A celeuma sobre o aumento do desmatamento na Amazônia foi fomentada por um boletim de janeiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que estimou o sumiço de 7.000 quilômetros quadrados de Floresta Amazônica entre agosto e dezembro de 2007.
Os números do desmatamento na Amazônia em fevereiro, medido pelos satélites do Inpe, como já ocorrera no fim do ano passado e no mês de janeiro, mostram a devastação em alta. No mês de fevereiro foram cortados 725 quilômetros quadrados de mata, contra os 266 quilômetros quadrados do último índice disponível para um mês de fevereiro, o de 2005.
O anúncio causou consternação no governo federal, que vinha alardeando a queda do desmatamento nos últimos três anos. A escalada no desmatamento é notícia que mexe com o brio dos brasileiros. Equivale à derrota do país numa competição esportiva no exterior. Afinal, a Amazônia é um patrimônio nacional a ser preservado.
O sistema de monitoramento por satélite da Amazônia é uma referência internacional de qualidade. O Inpe utiliza dois sistemas, o Prodes e o Deter. O primeiro, mais acurado, fotografa a região durante o período de seca, que termina em setembro, e serve de base para a comparação entre um ano e outro. Só registra áreas já limpas de floresta. O Deter opera o ano todo e tem a função de alertar sobre novos focos de desmatamento. Por isso leva em conta as várias fases de degradação da vegetação. Eram desse sistema os dados usados para dar o alerta em janeiro.
Mas, às vezes as estatísticas não reproduzem fielmente o que as fotografias mostram. Recentemente, o Inpe reconheceu que os números divulgados estavam errados - e bem errados. A primeira informação era de que tinha havido o desmatamento de 725 km², depois reduzidos para 243 km² quando se constatou ter havido falhas técnicas e humanas na análise das imagens. Ainda assim, os números são alarmante.
Na verdade, o Deter detectou 3.235 quilômetros quadrados em diferentes níveis de desmatamento. Como esse sistema capta entre 40% e 60% do que é registrado pelo Prodes, os pesquisadores multiplicaram o resultado por dois. Não se trata de um número fechado, mas de uma projeção estatística dos dados obtidos pelos satélites. Quem questiona o alerta diz que muitas áreas degradadas podem permanecer dessa maneira por anos, sem nunca ser levada em conta no índice anual do desmatamento. Isso não muda a situação. O que se pode dizer com certeza é que o número de alertas do Deter subiu quase 30% nos últimos meses. Só existe uma tradução possível: a atividade predatória aumentou na Amazônia.
O presidente Lula, por sua vez, acha que houve um “alarde” exagerado em torno dos números divulgados. “Você vai ao médico, você está com um tumorzinho e, em vez de fazer biópsia e saber como vai se tratar, já sai dizendo que tem câncer” - comparou. Mas foi o governo por ele presidido que, alarmado pelos números, baixou as tradicionais “medidas enérgicas” para acabar com o abuso e punir os culpados. Primeiro, suspendeu o crédito concedido para os agricultores e pecuaristas dos municípios mais afetados pelo desmatamento. Depois, anunciou que deverão se recadastrar cerca de 80 mil propriedades espalhadas por uma área de cerca de 100 milhões de hectares. O último recadastramento que o governo mandou fazer custava cerca de R$ 18 mil para cada proprietário e, como era de esperar, foi um fracasso.
Além disso, suspendeu as autorizações para corte de árvores. O único problema é que quase todo o desmatamento na região é feito clandestinamente, não depende da autorização oficial. Decidiu, ainda, que será enviada para lá uma força-tarefa composta por 780 homens da Polícia Federal (PF), Força Nacional de Segurança Pública e Polícia Rodoviária Federal para, a partir da segunda metade de fevereiro, combater os crimes ambientais.
Em resumo, as tais “medidas enérgicas” ficam bem no papel e servem para disfarçar a desorientação do governo. O que não se faz é acompanhar de perto a atividade dos agricultores, pecuaristas e madeireiros na Amazônia. Para isso, não se precisa de novos projetos e leis, mas sim de fiscais. O escritório do Ibama de Alta Floresta - uma das áreas críticas de desmatamento - só conta com três fiscais para cobrir uma área de 92 mil km², maior que a dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Sem uma fiscalização severa, intensiva e permanente não há força-farefa da PF que consiga conter a devastação da Amazônia.
Ver também: Devastação em números
quarta-feira, 28 de maio de 2008
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