo álcool anidro desnaturado.
A Tabela 3 abaixo apresenta o consumo internacional de gasolina. A adição de apenas 10% de álcool anidro como oxigenado levaria a um consumo anual de 2,2 milhões de b/dia, ou 131 bilhões de litros/ano em um prazo de 10 anos (o Brasil e os EUA, juntos, consomem hoje 20 bilhões de litros/ano).

Os EUA anunciaram a intenção de adicionar 120 bilhões de litros de álcool em sua gasolina e que só pretendem produzir 30 bilhões, numero este baseado em estudos que mostram ser esta a quantidade de álcool possivel de ser produzido por eles sem afetar a sua produção de alimentos. Isso deixa uma margem de 90 bilhões de litros a serem importados por eles nos próximos anos.

INICIATIVAS DO SETOR PRIVADO DO GOVERNO BRASILEIRO PARA INCENTIVAR O USO DO ÁLCOOL CARBURANTE

I. Consolidação do uso do álcool carburante no mercado interno

O setor privado tem realizado maciços investimentos em atualização tecnológica nos processos de produção canavieira e na fabricação do álcool, e marcantes ganhos de eficiência no complexo da indústria sucroalcooleira a partir do uso da energia gerada pela queima do bagaço. É possível contar ainda com sólida estrutura empresarial na oferta de bens de capital para o setor e com o contínuo processo de aperfeiçoamento e desenvolvimento de novas máquinas e equipamentos.

Destaca-se ainda um amplo movimento de reestruturação competitiva das usinas com fusões, aquisições e formação de “joint ventures” com grupos estrangeiros e nacionais buscando, com isso, o fortalecimento e a consolidação de uma moderna estrutura empresarial usineira.

Em complemento ao esforço que vem sendo desenvolvido pelo setor privado, o governo vem atuando em três frentes que considera prioritárias para consolidar e ampliar o consumo potencial do etanol no mercado interno, iniciando a ampliação sustentada e abrangente do mercado internacional, sintetizadas em medidas de ampliação de consumo interno e garantia de abastecimento, cooperação internacional e identificação de oportunidades.

a) Instituição de medidas administrativas, ou legais, de preferência para aquisição de veículos a álcool, pelas diversas instâncias governamentais e por outros grupos especiais de consumidores, como os táxis. Essas medidas estão sendo conhecidas como estímulo à ampliação da "Frota Verde";

b) Lei 10.438, de 26 de abril de 2002, que criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfra), garantindo a compra, pelas concessionárias, da energia elétrica obtida da co-geração a partir do bagaço de cana;

c) Lei 4.353, de 30 de agosto de 2002, institui medidas que reforçam todo o processo de estocagem e aquisição de estoques reguladores do álcool combustível e os mecanismos de financiamento ao agronegócio sucroalcooleiro.

d) Classificação para efeito do IPI, dos veículos com combustível flexível (álcool hidratado x gasolina em qualquer proporção), como se fossem movidos a álcool hidratado.

II. Cooperação internacional

No caso da política de cooperação e compromissos internacionais, as providências situam-se no campo das negociações diplomáticas e dos acordos bilaterais. Nesse momento encontram-se em fase bem adiantada as seguintes iniciativas:

a) negociações de crédito carbono que se refere a certificados de emissão reduzida de CO2, que estão sendo comercializados no mercado internacional como resultado das perspectivas de ratificação e implementação do Protocolo de Quioto. Espera-se uma possível institucionalização dessa prática, por meio do "Mecanismo de Desenvolvimento Limpo" e da valorização desses certificados. O uso de álcool como fonte de energia é reconhecidamente elegível para utilização de créditos de carbono uma vez que o ciclo de produção e uso do álcool etílico pode ser considerado "neutro" em termo de emissões de CO2. Ou seja, o CO2 gerado em qualquer etapa do ciclo terá uma quantidade equivalente absorvida pela cana-de-açúcar durante o seu crescimento. Esse mecanismo já foi motivo de negociação, com o governo alemão envolvendo a aquisição, por aquele país, dos Certificados de Redução de Emissões relativos a uma expansão induzida da frota automotiva brasileira de veículos movido a álcool hidratado de 100.000 unidades/ano;

b) discussão, em âmbito internacional, da proposta brasileira de que até 2010 todos os países tenham 10% de sua geração energética obtida por meio de fontes renováveis, como a biomassa e a energia solar;
c) memorando de entendimento entre o Brasil e da Índia, referente à cooperação tecnológica na área de mistura de etanol em combustíveis para transportes. Essa cooperação tem por base as perspectivas de difusão tecnológica para incentivar a modernização do setor agrícola e industrial indiano, na produção e uso de energias renováveis derivadas do etanol, esforços conjuntos com vistas à abertura de mercado internacional;

d) cooperação com a China, buscando estreitar cooperação para o uso do etanol como combustível, em termos de produção e desenvolvimento tecnológico;

e) negociações com Cuba, para o fornecimento de tecnologias para produção do etanol, com vistas a transformar aquele país um forte parceiro no processo de construção do mercado internacional do etanol.

III. Potencial de crescimento do mercado internacional

Diferentes países contemplam a mistura do álcool à gasolina e ao diesel criando perspectivas amplamente favoráveis à expansão do mercado internacional:

a) a Índia e a Tailândia estudam a alternativa de misturar álcool à gasolina;

b) a Austrália pretende, de forma não obrigatória, permitir a adição de 2% a 10% de álcool na gasolina. Cabe observar que esse país ainda não produz álcool para fins carburantes, apesar de ser o segundo maior produtor de açúcar;

c) os EUA têm sua demanda de etanol em franco crescimento, à medida que as proibições sucedem na Califórnia e outros estados em relação ao oxigenante éter metílico butílico terciário (MTBE), segundo a Renewable Fuels Association. Com um consumo de 3 bilhões de litros/ano a partir de janeiro de 2003, na Califórnia, e mais 3 bilhões de litros na Costa Leste, num total de 6 bilhões de litros, equivalente à metade da produção brasileira;

d) o Japão aprovou lei, a ser regulamenta, que permite a mistura do álcool à gasolina e ao diesel, com perspectiva do uso de etanol em termoeléctricas;

e) a China tem interesse na utilização do álcool etílico anídrico carburante como substituto do aditivo antidetonante na gasolina. Há indícios de alteração na matriz de produção de álcool chinesa, atualmente baseada na produção de cereais, para cana-de-açúcar, ou outros insumos menos onerosos do que o milho, sendo ainda o 3° maior produtor, com 3,1 bilhões de litros de álcool/ano.

