Do Observatório da Imprenssa
Dias atrás, Bruno Blecher escreveu aqui ("Biodiesel é notícia séria") que o assunto biodiesel é sério e que nele estamos à frente dos americanos. Tem razão o Blecher. É sério, sim. Mas estamos atrasados: desde o governo Geisel o Brasil já podia ter parte da frota pesada movida a biocombustível.
Para piorar, por desinformação, má vontade ou mesmo ideologia, colaboradores de jornais, revistas e alguns jornalistas combatem algumas das particularidades quando não o Programa Nacional de Biodiesel como um todo. Deveriam pesquisar mais, acho eu.
A ONG Sociedade Brasileira de Desenvolvimento, a PróBrasil, da qual sou vice-presidente e assessor de imprensa, desenvolve estudos nessa área para clientes como Ale Combustíveis e Uni Oil. Neles baseado, ofereço alguns subsídios para clarear o assunto. Ofereço também reparos às abobrinhas que andam sendo publicadas:
1) Qualquer oleaginosa serve para fazer biodiesel. No Brasil há umas 200 dessas fontes –babaçu, girassol, mamona, nabo forrageiro, soja, milho, canola, pequi, palma, pracaxi, buriti, piquiá, inajá... Umas dão em árvores. Outras são plantas. A maioria das fontes desconhecidas é encontrada na Região Amazônica.
Várias fontes são ilustres desconhecidas da imprensa – pinhão manso, originário do Semi-Árido, é um exemplo. Mas não dos pesquisadores. Algumas congêneres da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estão levantando tudo sobre algumas dessas fontes energéticas.
2) Em virtude dessa diversidade, e do tamanho do país, não se pode apontar uma como "a oleaginosa", isto é, a melhor fonte para todo o território. Existe "melhor" para cada região. Todas têm vantagens e desvantagens. O nabo forrageiro, por exemplo, produz pouco óleo. Mas seu custo de produção é uma baba.
Vejamos a palma – ou dendê. Ela fornece algo ao redor de 6 mil litros de óleo por hectare/ano. Colhe-se hoje e daqui a 12 dias já se pode colher de novo, no mesmo pé. E isso perdurará por 20, 30 anos. Fabuloso, não? Nem tanto: em contrapartida, planta-se hoje e só se começa a colher a partir do quarto ano. Isso não é muito atrativo para investidores...
A colheita é manual, o que tem a vantagem social de criar empregos e a desvantagem de desestimular o empresário do agronegócio, pois ele não quer empregar (quase) ninguém.
Informações esdrúxulas
Sem falar que a palma, fora um pequeno pedaço da Bahia, só dá na Região Amazônica. Lá, os custos de logística são mais elevados. Ademais, o óleo de dendê gera mais dinheiro do que o biocombustível. Por que então alguém faria biodiesel dele? (Isso mudará apenas no dia em que o mercado do dendê estiver totalmente atendido. Deve demorar anos, pois a demanda é maior do que a oferta.)
Fiquemos assim: na Amazônia, a melhor parece ser a palma. No Semi-Árido, que vai do Norte de Minas até parte do Maranhão, é um blend que terá sempre a mamona como um dos ingredientes. No Centro-Oeste, por causa das boas condições de solo e outros fatores, tantas são elas que nem vale a pena mencionar.
No Sul e Sudeste (leia-se São Paulo), esquece: ninguém produzirá biodiesel em quantidade. O preço da terra inviabilizará sua produção. Ou seja, produzir o sucedâneo do diesel é mais viável no Norte-Nordeste, incluído o Norte de Minas, e Centro-Oeste, lugares de terras ainda baratas.
Mas quem decide qual planta é melhor, e onde instalar a indústria, em última instância, é o empresário, que arrisca o seu rico dinheirinho, e não o seu agrônomo, consultor, governo, gente contra ele ou... a imprensa, que dá guarida às mais esdrúxulas informações.
Vantagem econômica
Resumindo: se o empreendedor tem fôlego financeiro para esperar anos pelo retorno, deve optar pela palma ou algo parecido. Caso contrário, por outras oleaginosas que proporcionem retorno mais rápido. A escolha será feita de acordo com a região, o clima e uma série de variáveis como conveniência, localização, distância de portos, de fornecedores etc.
