sábado, 9 de dezembro de 2006

Pinhão-Manso

Corrida para plantar o pinhão-manso
Nem só de soja e mamona vive o biodiesel. Outras oleaginosas pouco conhecidas começam a se destacar como matéria-prima na produção do combustível verde. Entre elas, a mais cobiçada do momento é o pinhão-manso, arbusto da família da mamona que até então vinha sendo usado como cerca viva em áreas de pastagem. Resultados obtidos nas primeiras pesquisas estão provocando uma corrida no semi-árido. Outra opção que vem despertando interesse é a palma. No Pará, o dendê, como é mais conhecido, está mudando a realidade de pequenos agricultores, que antes viviam de culturas menos rentáveis, como mandioca e arroz.

O pinhão-manso apresenta um potencial extraordinário", diz o pesquisador da Embrapa Semi-Árido, Marcos Drumond, que há oito meses conduz ensaios de campo em Petrolina (PE) Araripina (PE), Senhor do Bonfim (BA) e Nossa Senhora da Glória (SE). Diante do regime irregular de chuvas do sertão nordestino, a planta, segundo ele, leva vantagem entre outras oleaginosas: é a única com ciclo produtivo que se estende por mais de 40 anos. A mamona, que produz um óleo essencial com uso em mais de 400 produtos da indústria química, precisa ser replantada a cada um ou dois anos.

A planta também se adapta bem a solos de pouca fertilidade, atingindo teor de óleo entre 30 a 40%. A marca está próxima da mamona, que rende entre 45% e 50%. A vantagem do pinhão-manso, porém, é que o agricultor não terá de plantar novamente a cultura por mais de 40 anos. "Com isso, o custo de produção fica bastante reduzido", observa Drumond. Segundo ele, isso favorece a produção tanto em grande quanto em pequena escala.


Os testes realizados até agora apontam para a possibilidade de uma safra de 200 a 250 quilos por hectare no primeiro ano de plantio. "Em dois anos a produtividade pode dobrar e, após quatro anos, deve estabilizar acima de uma tonelada por hectare", diz Drumond. Sob irrigação, o pinhão poderá alcançar até quatro toneladas por hectare. Apesar dos resultados promissores, o pesquisador recomenda cautela. "Precisamos de mais tempo para saber como a planta se comporta nas diferentes condições climáticas".


Com a atenção mais voltada para os negócios do que para as pesquisas, tanto a iniciativa privada quanto o poder público engrossam a demanda pelo pinhão-manso. A Biodiesel do Vale do São Francisco (Biovasf), de Petrolina, está investindo R$ 90 milhões numa unidade que em dois anos terá capacidade para esmagar 300 mil toneladas, o que deverá gerar cerca de 100 milhões de litros de biodiesel por ano. "Sem dúvida, é uma alternativa importante", diz o presidente da empresa, Marcos Nascimento. Na área pública, a Petrobras estuda o uso da planta em usina que pretende instalar em Montes Claros (MG), com capacidade para 40 milhões de litros por ano.


Também ao norte de Minas, o economista japonês radicado no Brasil, Nagashi Tominaga, vem registrando até agora os melhores resultados com o cultivo da planta em larga escala. Em parceria com os agrônomos Jorge Akida e Eduardo Yasuda, ele implantou uma das maiores áreas dedicadas à cultura no país. Juntos, eles cultivam 57 hectares divididos em duas propriedades nos municípios de Janaúba e Matias Cardoso. Depois de obter 1,5 tonelada na primeira colheita, em 2005, os sócios chegaram a 16 toneladas em 2006 e se preparam para 70 toneladas em 2007, sem aumentar a área.


Convencidos de que o pinhão-manso é a melhor alternativa no semi-árido para produção de biodiesel, os três querem fazer de suas propriedades um grande banco de sementes. Tominaga acaba de acertar a venda de duas toneladas para o Mato Grosso e está em negociação com produtores de São Paulo, Goiás e Minas Gerais. A expectativa é que o faturamento salte de R$ 120 mil em 2006 para R$ 1,5 milhão em 2007. "Saímos na frente e estamos em franca expansão", avisa.


Enquanto o semi-árido descobre o pinhão-manso, no Pará a palma começa a mudar a vida de pequenos agricultores. A renda média de aproximadamente 150 famílias em Tailândia, a 150 quilômetros de Belém, pulou de R$ 150,00 para R$ 3 mil, depois de trocarem as lavouras de mandioca pelo dendê. Toda a produção é comprada pelo Grupo Agropalma, maior produtor de óleo de palma da América Latina, com capacidade para produzir, entre outros produtos, oito mil toneladas de biodiesel por ano.


O parceria tem um impacto social indiscutível", diz o diretor comercial da Agropalma, Marcello Brito. Segundo ele, dos 35 mil hectares dedicados ao cultivo da palma utilizada pela empresa, cerca de sete mil ficam em propriedades das famílias parceiras. Cada produtor cultiva, em média, de dez a vinte hectares. O acordo traz vantagens para os dois lados. Enquanto os agricultores comemoram o aumento na renda, a empresa se beneficia do selo Combustível Social, concedido pelo Programa Nacional do Biodiesel a quem adquire as produções da agricultura familiar. Com isso, pode participar dos leilões da Agência Nacional de Petróleo (ANP).


Apesar de bem-sucedidos, casos como o dos pequenos produtores de palma no Pará, bem como dos três sócios que cultivam pinhão-manso no norte de Minas Gerais, ainda são exceções no agronegócio brasileiro. Na maior parte das vezes, os investidores reclamam da falta de incentivos ao extrativismo sustentável e de fomento ao cultivo de oleaginosas perenes. "O país precisará não apenas desenvolver novas variedades de plantas oleaginosas, mas oferecer incentivos para que os agricultores troquem as culturas convencionais pela produção de biodiesel", diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biodiesel, Nivaldo Trama. Segundo ele, uma das principais providências a serem tomadas é o "descolamento" das commodites alimentícias, como por exemplo a soja. "Isso é necessário para que o aumento de preços não inviabilize o programa", afirma.

Fonte: Valor Econômico

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