quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Biodiesel: Uma questão tão Promissora quanto Complexa

Em dois dias de discussão, importante evento sobre Biodiesel e H-Bio atesta o enorme potencial e a grande vantagem competitiva que o país tem sobre as demais nações do globo. Entretanto, muitas restrições e pontos foram levantados, e certamente ainda existem muitos desafios e obstáculos para o setor. Abaixo (foto) palestra do pesquisador da Embrapa Soja Amélio Dall’Agnol sobre tecnologias e ações do órgão para auxiliar o desenvolvimento do Biodiesel.

Nos dias 12 e 13 de julho foi realizado em São Paulo, no Mercure Paulista Hotel, o seminário “Biodiesel e H-Bio: Pontos Críticos e Perspectivas para seus Negócios”. O evento promovido pela Internews, com apoio do Portal do Agronegócio, contou com a presença de muitos dos maiores especialistas, representantes governamentais, dirigentes e empresários ligados ao setor de biocombustíveis, em especial de Biodiesel.

No primeiro dia do seminário, destaque para a apresentação do gerente de desenvolvimento da Petrobrás, Carlos Nabuco, que esclareceu que o H-Bio não é propriamente um combustível, mas sim um processo desenvolvido pela empresa, em que óleo vegetal é adicionado a frações de diesel, passando por uma etapa final de hidrogenação catalítica, obtendo-se diesel com menor teor de enxofre. Os questionamentos ficaram por conta da influência que o H-Bio pode ter no programa de biodiesel, já que aumentará ou até mesmo concorrerá pela demanda de óleos vegetais.

Outro momento importante foi a palestra do Diretor Comercial do Grupo Agropalma, Marcello Brito, que contrastou as vantagens que as indústrias de biodiesel do país tem, como excepcionais condições de clima, tecnologia, variedade de oleaginosas e vontade governamental, com as desvantagens, como instabilidade política e agrária, péssimas condições de infra-estrutura e falta de política de longo prazo especialmente para os sub-produtos da cadeia produtiva de biodiesel.

Ainda no primeiro dia foram apresentados aspectos importantes da Distribuição e Comercialização do Biodiesel pela presidente da BR Distribuidora, Graça Foster, e pelo diretor-superintendente da ALE Combustíveis, Cláudio Zattar, mostrando que já existem mais de 1000 postos revendedores no país.

No fechamento do dia, foram apresentados em primeira mão, os resultados do 3o e 4o leilões de Biodiesel, promovido no mesmo dia pela ANP (confira no site da ABIOdiesel - www.abiodiesel.org.br). Com os resultados dos quatro leilões, atingiu-se a marca de 840 milhões de litros, o que equivale à necessidade para cumprir com antecipação a meta de obrigatoriedade de B2 (diesel com adição de 2% de biodiesel, em volume) para 2008.

No segundo e último dia do evento, o coordenador do Programa de Biodiesel do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Arnoldo de Campos, destacou os critérios exigidos para que as usinas de biodiesel possam obter o Selo Combustível Social e gozar de benefícios tributários sobre a venda do produto. Aquisição de percentual mínimo de matéria-prima oriunda da agricultura familar, estabelecida por região, fechamento de contratos negociados com agrupamentos de agricultores familiares e garantia de assistência técnica e capacitação aos produtores são os principais requisitos. Campos apresentou ainda a linha de crédito Pronaf Biodiesel, voltada a produção de oleaginosas utilizadas para fabricação de biodiesel.

Voltando-se especialmente para questões técnicas e econômicas na implantação de unidades produtivas, o pesquisador da UFRJ, Donato Aranda, categoricamente exibiu dados de custos e investimentos, além de mostrar os recentes desenvolvimentos tecnológicos na fabricação de biodiesel. Para Aranda, uma das restrições para a viabilidade de usinas de pequeno e médio porte é a qualidade, já que a certificação depende da instalação de laboratórios especializados e análises físico-químicas que requerem maior aporte de capital.

Na parte final do evento, foram ainda discutidas questões relativas às linhas de financiamento do BNDES, a tributação e taxas na produção e comercialização e as vantagens comparativas das diferentes oleaginosas, em que o coordenador-técnico do Pólo Nacional de Biocombustíveis de Piracicaba/SP, Weber Amaral, argumentou sobre os modelos de agricultura para a produção de oleaginosas para biodiesel. A soja, por exemplo, vincula-se a uma escala de agricultura intensiva, enquanto a mamona a uma escala menor, via sistema de cooperativas.

O objetivo do seminário foi cumprido. Novas e constantes discussões deverão ser realizadas. Resta esperar que cada um dos atores envolvidos na cadeia de biodiesel represente bem o seu papel individual, mas sempre com a visão global da questão, que é tão promissora quanto complexa.

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