Embora seja impossível predizer o tamanho e a velocidade de crescimento da demanda internacional por álcool combustível no futuro próximo, é possível avaliar, com base em números relativos, o aproveitamento potencial de expansão do uso do álcool que requer esforços contínuos de reorganização da produção e a instituição de mecanismos eficazes de regulação. O modelo de regulação viável para o Brasil baseia-se na autogestão e tem como objetivo a oferta de álcool em um contexto de aumento da frota interna de carros movidos a álcool hidratado (veículo movido 100% a álcool hidratado ou de combustível flexível), o seu uso em carros de nova geração e excedentes para garantir o abastecimento crescente e regular do mercado externo.

IV. Desenvolvimento e absorção de novas tecnologias

As principais iniciativas no campo das novas tecnologias são as seguintes:

a) mistura do etanol ao diesel: MAD8
utilização da mistura do 8% do etanol ao diesel, melhorando as emissões de partículas em veículos de transporte de passageiros e carga, que rodam nos grandes centros; a experiência esta sendo desenvolvida no Paraná, por diversas instituições de pesquisa coordenada pelo Governo Federal;

b) célula de combustível com reformador a etanol
sistema de acionamento de carros por energia elétrica, gerada a partir de hidrogênio obtido no próprio veículo, a partir do álcool. Além de reduzir a níveis próximos de zero as emissões, esse sistema aproveita o combustível, tendo melhor rendimento do que os motores a explosão. Pesquisas e testes estão em fase adiantada no exterior, com grandes investimentos, o que poderá ser acelerado pela legislação ambiental de cada país. MDIC e MCT gerenciam investimentos brasileiros para a pesquisa, utilizando o álcool hidratado combustível. Em andamento, existem negociações para ser firmado convênio com indústrias da Alemanha envolvidas na pesquisa.

c) motores flexíveis
o conceito de veículos com motores flexíveis surgiu no final da década de 80, quando vários países se interessaram pelo uso do álcool (etanol e metanol) como combustível. Como esses países não dispunham de infra-estrutura de abastecimento suficiente para estimular um mercado de veículos a álcool, decidiu-se desenvolver um veículo que pudesse operar tanto com gasolina como com álcool, ou quaisquer mistura de ambos. Ao longo da década de 90 esse conceito evoluiu consideravelmente passando a ser adotado comercialmente nos Estados Unidos e Canadá, onde circulam mais de dois milhões de veículos com esse sistema. O conceito foi trazido para o Brasil por empresas de autopeças (Bosch, Magnetti Marelli, Delphi e Visdeon), o lançamento dos primeiros veículos com motores flexíveis aconteceu em março de 2003. No ano de lançamento foram comercializadas 48.178 unidades, e até setembro de 2004 foram comercializadas 218.320 unidades com motores flexíveis. Em Março/2007, 83% do total de veículos leves comercializados no País era Flex Fuel. Atualmente a A frota flex estimada já é 13% da frota total, superando a frota a álcool de 9% e em dezembro de 2008: será ultrapassada a marca de 5 milhões de veículos para a frota de veículos Flex Fuel (mantida a média atual). Esse sistema oferece ao mercado consumidor o poder de escolha do combustível a ser utilizado (álcool, gasolina e mistura de ambos) e a garantia de abastecimento com pelo menos um combustível, caso o preferido não esteja disponível. Temos 8 montadoras no Brasil produzindo carros flex.

ACORDO DE COOPERAÇÃO BRASIL-EUA

Os acordos de cooperação entre o Brasil e EUA são um maarco importante para o desenvolvimento e a promoção dos biocombustíveis na América e no mundo.
Prevê atuação conjunta dos dois países na América Central e Caribe para o desenvolvimento da produção de biocombustíveis nessas regiões. Cooperação para pesquisa na área dos biocombustíveis de segunda geração (derivados da celulose).

Podemos apontar duas medidas que devem ser tomadas:

a) Esforço conjunto para a padronização do etanol no mercado internacional;

b) esforço Brasileiro para derrubar as barreiras alfandegárias.

FÓRUM INTERNACIONAL DE BIOCOMBUSTÍVEIS:

Com o objetivo de desenvolver internacionalmente o uso e a produção sustentável de biocombustíveis, Brasil, África do Sul, China, Estados Unidos, Índia e a Comissão Européia anunciarão, em conferência de imprensa dia 2 março, às 11 horas, nas Nações Unidas, o lançamento do Fórum Internacional de Biocombustíveis.

A iniciativa cria mecanismo para estruturar o diálogo entre grandes produtores e consumidores de biocombustíveis interessados em promover a criação de um mercado internacional para esses produtos. O surgimento de um mercado internacional contribuirá para aumentar a eficiência na produção, na distribuição e no uso de biocombustíveis no plano global. Para tanto, faz-se necessário fortalecer a coordenação internacional e trabalhar em conjunto para que esses combustíveis sejam difundidos mundialmente, de forma sustentável, potencializando seus benefícios econômicos, sociais e ambientais.

Para países em desenvolvimento, consumir biocombustíveis significa reduzir sua dependência das importações de petróleo, melhorar o equilíbrio de suas balanças comerciais e poupar receita para aumentar seus investimentos em saúde e educação.
Além de proporcionar benefícios ambientais, produzir biocombustíveis promove geração de renda e contribui para a fixação da mão-de-obra no campo.

Para os países desenvolvidos, o uso de biocombustíveis é também atraente, pois diminui a dependência de combustíveis fósseis, contribuindo para a redução de suas emissões de gases de efeito estufa e garantindo maior segurança energética. Os biocombustíveis têm potencial de mobilizar investimentos em pesquisa e desenvolvimento em tecnologias associadas, o que conferirá maior dinamismo ao processo de mudança de paradigma no uso de energia no plano global.

