domingo, 22 de junho de 2008

Produção de biodiesel é baixa e ameaça meta do governo

Com a relação entre oferta e demanda bastante ajustada, são os novos investimentos do setor de biodiesel que irão definir o abastecimento do País a partir do dia 1º de julho, quando o B3 - adição de 3% de biodiesel ao diesel - passa a ser obrigatória.

De acordo com informações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), no primeiro quadrimestre do ano a produção brasileira foi de 275,6 milhões de litros, volume que atende com uma ligeira folga a demanda pelo B2, mas que não chega a 30% do necessário para o cumprimento da meta de 2008 que é de 1,2 bilhão de litros consumidor no ano.

Além da desconfiança quanto à fiscalização do uso de B3 nos postos de gasolina, os preços do óleo de soja também exigem cautela dos executivos que estão à frente dessas usinas. A alta cotação do óleo, que chegou a R$ 3 mil por tonelada em abril, refletiu imediatamente na produção de biodiesel que, por sua vez, recuou de uma média de 75,8 milhões de litros nos dois primeiros meses do ano, para um patamar de 61,9 milhões de litros nos meses de maio e abril.

Segundo Miguel Biegai, analista da Safras & Mercado, o fornecimento está sendo adequado, mas sem considerar a formação de estoques estratégicos estabelecidos pelo governo federal, de 100 milhões de litros.

Para o segundo semestre, a previsão é de uma melhora do cenário. "O biodiesel que está sendo entregue hoje foi vendido por preços bem abaixo do custo de produção. No segundo semestre essa situação deve melhorar em razão de preços mais elevados e de um maior número de empresas entregando", avalia Biegai.

Os últimos leilões de biodiesel, realizados em abril, tiveram um preço médio de R$ 2,69 o litro. Eles são considerados um divisor de águas nesse mercado por garantirem a viabilidade da produção e promoverem não só o retorno, como também a entrada de algumas empresas ao mercado.

Se por um lado pelo menos 10 companhias não produziram este ano, por outro, quatro usinas que iniciaram suas atividades nesse semestre, já representam quase 25% de toda a produção nacional de biodiesel. Archer-Daniels-Midland CO. (ADM), Biocamp, Cooperfeliz e Fiagril começaram a funcionar em 2008 e produziram juntas, até abril, mais de 56 milhões de litros.

A Barrálcool, que tinha interrompido suas atividades em janeiro, voltou a produzir a partir do último leilão. "Paramos porque além de não ter para quem vender, os preços não cobriam os custos de produção. Isso ocorreu porque houve um investimento forte nesse setor e a oferta ficou maior que a demanda", diz Silvio Rangel, gerente do departamento de biodiesel da Barrálcool.

No último leilão a empresa vendeu 7,8 milhões de litros e agora voltou a produzir, mas ainda está longe de atingir toda a sua capacidade que é de 57 milhões de litros. "Isso vai ocorrer só a partir do B5", acredita Rangel.

Entre as empresas mais otimistas com o mercado a partir do próximo semestre destaca-se a Bioverde. A companhia fez uma parceria com uma esmagadora de soja e terá garantido o fornecimento da matéria-prima para ampliar a produção. Nos últimos leilões a empresa vendeu 15 milhões de litros para a ANP e mais 2 milhões para a Petrobras,

Apesar de a construção das instalações da usina terem começado em 2005 a companhia iniciou a produção apenas esse ano e foi uma das que conseguiram preços mais elevados nos leilões. "O mercado todo é novo, até o ano passado havia poucos players, apenas grandes empresas trabalhando num mercado sem muitas regras, mas agora a competitividade está melhor e a tendência é o crescimento dessas empresas que estavam em formação e nos últimos meses entraram no mercado", afirma José Pereira Júnior, gerente de desenvolvimento do grupo Bioverde.

A Caramuru, empresa já tradicional no setor de grãos e produtos alimentícios, é outra que começou a operar nos últimos meses e, com uma operação crescente, pode alterar o cenário entre as líderes do setor de biodiesel. Para este ano a empresa pretende chegar a 75% da sua capacidade de produção que é de 110 milhões de litros.


Priscila Machado
Fonte: DCI - Comércio, Indústria e Serviços

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