quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Estratégia do governo impede crescimento do biodiesel no país

Apontado por especialistas como o futuro da produção de combustíveis, o biodiesel enfrenta, no Brasil, um problema estratégico: a forma de produção.

Compromisso de campanha do primeiro governo Lula (PT), a produção familiar dos componentes do biodiesel, em especial no Norte e Nordeste, foi incentivada pelo governo, com reduções que chegam a 100% de encargos como PIS/Pasep para as empresas que comprem matéria-prima da agricultura familiar.

A lei brasileira determina que, até 2008, todo o óleo diesel consumido no país seja composto por uma mistura de 2% de biodiesel e 98% de diesel de petróleo, o que gera um mercado estimado em 800 milhões de litros anuais. Entretanto, a produção familiar não alcança, hoje, os 50 milhões de litros.

“A opção pela agricultura familiar é importante, mas se limita a um complemento. Jamais vai atingir os números necessários para suprir o mercado nacional”, afirma Carlos Freitas, engenheiro especialista no assunto.

Segundo o governo federal, para suprir a demanda, nos atuais moldes, será necessário que 1,5% da área agricultável do país seja dedicada a matérias-primas para o biodiesel, condição que parece difícil de ser preenchida pela agricultura familiar, que ocupa, hoje, apenas 0,25% do total das áreas.

Piauí é exemplo negativo

No Piauí, cuja experiência de produção de mamona em assentamento foi a primeira do Brasil, há muitas queixas dos assentados, que, para dar conta da produção e ter retorno financeiro, estão virando monoprodutores.

Em lugar de manter sua diversidade de produção, como idealizado pelo governo, eles estão produzindo apenas mamona.

O rendimento médio mensal para os monocultores chega a R$ 3,5 mil. Já os policultores não conseguem mais que R$ 1,5 mil.

“Não temos muitas alternativas. Precisamos produzir e o único caminho é plantar só mamona”, afirma Cláudio Souza, agricultor piauiense, à Agência Brasil.

Álcool aposta na indústria

O domínio brasileiro da fabricação de álcool de cana-de-açúcar, ao contrário do biodiesel, aconteceu por uma aposta na escala industrial de cultivo para a formação de mercado.

No final da década de 1960 e começo da de 70, com o Pró-Álcool, o governo influenciou diretamente, por meio de subsídios, a produção e a distribuição de álcool em parceria com grandes proprietários que apostaram na monocultura intensiva de cana.

“O governo fez a opção que deu ao país o domínio do processo de fabricação. Não é o único, mas não pode ser desprezado”, diz Carlos César Borges, da logística da Secretaria de Agricultura.


Eduardo Schiavoni - 08/01/2007
Fonte: Bom Dia Rio Preto

Agência UDOP de Notícias

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