O Fórum terá duração de um ano e os participantes da iniciativa deverão realizar reuniões periódicas para dar continuidade ao diálogo sobre os temas definidos como prioritários. Serão estabelecidos Grupos de Trabalho (Gts) para o estudo de assuntos de especial interesse para atividades conjuntas. Inicialmente serão criados dois GTs: um sobre Intercâmbio de Informações e outro sobre Padrões e Normas. Os participantes examinarão o desenvolvimento de padrões e normas internacionais para os biocombustíveis; questões de infra-estrutura e logística e aspectos relativos ao comércio internacional desses produtos. Além disso, trocarão informações sobre avanços científicos e tecnológicos (biocombustíveis de segunda e terceira geração) e trabalharão na organização de Conferência Internacional de Biocombustíveis, a ser realizada no Brasil, em 2008.

Com a expectativa de que as metas para o uso de biodiesel sejam antecipadas, Ricardo Dorneles, Diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia explicou a base legal que ampara os biocombustíveis brasileiros. Segundo ele, cerca de 225 mil agricultores familiares já foram beneficiados e a expectativa é de aumento.

CONCLUSÃO

A tendência é de um reordenamento econômico que impulsione os compromissos de busca de alternativas de combustível limpo. Aliás, hoje, em todos os continentes, pesquisadores e técnicos trabalham na busca de fontes alternativas aos derivados de petróleo, usados como combustível para motores de combustão interna.

O etanol tem a capacidade reduzir emissões de gases, principalmente no caso do balanço de CO2 que, notadamente, contribui para isso. O uso do álcool em lugar de combustíveis fósseis, leva à sua natural escolha como importante energia renovável. A consolidação de ter o álcool como “commodity” ambiental internacional é a meta de todos os interessados no tema, na medida em que se tem a entrada em vigor do Protocolo de Quioto , com a ratificação da Rússia.

O alcance dessas metas depende de duas ordens de providências: de um lado é necessário envidar esforços para que o estímulo ao uso e à produção de etanol para fins carburantes não seja obstado pelas barreiras internas à liberalização do mercado. De outro lado, é necessário criar as condições de confiabilidade com respeito à garantia de abastecimento internacional desse combustível.

Com respeito a garantias, o Brasil está adotando a instituição de mecanismos eficazes de regulação, baseados na autogestão privada. O objetivo é evitar o desabastecimento interno, sob condições de aumento de demanda interna, e sustentar excedentes exportáveis em volume e a preços competitivos com as futuras exigências do mercado internacional.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Como foi a audiência sobre programa de biodiesel

A Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional realizou ontem audiência pública para discutir as ações do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel, do governo federal. A reunião foi sugerida pelo deputado José Guimarães (PT-CE).

Guimarães lembra que o objetivo do programa é implementar de forma sustentável a produção e o uso do biodiesel, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, por meio da geração de emprego e renda. Na avaliação do deputado, outro ponto importante do projeto é a previsão de uso de matérias-primas locais e o estímulo à instalação de usinas de produção de óleo, em parceria com governos estaduais e municipais.

Para ele, devido ao alcance social do programa, torna-se indispensável que a comissão conheça seu projeto e as dificuldades encontradas e acompanhe seus resultados.

Convidados

Participaram da audiência o coordenador do Comitê do Biodiesel no Ceará, Amaury Reis Fernandes; o secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Ruy de Goes Leite de Barros; o secretário do Desenvolvimento Agrário do Ceará, Camilo Sobreira de Santana; o assessor especial do Ministério da Integração Nacional, Paulo Brasil Paez; e o presidente da organização Instituto do Sol, José Walter Bautista Vidal.

A reunião aconteceu às 14 horas, no plenário 15.

Objetivo do biodiesel é inclusão social, diz debatedor

O assessor especial do Ministério da Integração Nacional, Paulo Brasil Paez, explicou que o principal objetivo do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel, do governo federal, lançado em 2004, é promover a inclusão social.

Paez explicou que a lei que trata do programa prevê a adição obrigatória de 2% de biodiesel ao diesel derivado de petróleo a partir de 2008. A partir de 2013, esse percentual subirá para 5%. Entretanto, segundo ele, já se estuda a antecipação dessa data para 2010. De acordo com Paulo Paez, cinco hectares de cultivo da mamona representam um emprego direto.

Ainda de acordo com o assessor, o programa prevê um mecanismo de benefício tributário: o produtor de biodiesel que adquirir 50% da mamona produzida por meio da agricultura familiar no Nordeste terá 100% de isenção do PIS e da Cofins. Para outras regiões, esse percentual irá variar. Se a matéria-prima vier do Norte ou do Centro-Oeste, a dedução do PIS e da Cofins será de 10%.

Segundo Paulo Paez, o País já tem 130 usinas de produção de biodiesel em funcionamento ou em fase de instalação. Ele participa de audiência pública promovida pela promovida pela Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional para discutir as ações do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel.

O assessor também afirmou que a Amazônia não está excluída do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel. Segundo ele, os investimentos para o programa são da iniciativa privada, e o governo concedeu apenas incentivos fiscais para beneficiar algumas regiões. "Pode ser que esse mecanismo não seja tão benéfico para a Amazônia, e isso nós podemos discutir", disse.

Essas declarações foram dadas em resposta a questionamentos dos deputados Asdrubal Bentes (PMDB-PA), Márcio Junqueira (DEM-RR) e Ilderlei Cordeiro (PPS-AC) sobre os motivos pelos quais não há ações direcionadas à Amazônia previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e relacionadas ao programa do biodiesel.

Nordeste e Minas terão usinas de biodiesel da Petrobras

O coordenador do Comitê do Biodiesel no Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), Amaury Reis Fernandes, informou que a Petrobras está instalando três usinas de produção de biodiesel no Ceará, na Bahia e no norte do Minas Gerais. Segundo ele, a capacidade de produção dessas instalações será de 160 mil litros diários.

Fernandes também afirmou que a intenção do Dnocs é instalar 20 usinas de extração de óleo vegetal nas proximidades de cada uma das usinas de biodiesel. "A meta é construir 600 unidades de extração de óleo vegetal até 2010", disse. O custo de cada unidade, segundo Fernandes, é de cerca de R$ 700 mil.