3) Um dos aspectos polêmicos é o biodiesel feito de soja. Ela é boa alternativa? Depende. Dias atrás o presidente Lula afirmou algo do tipo "a soja normal a gente come e da transgênica a gente faz biodiesel". Bobagem do presidente. A soja, transgênica ou não, é péssima fonte oleaginosa. Na média ela dá apenas 700 litros de óleo por hectare/ano.
Disse o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite que o balanço energético do biodiesel a partir da soja é negativo: gasta-se quase a energia de um litro de gasolina para obter-se outro tanto de produto à base de soja. E isso não contribuiria para o desaquecimento global. Segundo Leite, o governo comete erro ao incentivar a produção de biodiesel de soja. É fato. Quanto à questão energética, não duvido que Leite esteja certo. Todavia, posso dizer que boa parte da energia que se consome na produção do óleo propriamente dito é obtida a partir da luz solar.
Noves fora essa questão, os cálculos indicam que quem plantar soja para fazer biodiesel e vender aos distribuidores poderá perder, uma vez que a soja em grãos pode dar mais dinheiro. Mas é certo que onde o óleo diesel custa 2 ou mais reais por litro, biodiesel de soja para consumo próprio, ao custo de até 1,20 real por litro, é uma vantagem econômica, pois reduz os gastos com o diesel que movimenta as máquinas agrícolas.
Mercado inelástico
4) Li, algumas vezes, que mamona é ruim como alternativa energética. Será? Plantada em sequeiro, ela dá uma média de 1.200 litros de óleo por hectare/ano – 70% a mais do que a soja. E o dobro quando irrigada, pois assim se têm duas safras num só ano (a soja não permite duas safras).
Em sequeiro, a mamona se presta perfeitamente à agricultura familiar. Mamona "gosta" de terra "ruim", como as do sertão nordestino. Uma área de 5 hectares pode gerar para cada família uma média de 700 reais/mês. A variação de preços é muito grande; nos últimos anos a mamona já esteve cotada a 80 reais por saca, mas atualmente são cerca de 40 reais. O custo de produção? 13 reais/saca.
Dizem também que seu trato é difícil. Como se as outras não o fossem... Mas só um empreendedor muito despreparado fará biodiesel exclusivamente dela, já que a mamona, numa safra, pode ser plantada consorciada, por exemplo, ao girassol. Na safra a seguir, ao amendoim. Nessa combinação, numa terra irrigada, pode-se obter, num só ano, 4.500 litros de óleo por hectare.
Fora isso, do resto do fruto da mamona pode-se fazer ração. Basta retirar as toxinas. É um processo à base de vapor, já existente e em fase de melhoria tecnológica pela Embrapa. A casca tem outra serventia, a queima em caldeira.
Dizem os críticos: mas 1 litro de óleo de mamona não vale mais do que um de biodiesel? Sim, vale. Só que, ao contrário do mercado de dendê, o de mamona tornou-se quase inelástico. Aumentar a produção de óleo de rícino deprimirá o preço internacional do produto. Se usado na produção do biocombustível, seu mercado decuplicará.
Em briga com os fatos
Toda força deve ser dada à pesquisa da mamona. Ela mal começou. A Embrapa pesquisa novos cultivares. Eles estão em testes e, mais dia, menos dia, teremos, quem sabe, um produto transgênico. Muitos são contra: pra que pesquisar mamona se ela nasce em qualquer lugar? O governo vai é jogar dinheiro fora! Santa ignorância. Todo mundo acredita que mamona não precisa de adubação nem de irrigação, que praga não ataca e outras crendices. Triste engano: não há defensivo específico para as lagartas que a atacam. A mamona comum que se vê em terrenos baldios não se presta à produção industrial. O pé é alto demais e isso dificulta a colheita. A indústria precisa de mamoneiros anões, para colheita mecanizada.
