A partir desta segunda-feira, ministros de cerca de 35 países estão reunidos em Genebra, na Suíça, para dar continuidade às negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O encontro em Genebra deverá se estender por toda a semana e é considerado a última chance de se obter um acordo de liberalização do comércio mundial, pelo menos neste ano.
A Rodada Doha foi lançada há sete anos, mas está paralisada devido a divergências sobre o nível de abertura em setores de interesse de países ricos e pobres.
Os países em desenvolvimento querem maior abertura no setor agrícola das nações desenvolvidas, incluindo a redução ou o fim de subsídios. O bloco dos países desenvolvidos pressiona por maior abertura nos setores de indústria e serviços.
Entenda o que está em jogo nas negociações.
Há quanto tempo as negociações da Rodada Doha vêm sendo realizadas?
A Rodada Doha da OMC foi lançada em novembro de 2001, na capital do Qatar, com o objetivo de obter maior liberalização do comércio mundial.
Quase sete anos depois, os países envolvidos nas discussões ainda não conseguiram chegar a um acordo.
Até agora, as discussões têm girado principalmente em torno do tamanho dos cortes nos subsídios à agricultura por parte dos países desenvolvidos e no quanto o comércio de serviços pode ser liberalizado.
Por que as negociações foram paralisadas?
Um dos pontos mais polêmicos é o quanto os países ricos aceitam remover suas barreiras a exportações agrícolas dos países pobres.
Também há divergências sobre o quanto as nações em desenvolvimento aceitam abrir seus mercados para bens manufaturados e serviços.
Os países em desenvolvimento criticam o que consideram políticas protecionistas, principalmente por parte dos Estados Unidos e da União Européia.
Eles querem provas concretas de que os países desenvolvidos estão dispostos a abrir seus mercados com cortes expressivos em suas tarifas de importação e nos subsídios à agricultura.
O principal problema é que o livre comércio em agricultura tem se mostrado bem mais difícil de ser negociado do que em bens manufaturados.
Em que ponto está a negociação?
Durante esta semana, os representantes dos países envolvidos deverão ter reuniões dia e noite para tentar aprovar uma proposta de acordo em agricultura e produtos não-agrícolas.
Há alguns sinais de progresso. A União Européia disse estar preparada para reduzir suas tarifas agrícolas em 60%, o que significa um avanço em relação a propostas anteriores.
No entanto, os Estados Unidos afirmam que só irão reduzir seus subsídios agrícolas se os países emergentes abrirem seus mercados, cortando tarifas industriais.
Qualquer proposta de acordo que seja decidida em Genebra terá que receber o aval de todos os 152 membros da OMC antes de ser aprovada.
Há uma corrida contra o relógio para se chegar a um acordo. Os envolvidos nas negociações querem fechar um acordo antes que o novo presidente americano assuma o poder, em 2009.
O novo presidente dos Estados Unidos pode querer fazer mudanças na política comercial do país, e qualquer acordo sem a participação da maior economia do mundo seria bastante enfraquecido - ou mesmo inútil, segundo analistas.
Os atuais problemas na economia mundial afetam as negociações?
A saúde da economia global se deteriorou desde a última reunião para discutir a Rodada Doha, com desaceleração no crescimento nos países desenvolvidos e aumentos do custo de vida.
A alta mundial dos preços dos alimentos, que dobraram desde o ano passado, teve efeito maior sobre os países mais pobres, onde uma proporção maior da renda familiar é gasta em comida.
Segundo analistas, isso levou a um aumento do protecionismo nos países exportadores de alimentos.
Os defensores de um acordo afirmam que ele iria ajudar a reduzir a pobreza e a criar empregos nos países em desenvolvimento, enquanto os países ricos podem se beneficiar se conseguirem exportar mais bens e serviços.
Calcula-se que um acordo possa injetar US$ 100 bilhões por ano na economia mundial.
Quais seriam as conseqüências de um fracasso nas negociações?
O comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, afirma que há 50% de chance de sucesso. O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, é mais otimista.
Um fracasso nas negociações significaria o fim da Rodada Doha, já que as eleições americanas devem dominar a agenda política mundial a partir de agora.
Isso enfraqueceria a realização de acordos multilaterais, já que os países negociariam acordos comerciais individuais entre si, o que colocaria os países menores em desvantagem.
Os maiores países em desenvolvimento, como Brasil e Índia, também perderiam com o fracasso nas negociações, porque precisam de mercados abertos para suas crescentes exportações.
No entanto, algumas organizações não-governamentais (ONGs) afirmam que é melhor que não haja nenhum acordo do que um acordo que seja desfavorável aos países mais pobres.
Para a OMC, o fracasso em obter um acordo depois de sete anos de negociações significaria o maior revés de sua história.
Fonte: BBC Brasil
quarta-feira, 23 de julho de 2008
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