Amaury Fernandes participa de audiência pública promovida pela Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional para discutir as ações do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel.

Biodiesel só substituirá 10% do petróleo em 2050

Segundo o secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Ruy de Goes Leite de Barros, estudos demonstram que o percentual máximo que se pode conseguir de substituição de petróleo por biodiesel no mundo será de 10% em 2050. "É impossível fazer mais do que isso, até porque não há disponibilidade de terra para o cultivo das oleaginosas", disse ele.

Ruy Barros ressaltou ainda que os biocombustíveis também causam impactos ambientais, pois ocupam terras, gastam água e podem usar agrotóxicos. Entretanto, segundo ele, as vantagens em relação ao petróleo são inegáveis.


Fonte: Agência Câmara

quarta-feira, 23 de maio de 2007

O Biodiesel

Introdução ....

Em 1859 foi descoberto petróleo na Pensilvânia tendo sido utilizado principalmente na produção de querosene para iluminação. Em 1895, Rudolf Diesel iniciou as pesquisas para utilização de subprodutos do petróleo como combustível para sua nova invenção – motor com ignição por compressão. Porém, durante a Exposição Mundial de Paris, em 1900, utilizou óleo de amendoim para demonstração de seu novo motor. Dizia ele: “o motor diesel pode ser alimentado com óleos vegetais e ajudará consideravelmente o desenvolvimento da agricultura dos países que o usarão”.

Mas o desenvolvimento da tecnologia para obtenção de derivados de petróleo (gasolina, diesel, etc.) fez com que o preço dos combustíveis fósseis ficasse muito mais baixos que o dos óleos vegetais, e a tecnologia nas indústrias automotivas foram se desenvolvendo para utilização desses combustíveis.

O primeiro choque do petróleo, em 1973, marcou o fim da era do combustível abundante e barato. Os embargos impostos pelos árabes aos Estados Unidos e as reduções da produção e da exportação fizeram com que o preço do barril de petróleo passasse de US$ 3 para US$ 12, entre outubro de 1973 e dezembro de 1974. Com isso os países exportadores definiram uma nova era para o resto do mundo: a do petróleo caro e escasso.

Entre 1981 e começo de 1983 houve nova alta nos preços do petróleo, alcançando US$ 36 por barril. Foi o segundo choque do petróleo. Porém os preços voltariam a cair, chegando em 1986 a surpreendentes US$ 10 por barril. Mas o caráter finito das reservas e a ameaça de novas altas nos preços exigiam que fossem desenvolvidas tecnologias mais econômicas.

Outro fator que incentiva a procura por novos combustíveis é que a queima de petróleo e seus derivados é responsável pela maior parte dos poluentes dos centros urbanos, e uma recente crescente preocupação com o meio ambiente exige que sejam utilizadas novas opções menos poluentes e de preferência renováveis (biocombustíveis).

Biocombustível é o combustível líquido ou gasoso para transportes produzido a partir da biomassa. (Entende-se como biomassa a fração biodegradável de produtos e resíduos provenientes da agricultura (incluindo substâncias vegetais e animais), da silvicultura e das indústrias conexas, bem como a fração biodegradável dos resíduos industriais e urbanos). São classificados como biocombustíveis o biodiesel, o biogás e o etanol (álcool de cana), dentre outros.

Nesse contexto, o Biodiesel surge como uma alternativa de diminuição da dependência dos derivados de petróleo e um novo mercado para as oleaginosas.

Definição....
Biodiesel é produto resultante da reação química entre óleos vegetais e álcool. Esse produto pode ser usado como combustível em qualquer motor diesel sem a necessidade de alteração nesse motor. Por ser um combustível alternativo ao diesel feito a partir de fontes renováveis, passou a ser chamado de biodiesel. Quimicamente o biodiesel é conhecido como éster metílico ou etílico de ácidos graxos, dependendo do álcool utilizado.

No Brasil, a Agência Nacional do Petróleo (ANP), por meio da Portaria n o 255/2003, define biodiesel como sendo um combustível composto de mono-alquilésteres de ácidos graxos de cadeia longa, derivados de óleos vegetais ou de gorduras animais e designado B100.

Biodiesel não contém componentes derivados de petróleo, mas pode ser utilizado puro ou misturado em qualquer proporção com o diesel mineral para criar uma mistura diesel/biodiesel. Por ser perfeitamente miscível e físico-quimicamente semelhante ao petrodiesel pode ser usado nos motores ciclo diesel (com ignição por compressão) sem a necessidade de modificação ou onerosas adaptações. Biodiesel é fácil de usar, biodegradável, não tóxico, e principalmente livre de enxofre e dos compostos aromáticos.

Mundialmente passou-se a adotar uma nomenclatura bastante apropriada para identificar a concentração do Biodiesel na mistura. É o Biodiesel BXX, onde XX é a percentagem em volume do Biodiesel à mistura. Por exemplo, o B2, B5, B20 e B100 são combustíveis com uma concentração de 2%, 5%, 20% e 100% de Biodiesel, respectivamente.

Como se trata de uma energia limpa, não poluente e que pode ser usada pura ou misturada com o diesel mineral em qualquer proporção, o seu uso num motor diesel convencional resulta, quando comparado com a queima do diesel mineral, numa redução substancial de monóxido de carbono e de hidrocarbonetos não queimados.

Vantagens do Biodiesel ....
Como se trata de uma energia limpa, não poluente e que pode ser usada pura ou misturada com o diesel mineral em qualquer proporção, o seu uso num motor diesel convencional resulta, quando comparado com a queima do diesel mineral, numa redução das emissões de gases poluentes. A emissão de CO 2 , um dos principais gases causadores do efeito estufa, é reduzida em 7% na utilização de B5 (5% de biodiesel e 95% de diesel), 9% na utilização de B20 e 46% no caso do uso de biodiesel puro. A emissão de material particulado e fuligem são reduzidas em até 68% com o uso de biodiesel, e há queda de 36% dos hidrocarbonetos não queimados. Extremamente significativa também é a redução nos gases de enxofre - que são os causadores da chuva ácida -, de 17% para o B5, 25% para o B20 e 100% para o biodiesel puro, uma vez que, diferentemente do diesel de petróleo, o biodiesel não contém enxofre.