Algumas variedades, muito produtivas, já são cultivadas na Bahia. Mas elas ainda não são as ideais. Segundo os pesquisadores, os novos cultivares em teste produzirão entre 5.500 e 6 mil litros de óleo por hectare/ano. E isso num prazo estimado de 5 anos. Quer dizer, no futuro, um hectare de mamona, consorciado a amendoim e girassol, poderá dar 50% a mais do que a palma, que há anos é continuamente pesquisada. Quem duvidar que pergunte ao professor Napoleão Beltrão, da Universidade Federal da Paraíba e da Embrapa, a maior autoridade brasileira em mamona.
5) O negócio biodiesel é muito mal divulgado e as páginas de revistas, jornais e sites já abrigaram artigos de colunistas e jornalistas que dele quase nada entendem. Pensam que a maior parte do custo está na usina, na industrialização. Claro que não: 70% dele estão em plantar, manter e colher. Tem colunista que, para combater Lula, já disse que o biodiesel custa mais caro do que o diesel. É o caso de Diogo Mainardi, da Veja. Receio que ele não saiba a diferença entre uma fatura e uma duplicata, pois o conhecimento demonstrado sobre o mundo dos negócios é pífio. Ele confunde custos, investimentos e fomento. Um espanto!
Como Mainardi, partes interessadas no negócio combustíveis, no meio ambiente e em outros aspectos têm escrito abobrinhas contra o biodiesel porque o vêem como um produto isolado. Não levam em conta a cadeia de produção. Dizem, no geral, que o biodiesel é um mau negócio. Brigam com os fatos. Se esse negócio fosse ruim, o grupo Vale do Rio Doce, o maior consumidor de óleo diesel do país (1 bilhão de litros por ano), nele não entraria. Atualmente o grupo testa o combustível, fornecido por terceiros, em suas locomotivas. Mas o grupo Vale já plantou 15 mil hectares com palma lá no Pará.
Os grandes vêem longe
Tampouco banqueiro meteria a mão nessa cumbuca. Não se conhece banqueiro bobo, aquele que entra num negócio novo para perder dinheiro. Pois o banqueiro Aloísio Faria é dono do Banco Alpha e da Agropalma. Ela tem a maior plantação de palma do país e também produz biodiesel. Mas a usina de Faria faz o produto a partir do rejeito do óleo de dendê. Esse rejeito acarretava um seriíssimo problema ambiental. Além de resolver o problema, Faria agora lucra muito mais: produz o biodiesel a 50 centavos e vende a 1,80 real por litro à Petrobras. Sim, a estatal paga caro pelo biodiesel.
Não só ela. A Ale Combustíveis, de Belo Horizonte, a primeira distribuidora de petróleo do país a vender o produto, paga ainda mais caro: 2 reais aos produtores. A Ale vende por até 1,70. O prejuízo é pequeno por causa da quantidade comprada. A Ale compensa a perda com o ganho na imagem, a de pioneira.
Petrobras e Ale jogam seus dados com a certeza de que o biodiesel pode ser obtido a menores preços. Ou vendido mais caro. As duas, como as outras distribuidoras, são pragmáticas: elas vendem combustíveis. Diesel ou biodiesel, tanto faz. O negócio é ter para vender.
6) Grandes grupos vêem o longo prazo e o negócio como um todo. Além da ração e do adubo gerados, comuns a quase todas as fontes (girassol e amendoim dão muito adubo e ração), no processo – qualquer que seja a fonte oleaginosa – colhe-se mais um subproduto. É a glicerina. A cada 100 litros de biodiesel produzidos tem-se, compulsoriamente, 10 litros de glicerina. (Dependendo da(s) oleaginosa(s), o biodiesel é que é o subproduto.)
Banqueiros atentos
A glicerina primária vale 1,80 real por litro. Purificada, sai a 6 reais. Importamos hoje 70 milhões de dólares/ano de glicerina. Deveremos passar a grandes exportadores. Ainda assim, que fazer com a grande sobra que se avizinha? A resposta está na gliceroquímica. Dela obtêm-se produtos de até 20 dólares por quilo, como acrílicos.
Então, se levada em conta a venda de todos os produtos (se você planta girassol estará dando um tiro no pé caso não aproveite para ter também a apicultura), hoje uma usina para 30 milhões de litros anuais de biodiesel, com produção agrícola própria, proporcionaria um retorno de capital na faixa de 30% ao ano.
