Os maiores fabricantes de caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e motores começam a liberar o uso da mistura de 20% de óleo vegetal no diesel convencional (B20), antecipando-se ao que estabelece a legislação para o setor. A lei torna obrigatório o acréscimo de 2% de combustível renovável ao diesel convencional (B2) a partir de 18 de janeiro de 2008, ampliando a exigência para 5% (B5) em 2013 - meta que poderá ser antecipada pelo governo para 2010.
Na prática, os usuários daqueles veículos já estão liberados pelos fabricantes para rodar com o B2 e, em alguns casos, até com o B5, depois que exaustivos experimentos realizados em laboratório e a campo constataram que o desempenho dos motores e o consumo não sofreram variações dignas de nota com aqueles níveis de mistura. Durante a 14ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), realizada em Ribeirão Preto (SP) neste mês, a Valtra, fabricante de tratores do grupo AGCO Brasil, comunicou a liberação do B20 em seus motores, com garantia de fábrica.
A Cummins, fabricante de motores, também anunciou em abril, nos EUA, a homologação da mistura B20 para cinco séries de motores. No Brasil, o processo de certificação deverá ser concluído até o final de 2008, com a liberação da mistura provavelmente a partir do ano seguinte, segundo o gerente de marketing da Cummins Brasil, Luis Chain Faraj. Em parceria com instituições de pesquisa e fornecedores, a multinacional estabeleceu uma programação rigorosa de testes, prevendo rodar 400 mil quilômetros com caminhões em São Paulo e na região Sul, outros 100 mil quilômetros em ônibus, 500 horas em geradores e igual carga para motores fora de estrada.
"Vamos aproveitar o inverno no Sul para submeter os motores movidos a biodiesel às condições mais severas de uso, em situações reais", observa Chain. Até o momento, acrescenta, não foi possível observar diferenças relevantes em relação à potência, torque e consumo. "Quando se fala em emissões, no entanto, houve queda de 20% no caso do dióxido de carbono, de 4% para o monóxido de carbono, redução de 16% nas emissões de material particulado e de 20% de fumaça negra", adianta. A nota relativamente negativa veio com o aumento de 3% nas emissões de óxido de nitrogênio. A fábrica, que iniciou as pesquisas com biodiesel ainda em 2001, já havia homologado o B5 em janeiro deste ano.
Na Volkswagen Caminhões e Ônibus, segundo o diretor de assuntos governamentais, Marco Santini, apenas o uso do B2 está liberado "sem contra-indicações" e com garantia de fábrica, até o momento. "Neste nível de mistura, o biodiesel não exigiu qualquer alteração nos requisitos de manutenção ou revisão de motores", completa o executivo. O mesmo ocorreu com a DaimlerChrysler do Brasil, segundo o gerente de desenvolvimento de motores, Gilberto Leal.
Engajada no projeto do combustível renovável desde o início do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), a Volkswagen Caminhões e Ônibus concentra-se agora na aprovação do B5. "Estamos desmontando os motores para avaliar os efeitos do biodiesel em peças e componentes", diz Santini. Os ensaios com ônibus foram realizados no Rio de Janeiro, em parceria com o governo do Estado, a Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e a Real Auto Ônibus.
Ribeirão Preto (SP) foi escolhida para a realização dos testes em caminhões, desta vez em associação com a Companhia Ipiranga de Bebidas e outros clientes frotistas, num total de 11 veículos e 150 quilômetros de testes. "Procuramos contornar possíveis problemas para todos os tipos de condições de uso", afirma Santini. Ainda de acordo com ele, em reunião prevista para o final deste mês, no Ministério de Ciência e Tecnologia, um grupo de empresas deverá apresentar os resultados observados em experimentos semelhantes.
A DaimlerChrysler, que conseguiu a liberação do B2 desde setembro do ano passado, espera encaminhar à ANP, nesta próxima semana, o relatório preliminar dos testes com o B5, iniciados em agosto de 2006. "A aprovação do B5, que depende ainda da definição da agência, seguirá os mesmos parâmetros do B2, que foi homologado de forma irrestrita para todos os nossos veículos", afirma Leal. Em associação com empresas de ônibus e fornecedores, os veículos da DaimlerChrysler rodaram 300 mil quilômetros sob condições severas de trânsito em São Paulo. "O resultado parcial da operação superou a expectativa", diz Leal.
Além dos testes em frota de clientes, a Mercedes Benz participa de experimentos em bancada, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, com sistemas de injeção. Também neste caso, os ensaios estão em fase final. Entre fabricantes de máquinas agrícolas, o ceticismo inicial foi substituído por um apoio entusiasmado ao projeto do biodiesel após os resultados dos primeiros testes. Foi o que ocorreu, por exemplo, na Valtra. "O projeto transformou-se numa grata surpresa", comenta Rogério Zanotto, coordenador de marketing do produto da empresa. A mistura com 5% de óleo vegetal (B5) já está homologada e conta com garantia da fábrica.
A Valtra iniciou a terceira fase de seu projeto, desenvolvida em parceria com Chevron Texaxo, a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), a Pampa, concessionária da Valtra com sede em Tangará da Serra (MT), e a Usina Barrálcool, instalada a cerca de 180 quilômetros de Cuiabá (...).
Dois tratores Valtra BH 180 rodarão durante 18 meses ou 4 mil horas, com misturas B50 (50% de óleos vegetais) e B100 (100%), com um terceiro trator usando diesel convencional, sem biocombustíveis. "Vamos testar o motor com 50% de biodiesel porque esta foi a relação, nos testes de laboratório, que apresentou os melhores resultados de eficiência e consumo", diz Zanotto.
A Massey Ferguson, também do grupo AGCO, realiza testes desde o fim de 2005, segundo o engenheiro de vendas Paulo Verdi, num projeto que envolveu, ainda, a Faculdade Assis Gurcacz (FAG) e a Unioeste, ambas de Cascavel (PR). A empresa acredita na liberação do B20 em breve. "Esta parece ser a tendência do mercado".
Fonte: MB
terça-feira, 22 de maio de 2007
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