O País ainda pode aproveitar essa vantagem ambiental em termos econômicos ao enquadrar o uso do biodiesel nos acordos estabelecidos no Protocolo de Kyoto e nas diretrizes dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), uma vez que poderíamos vender cotas de carbono através do Fundo Protótipo de Carbono (PCF), pela redução das emissões de gases poluentes, e também créditos de 'seqüestro de carbono', através do Fundo Bio de Carbono (CBF). Ambos os fundos são administrados pelo Banco Mundial (Bird).

Além dos créditos de carbono, as vantagens econômicas passam pela redução das importações de petróleo e de diesel já refinado. Com a introdução do B5, as importações de diesel refinado serão reduzidas em 33%. A implantação do biodiesel B5 deverá incrementar a atividade econômica interna e incentivar os investimentos com a instalação de novas indústrias. Também promoverá a geração de cerca de 200 mil empregos, além de incrementar consideravelmente a área de cultivo.

Com a implantação do B5, a agricultura ganhará mais empregos, pois será necessário um aumento de 125 mil hectares de cana-de-açúcar no caso de aplicação do biodiesel etílico, 2,5 milhões de hectares de girassol para biodiesel feito com seu óleo ou 5 milhões de hectares de soja. Futuramente, seria necessário ampliar essas áreas de cultivo de oleaginosas e de cana-de-açúcar para incrementar o uso do biodiesel e aumentar as proporções da mistura desse biocombustível ao diesel de petróleo para misturas do tipo B15 ou B20. O simples fato de utilizarmos parcial ou totalmente a capacidade ociosa já instalada na indústria do álcool e da extração de óleos vegetais representa um grande ganho para o País . E esse aumento na área de plantio não será um problema, uma vez que dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento mostram que existe, somente no centro-oeste brasileiro, mais de 90 milhões de hectares agriculturáveis, sem que seja necessário se derrubar uma árvore, ou seja, não é necessário desmatamento para a implantação do biodiesel.

O Brasil, pela suas imensas extensões territoriais, associadas às excelentes condições climáticas, é considerado um país, por excelência, apto para a exploração da biomassa para fins alimentares, químicos e energéticos.

No campo das oleaginosas, as matérias-primas potenciais para a produção de óleo diesel vegetal são bastante diversificadas, dependentemente da região considerada. Muitas oleaginosas podem ser citadas: mamona, dendê, soja, girassol, babaçu...

Por outro lado, as diversidades sociais, econômicas e ambientais geram distintas motivações regionais para a produção e consumo de combustíveis da biomassa, especialmente quando se trata do Biodiesel.

O biodiesel pode ser um importante produto para exportação e para a independência energética nacional, associada à geração de emprego e renda nas regiões mais carentes do Brasil. O Brasil importa, anualmente, cerca de 40 milhões de barris de óleo diesel, o que representa uma despesa na nossa balança de pagamentos de pelo menos 1,2 bilhões de dólares. Além da perspectiva de auto-suficiência em diesel, o Brasil é apontado por especialistas do mundo todo como o país com potencial para se tornar o principal exportador de biodiesel. Cálculos da agência americana de energia renovável apontam que os Estados Unidos tem um mercado potencial para os combustíveis limpos de US$ 6 bilhões. Na Europa, a consultoria Frost & Sullivan prevê vendas de US$ 2,4 bilhões até 2007. Na Embrapa, a aposta é que o Brasil possa se tornar fornecedor de 60% do biodiesel global.

Matérias Primas para a Produção de Biodiesel ....
O biodiesel é produzido a partir de uma reação química entre óleos vegetais ou gorduras animais (triglicerídeos) e um álcool. Pode-se utilizar óleo de soja, girassol, amendoim, algodão, canola (colza), babaçu, dendê, pinhão manso, mamona, nabo forrageiro, entre outras, e também gordura animal. Esses óleos podem ser brutos, degomados ou refinados, bem como óleos residuais de fritura.

O Brasil possui características endofo-climáticas que possibilita a plantação de diversas culturas diferentes, fato que permite que seja mais bem aproveitada a característica de cada região. Por exemplo, nas regiões sul, sudeste e centro-oeste poderá ser utilizada a soja como matéria prima, pois é a oleaginosa com maior produção nessas regiões. No norte e nordeste pode-se plantar mamona e pinhão manso ou também aproveitar as florestas de babaçu e dendê existentes nessas regiões.

Para a transesterificação (reação química de transformação do óleo em biodiesel), como já fora dito anteriormente, é necessário também o uso de um álcool, que pode ser o metanol ou o etanol.

O Brasil é o maior produtor de etanol do mundo, e a utilização desse álcool no lugar do metanol torna o biodiesel brasileiro um combustível 100% renovável, uma vez que o metanol tem como principal fonte de obtenção o petróleo.

No que tange às melhores oleaginosas para produção de biodiesel podemos, diversas são as opções. A produtividade das diversas matérias-primas possíveis varia de acordo com a região. O Brasil é um país com dimensões continentais, portanto a média nacional nem sempre é atingida ou fica bem abaixo da realidade, não servindo muito bem para análises de custos. Por exemplo, a soja no sul do país tem uma produtividade média de aproximadamente 45 sacas por hectare, enquanto no centro-oeste essa produtividade chega a ser superior a 60 sacas. Outro bom exemplo é a mamona, que no nordeste dificilmente passa de 1.000 kg por hectare, enquanto no centro-oeste e no sul já foram relatadas produtividades superiores a 3.000 kg por hectare. Portanto, o primeiro passo para determinar o quanto de área é necessário para uma determinada produção, é preciso saber onde esse empreendimento será executado.

Para se definir qual a matéria-prima ideal, podemos sim analisar as produtividades médias.

Palmeiras, são as melhores, sem dúvida alguma, devido aos altos rendimentos de extração de óleo por hectare. Por exemplo:

Babaçu rendimento entre 1.500 e 2.000 l/ha,

Dendê rendimento entre 5.500 e 8.000 l/ha,

Pinhão manso rendimento entre 3.000 à 3.600 l/há,

Pequi rendimento entre 2.600 e 3.200 l/ha

Macaúba (ou macaíba) rendimento entre 3.500 à 4.000 l/há.