Em outras palavras, em menos de 3 anos o investidor teria o seu capital de volta – algo ao redor de 12 milhões de reais. Qual o agronegócio, no mundo, que dá mais retorno do que esse? Difícil dizer, ainda mais com o financiamento com taxas e prazos de pai pra filho do BNDES.
7) Incorre em grave equívoco quem acredita que o custo do biodiesel é maior do que o do diesel na refinaria. Né não! Quer dizer, depende de que custo estamos falando. Repito o argumento: se fosse assim, nenhum banqueiro investiria nesse negócio. É o caso de Daniel Birmann, agora um sem-banco. Ele é o dono da usina inaugurada pelo presidente Lula no Piauí. Birmann, arrisco dizer, produz na faixa de 1 real por litro e isso porque se abastece de mamona com agricultores familiares. (Nada impede que compre de outras fontes: o produto final é sempre o mesmo e um biodiesel pode ser misturado a outro.)
As irmãs e as sobrinhas
Dependendo de vários fatores, 1 litro de biodiesel pode ser produzido na faixa dos 80 centavos de real. Portanto, o custo é igual ao que o diesel custa às distribuidoras na Petrobras – 0,83 centavos por litro. É esse o custo, o da venda, que interessa à sociedade. O custo de produção do diesel só a Petrobras sabe. Eu suponho que seja a metade do preço de venda.
8) Por enquanto o diesel tem custo imbatível. Mas isso vai mudar. O petróleo já chegou aos 65 dólares por barril. Não deve baixar mesmo quando a guerra do Iraque acabar. Dizem os especialistas que podemos esperar o barril, em 2010, a mais de 100 dólares. Nesse ritmo, calculo eu, o preço na refinaria chegará a 1,50 real por litro antes de 2010.
Guio-me pelas reservas conhecidas. As da Petrobras são suficientes para apenas mais 15 a 20 anos, dependendo do consumo e da descoberta de novas jazidas. Parece certo que o petróleo escasseará a partir de 2015 em todo o mundo. Grandes frotistas, como Casas Bahia e Martins, andam preocupados com esse cenário. Produzir para consumo próprio é uma possibilidade que muitos deles estão estudando. Como qualquer pessoa, eles somam um mais um e chegam à seguinte conclusão: veículos leves poderão ser movidos a álcool, energia elétrica ou solar. Mas qual combustível substituirá o diesel, que movimenta os motores pesados e os extrapotentes? Ele, o biodiesel, que tem as mesmas propriedades do diesel e nenhuma das desvantagens!
Isso leva a uma outra pergunta: quando o biodiesel se tornar uma commodity e se transformar até em sucedâneo para o querosene de aviação (os americanos já pesquisam nesse sentido), quem dominará a distribuição? Resposta óbvia: as 7 irmãs do petróleo e suas sobrinhas, incluindo a Petrobras. Elas, com 100% de certeza, também entrarão nesse mercado.
Comprando terras
Assim, ou talvez por isso mesmo, o futuro do biodiesel parece róseo. Se Lula e seu governo – e os que se seguirão – não colocarem tudo a perder, esse combustível poderá ser, de verdade, um grande negócio pro Brasil. Vamos comparar: a Alemanha, a maior em biodiesel, faz mais de 1 bilhão de litros/ano. Os alemães produzem a partir da colza, do girassol e também de óleo de cozinha, reciclado após a fritura das batatas. Lá o preço do produto é, nas mais de 1.200 bombas exclusivas, bem mais alto do que o diesel.
A produtividade das oleaginosas de que os germanos dispõem, perto da do babaçu, e de outras plantas abundantes no Brasil, é nanica. Conclusão: por mais que aumente a produtividade, a Alemanha não conseguirá produzir um volume substancialmente maior do que o de hoje.
Isso também porque, na Alemanha e em toda a Europa, só se tem uma safra por ano. É evidente então que eles não podem produzir aos custos do Brasil. Ora, só lhes resta produzir biodiesel onde as condições são mais favoráveis. Leia-se: Brasil. É por essas e outras que europeus e americanos estão comprando cada vez mais terras na Bahia, em Mato Grosso, Goiás e alhures.