A grande vantagem do babaçu é que é uma arvore em que tudo se aproveita dela, podendo se obter diversos diferentes produtos dela. O dendê, sem dúvida, é o melhor por causa de sua produtividade. Já o pinhão manso, o pequi e a macaúba, não se tem registros de plantações planejadas, sendo opções muito promissoras, porém que ainda necessitam mais estudos para ser considerada uma matéria-prima ideal. O pinhão manso e o pequi não são palmeiras, porém estão inclusos nesse grupo por ter seu óleo e sua extração parecida com a dos óleos das palmeiras. Além do grande volume de óleo por hectare, essas opções apresentam baixos custos de manutenção, pois são plantas perenes, não necessitando grandes investimentos anuais com o plantio.


Esses rendimentos são muito superiores em relação às outras oleaginosas, não menos famosas, como:

Soja rendimento entre 400 e 650 l/há,

Girassol rendimento entre 800 à 1.000 l/ha,

Mamona de 400 a 1.000 l/ha,

Amendoim entre 800 e 1.200 l/ha

Algodão entre 250 e 500 l/há.

Porém, a motivação para a utilização dessas oleaginosas é outra. Uma delas é o tempo de maturação que tem as palmeiras, que levam de 3 a 5 anos para começarem a dar frutos e de 5 a 8 anos para atingirem a produtividade máxima, e essas outras oleaginosas são de culturas rotativas, anuais, fato que implica num retorno mais rápido do investimento feito. Já as palmeiras, apesar de no longo prazo apresentarem lucratividade maior, no inicio se tem um investimento alto e aproximadamente 5 anos sem retorno algum. A grande vantagem dessas culturas rotativas é a possibilidade de se ter uma safra de duas culturas diferentes em um mesmo terreno, somando-se assim suas produtividades. Por exemplo, em um hectare podemos produzir 1.600 litros de óleo de babaçu ou 500 litros de óleo de soja e 900 litros de óleo de girassol, ou seja, 1.400 litros de óleo.

Além disso, a motivação para a utilização da soja, por exemplo, que é uma das oleaginosas que menos produzem óleo por hectare, porém mais produzidas no Brasil, é o valor de seus subprodutos. O quilo do farelo de soja, por exemplo, é mais caro que o próprio grão de soja. Pode-se dizer ainda sobre as proteínas que podem ser extraídas deste óleo, que têm um alto valor no mercado. O resultado disso é que o óleo de soja, apesar de ter pequena produtividade por hectare, é produzido praticamente de graça, se tornando ele, o subproduto do farelo e das proteínas, havendo nesse caso uma inversão de valores. Fato semelhante ocorre com o algodão, que tem um de seus produtos muito valorizado, a pluma, sendo o caroço, parte que produz o óleo, sendo atualmente até considerado um passivo ambiental por não ter aplicação suficiente para o volume produzido, fato que o coloca como uma ótima alternativa.

A motivação para uso da mamona é o baixo custo de manutenção da plantação da mamona e também a muito enfatizada pelo governo inclusão social, pois a colheita é manual e deverá gerar muito emprego. Além disso, pouca alternativa se tem para as regiões norte e nordeste, devido ao clima. Além da mamona, outra boa alternativa é o pinhão manso que também resiste à seca dessas regiões.

A utilização das palmeiras tem as mesmas motivações apresentadas para a mamona, lembrando apenas que se trata de um investimento de médio em longo prazo e, por conseguinte, não se mostram muito interessantes pela cultura “imediatista” brasileira para retorno de investimentos.

O interesse principal se dá, portanto a culturas rotativas, que apresentam retorno mais rápido do investimento realizado mesmo que em detrimento de maior produtividade.

Hectares necessários para o Biodiesel ....

Apesar de já ter enfatizado que a produtividade depende da região, apresento aqui uma estimativa de área necessária para se obter uma produção de 100.000 litros de biodiesel. Vale ressaltar que essa estimativa foi feita para cada oleaginosa separadamente, porém é possível se ter em uma mesma área a produção de soja na safra e de girassol na safrinha, obtendo então em um ano uma produção de soja e de girassol, aproveitando melhor a terra. Outro fato importante de ser levantado aqui é que não estamos considerando a opção de se ter consórcio de culturas.

Essa estimativa esta apresentada na tabela abaixo e foi baseada nas produtividades mínimas e máximas apresentadas no Brasil. Lembramos que a produção do biodiesel estimada nessa área é de 100.000 litros por dia, sendo 330 dias de produção em um ano (com um mês parado para manutenção da fábrica).

Oleaginosa/Produtividade mínima/Hectares necessários/Produtividade máxima/Hectares necessários

soja/400/82.500/650/50.769
girassol/800/41.250/1.000/33.000
algodão/250/132.000/500/66.000
mamona/400/82.500/1.000/33.000
amendoim/800/41.250/1.200/27.500
dendê/5.500/6.000/8.000/4.125
babaçu/1.500/22.000/2.000/16.500
pequi/2.600/12.692/3.200/10.313
macaúba/3.500/9.429/4.000/8.250
pinhão manso/3.000/11.000/3.600/9.167

Estimativa de numero de hectares para uma produção anual de 100.000 litros de biodiesel por dia

Fonte: MB do Brasil

Pesquisadores americanos visitam Embrapa em busca de inovações em fontes renováveis de energia

Uma comitiva formada por pesquisadores, professores e estudantes americanos, sendo alguns integrantes da Sociedade Americana de Química, visita nesta quinta-feira, dia 24, a partir das 16 horas, a Embrapa Instrumentação Agropecuária, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para conhecer pesquisas na área de biocombustíveis e biomateriais visando estabelecer futuras parcerias com o Brasil.

O grupo vai conhecer as linhas de pesquisa em biodiesel, célula combustível, laboratórios de ressonância magnética e de novos sensores, porque estão interessados nos trabalhos realizados na Embrapa nas áreas de biomateriais, biocombustíveis, biomassa e fontes renováveis de energia.