Um homem perseguido
9) Quem vai lucrar com o biodiesel? Evidente que ele não é para a nossa arraia miúda empresarial. Médio empresário? Sim. Os pequenos agricultores terão vez? Como produtores da matéria-prima, sim. De biodiesel, não. Isso valorizará a pesquisa. Se as oleaginosas forem estudadas de forma a termos as melhores alternativas para cada microrregião, a agricultura familiar será viabilizada e, assim, poderá haver uma elevação da renda no campo sem precedentes na nossa história. Principalmente no Nordeste.
Elevação da renda, eu disse. Não enriquecimento. Inicialmente, coisa do tipo de 1 para 3 salários mínimos/família/mês. É pouco? Sim. Mas, na realidade nordestina, até que é muito. E uma renda assim multiplicada já muda muita coisa por lá.
10) Por isso tudo, a imprensa não deveria abrir frente contra o biodiesel sem investigar melhor o assunto. Trata-se, como disse o Blecher, de um programa importante que, além de gerar ocupação e renda para milhões de trabalhadores rurais, incrementará o PIB e vai gerar dólares via exportações. De quebra, ajudará a limpar o ar poluído que respiramos.
Digo isso porque, no governo Geisel, o professor Bautista Vidal, à frente da estratégica Secretaria de Tecnologia do MCT, espalhou vários laboratórios de pesquisas país afora para implantar o programa nacional de combustíveis renováveis – álcool e biodiesel. Diz Bautista Vidal, um homem perseguido pelos entreguistas deste país, que o Brasil pode produzir tanto combustível renovável, a partir da biomassa, quanto a Arábia Saudita produz de petróleo – seis milhões de barris por dia. Por que o programa não andou? Uma das razões foi a descrença/desinteresse da imprensa.
Crime de lesa-pátria
Outra, mais poderosa: falta de verbas. Um dos laboratórios favorecidos por Vidal era, e é, o Cetec, de Minas Gerais. Nele foi desenvolvido, no governo Tancredo Neves, um programa de biodiesel – quem consultar arquivos da época verá fotos de Tancredo andando num veículo movido a esse combustível. O Cetec precisava seguir em frente, mas não foi muito adiante por falta de mais verbas.
Veio então o (des)governo de João Figueiredo. Nele o esforço de Vidal, por pressão das 7 irmãs petrolíferas, que já não se conformavam com o Proálcool, e também porque a economia mundial se acomodara ao petróleo num patamar mais caro, foi jogado fora: simplesmente cortaram as verbas da pesquisa e ele acabou demitido.
Mas o pior ainda estava por vir. Num verdadeiro crime de lesa-pátria, o governo Collor arrasou os laboratórios de Vidal. Ordenou-se que os arquivos fossem destruídos e é por isso que quase nada restou da bibliografia sobre o pinhão manso, que está sendo refeita pela Epamig e a Emater, da Secretaria de Agricultura mineira.
O efeito-cascata
Acontece que hoje a situação guarda alguma semelhança com o passado recente: o Cetec está encarregado, pela Finep, de desenvolver uma tecnologia verde e amarela para a produção contínua de biodiesel – aqui só se produz por batelada. Faz diferença? Na Europa, as maiores usinas de biodiesel são para 100 milhões de litros/ano. No Brasil, quando muito, 12 milhões no mesmo período.
A menos que haja uma forte pressão a favor – com a imprensa falando mal gratuitamente do programa isso não acontecerá –, a verba da Finep pro Cetec, uma mixaria de 18 milhões de reais, chegará no lombo de uma tartaruga...
Enfim, é importante ter, além das melhores oleaginosas, uma tecnologia nacional competitiva: no mercado interno, para substituir por completo o diesel, que hoje é consumido à razão de 36 bilhões de litros/ano, será necessário encomendar cerca de 12 bilhões de reais em equipamentos industriais. Para exportação serão outros incontáveis bilhões. Leia-se: excelente oportunidade para a indústria de bens de capital do país, à qual será repassada a tecnologia do Cetec.
Acrescente-se a isso o dispêndio com maquinário agrícola e a demanda expandida para os adubos, os defensivos, as sementes e se verá o quanto o biodiesel poderá gerar de benefícios sociais e econômicos.
domingo, 15 de junho de 2008
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