A equipe americana vem ao país para participar da 30ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, que será realizada nos dias 30 e 31, em Águas de Lindóia, São Paulo, e aproveita para conhecer várias instituições que estão desenvolvendo pesquisas com fontes renováveis.

Além da Embrapa Instrumentação Agropecuária, o grupo ainda visita a UFSCar, São Carlos, a Unicamp, Campinas, no dia 25, o Laboratório de Tecnologia Limpa, USP Ribeirão Preto, 26, Esalq e empresa Dedini, 28, e Centro de Tecnologia Coopersucar, 29, em Piracicaba. A visita foi organizada por pesquisadores do Laboratório Virtual da Embrapa, Labex, nos Estados Unidos, Sociedade Brasileira de Química e da UFSCar.

Fonte: Embrapa Instrumentação Agropecuária

Corredor de etanol tem estudo pronto

23/05/07 - A Transpetro já concluiu os estudos para a construção do Corredor de Exportação de Etanol, que facilitará o escoamento da produção pelos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. A obra deve começar nos próximos meses e será concluída até 2011.

O investimento será de US$ 1,1 bilhão. Ao término de 2011, a capacidade total do corredor será de 12 milhões de metro cúbicos/ano.



Fonte: Jornal Bom Dia - S. José do Rio Preto/SP

terça-feira, 22 de maio de 2007

FABRICANTES CERTIFICAM B20 NO CAMPO

Os maiores fabricantes de caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e motores começam a liberar o uso da mistura de 20% de óleo vegetal no diesel convencional (B20), antecipando-se ao que estabelece a legislação para o setor. A lei torna obrigatório o acréscimo de 2% de combustível renovável ao diesel convencional (B2) a partir de 18 de janeiro de 2008, ampliando a exigência para 5% (B5) em 2013 - meta que poderá ser antecipada pelo governo para 2010.

Na prática, os usuários daqueles veículos já estão liberados pelos fabricantes para rodar com o B2 e, em alguns casos, até com o B5, depois que exaustivos experimentos realizados em laboratório e a campo constataram que o desempenho dos motores e o consumo não sofreram variações dignas de nota com aqueles níveis de mistura. Durante a 14ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), realizada em Ribeirão Preto (SP) neste mês, a Valtra, fabricante de tratores do grupo AGCO Brasil, comunicou a liberação do B20 em seus motores, com garantia de fábrica.




A Cummins, fabricante de motores, também anunciou em abril, nos EUA, a homologação da mistura B20 para cinco séries de motores. No Brasil, o processo de certificação deverá ser concluído até o final de 2008, com a liberação da mistura provavelmente a partir do ano seguinte, segundo o gerente de marketing da Cummins Brasil, Luis Chain Faraj. Em parceria com instituições de pesquisa e fornecedores, a multinacional estabeleceu uma programação rigorosa de testes, prevendo rodar 400 mil quilômetros com caminhões em São Paulo e na região Sul, outros 100 mil quilômetros em ônibus, 500 horas em geradores e igual carga para motores fora de estrada.

"Vamos aproveitar o inverno no Sul para submeter os motores movidos a biodiesel às condições mais severas de uso, em situações reais", observa Chain. Até o momento, acrescenta, não foi possível observar diferenças relevantes em relação à potência, torque e consumo. "Quando se fala em emissões, no entanto, houve queda de 20% no caso do dióxido de carbono, de 4% para o monóxido de carbono, redução de 16% nas emissões de material particulado e de 20% de fumaça negra", adianta. A nota relativamente negativa veio com o aumento de 3% nas emissões de óxido de nitrogênio. A fábrica, que iniciou as pesquisas com biodiesel ainda em 2001, já havia homologado o B5 em janeiro deste ano.

Na Volkswagen Caminhões e Ônibus, segundo o diretor de assuntos governamentais, Marco Santini, apenas o uso do B2 está liberado "sem contra-indicações" e com garantia de fábrica, até o momento. "Neste nível de mistura, o biodiesel não exigiu qualquer alteração nos requisitos de manutenção ou revisão de motores", completa o executivo. O mesmo ocorreu com a DaimlerChrysler do Brasil, segundo o gerente de desenvolvimento de motores, Gilberto Leal.

Engajada no projeto do combustível renovável desde o início do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), a Volkswagen Caminhões e Ônibus concentra-se agora na aprovação do B5. "Estamos desmontando os motores para avaliar os efeitos do biodiesel em peças e componentes", diz Santini. Os ensaios com ônibus foram realizados no Rio de Janeiro, em parceria com o governo do Estado, a Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e a Real Auto Ônibus.

Ribeirão Preto (SP) foi escolhida para a realização dos testes em caminhões, desta vez em associação com a Companhia Ipiranga de Bebidas e outros clientes frotistas, num total de 11 veículos e 150 quilômetros de testes. "Procuramos contornar possíveis problemas para todos os tipos de condições de uso", afirma Santini. Ainda de acordo com ele, em reunião prevista para o final deste mês, no Ministério de Ciência e Tecnologia, um grupo de empresas deverá apresentar os resultados observados em experimentos semelhantes.

A DaimlerChrysler, que conseguiu a liberação do B2 desde setembro do ano passado, espera encaminhar à ANP, nesta próxima semana, o relatório preliminar dos testes com o B5, iniciados em agosto de 2006. "A aprovação do B5, que depende ainda da definição da agência, seguirá os mesmos parâmetros do B2, que foi homologado de forma irrestrita para todos os nossos veículos", afirma Leal. Em associação com empresas de ônibus e fornecedores, os veículos da DaimlerChrysler rodaram 300 mil quilômetros sob condições severas de trânsito em São Paulo. "O resultado parcial da operação superou a expectativa", diz Leal.

Além dos testes em frota de clientes, a Mercedes Benz participa de experimentos em bancada, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, com sistemas de injeção. Também neste caso, os ensaios estão em fase final. Entre fabricantes de máquinas agrícolas, o ceticismo inicial foi substituído por um apoio entusiasmado ao projeto do biodiesel após os resultados dos primeiros testes. Foi o que ocorreu, por exemplo, na Valtra. "O projeto transformou-se numa grata surpresa", comenta Rogério Zanotto, coordenador de marketing do produto da empresa. A mistura com 5% de óleo vegetal (B5) já está homologada e conta com garantia da fábrica.

A Valtra iniciou a terceira fase de seu projeto, desenvolvida em parceria com Chevron Texaxo, a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), a Pampa, concessionária da Valtra com sede em Tangará da Serra (MT), e a Usina Barrálcool, instalada a cerca de 180 quilômetros de Cuiabá (...).

Dois tratores Valtra BH 180 rodarão durante 18 meses ou 4 mil horas, com misturas B50 (50% de óleos vegetais) e B100 (100%), com um terceiro trator usando diesel convencional, sem biocombustíveis. "Vamos testar o motor com 50% de biodiesel porque esta foi a relação, nos testes de laboratório, que apresentou os melhores resultados de eficiência e consumo", diz Zanotto.

A Massey Ferguson, também do grupo AGCO, realiza testes desde o fim de 2005, segundo o engenheiro de vendas Paulo Verdi, num projeto que envolveu, ainda, a Faculdade Assis Gurcacz (FAG) e a Unioeste, ambas de Cascavel (PR). A empresa acredita na liberação do B20 em breve. "Esta parece ser a tendência do mercado".

Fonte: MB

A transnacionalização do ecobesteirol

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE

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Só uma extrema eco-paranóia justificaria o temor de expulsão do cultivo de alimentos e fome desenfreada no Brasil
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E AGORA até os presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Fidel Castro, de Cuba, engrossam as fileiras do besteirol contra o etanol.
Para Chávez, o etanol é concorrente do petróleo. Quanto maior for a oferta de álcool combustível no mercado, menor será o poder do monopólio do petróleo. E, neste particular, Chávez tem a parceria das grandes multinacionais do setor. Para Fidel, a questão é política. Jamais se manifestou contra o etanol brasileiro antes da viagem de Bush ao Brasil, pois sabe que uma sólida cooperação comercial resulta sempre em confraternização ideológica.

As investidas de parlamentares e da imprensa estrangeira também podem ser entendidas como emanada dos interesses lobistas dos setores agrícolas, americanos e europeus. As demais vertentes, embora apresentando os mesmos argumentos, só podem ser compreendidas como resultantes de um misto de profunda ignorância e oportunismo sensacionalista, eco-idiotas, eco-demagogos.

Vamos, pois, considerar alguns dos argumentos. A cana-de-açúcar é uma monocultura e, portanto, diabolicamente engendrada com o objetivo de exterminar com o romantismo heróico da agricultura familiar. Com a exceção do cultivo de hortaliças, não há em todo mundo cultura de importância econômica e social que não seja monocultura. Contrariamente ao que afirmam ecologistas de plantão, a humanidade pereceria sem ela.

A segunda linha de ataque dos eco-demagogos é o equivocado argumento do balanço energético do álcool, de acordo com o qual a energia consumida para produzir uma unidade de álcool seria maior que aquela contida nessa mesma quantidade.

De fato, isso é quase verdade para o etanol americano fermentado do milho, em que apenas 20% a mais do que aquela energia fóssil despendida são ganhos. No caso da cana brasileira, entretanto, a cada unidade de combustível fóssil despendida com a produção de álcool, 8 e meia unidades de combustível fóssil (gasolina) deixarão de ser queimados. Não há nada tão benéfico para o meio ambiente, portanto, como a produção de etanol de cana-de-açúcar, quando a preocupação é com o aquecimento global e não com estratégias de autopromoção.

A terceira linha se refere a prejuízos ambientais locais. O plantio da cana degradaria o solo. Ora, as terras mais férteis do globo são aquelas cultivadas há séculos. Os poucos exemplos de degradação de solos por exploração agrícola se devem a abusos devido à ignorância ou à ganância.

Hoje não há no Brasil um litro de vinhoto vertido em rios ou mananciais e a queima de palha, já reduzida em 30% em São Paulo será, pois, por lei e por evolução tecnológica natural, extinta com a mecanização da lavoura. Simplesmente porque essa tecnologia torna mais rentável a produção do etanol, além de remover o estigma de trabalho desumano.

E a quarta crítica que se faz contra o etanol é que a cultura de cana-de-açúcar expulsaria as culturas de alimentos e, como conseqüência, haveria fome nas classes menos privilegiadas. Ora, historicamente o que causou fome ou miséria quase que nunca foi preço ou escassez de alimentos, mas desemprego e baixos salários.

Uma expansão da produção do etanol só pode gerar emprego e aumentar salários. Lembrando que a atual produção de 17 bilhões de litros de álcool ocupa só 3 milhões de hectares (outros 3 milhões para o açúcar) e que o Brasil, excluindo a área com atividade agrícola, toda área ocupada por floresta ou ambientalmente sensível, dispõe de 300 milhões de hectares de solo com qualidade e pluviometria adequadas para o cultivo da cana, podemos concluir que, multiplicando por dez a produção atual, não seriam ocupadas senão 10% das terras.

Com a adoção das melhores tecnologias já em uso ou em estado de desenvolvimento avançado, esse percentual pode ser reduzido para entre 3 e 5%. Com isso em vista, só uma extrema eco-paranóia justificaria o temor de expulsão do cultivo de alimentos e fome desenfreada no Brasil.

O sexto besteirol vem de uma estranha cadeia de pensamento que surgiu como reação a produção de carne bovina. Uma vaca consumiria entre sete e oito milhões de litros de água em sua vida. Ora, será que vaca não faz xixi? E será que este xixi não evapora como toda a água e neste processo se purifica ao retornar na forma de chuva?
O sofisma está na idéia de consumo da água. Água não se consome, ou melhor, só pode ser consumida em raras reações químicas. Se a água que a vaca bebeu tivesse só sido evaporada, ela voltaria na mesma medida que quando bebida pelo boi e passada pela forma de xixi. A mesma coisa ocorre com qualquer cultura agrícola. O maior cuidado que devemos ter é com a contaminação, o transporte pela água que usamos de substâncias indesejáveis ou nocivas para locais inadequados.

Mas eis que o meteorologista-mor da Argentina vem engrossar o cordão dos eco-demagodiotas. Ótimo. Se a Argentina é contra, é porque é bom para o Brasil.

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ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE , 75, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro do Conselho Editorial da Folha.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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