Os preços do óleo de palma registraram ontem mais uma forte alta na bolsa da Malásia - mercado de referência da oleaginosa. O contrato futuro com maior liquidez subiu 1,1% e fechou a 20,73 centavos de dólar por libra-peso. Nos últimos 30 dias, a alta acumulada chegou a 9,5% - e, segundo analistas, novas valorizações virão.
Mais um sinal de que se trata de um "novo" mercado, outro a ser chacoalhado pela onda dos combustíveis vegetais. Começa a ganhar ainda mais corpo, a atrair novos investimentos e a oferecer uma volatilidade de preços que costuma agradar aos especuladores. E respingos dessa transformação, também embalada pelo maior consumo alimentar, podem beneficiar o Brasil, até agora só uma sombra em um segmento tradicionalmente dominado por países asiáticos.
Mas são os atuais donos da bola que estão no ataque. Recentemente, os governos de Malásia e Indonésia, que juntos respondem por 85% da exportação mundial de óleo de palma, anunciaram que cada país reservará 6 milhões de toneladas do produto por ano para a produção de biodiesel. Esse volume corresponde a 40% da produção anual desses países. Os dois países anunciaram em julho parceria para produzir anualmente 12 milhões de toneladas de biodiesel de palma, com vistas à exportação.
O aquecimento da demanda ocorre sobretudo na China. O país consome 70 milhões de toneladas de diesel por ano e planeja construir 100 usinas de biodiesel - à base de canola, soja e palma - para reduzir a demanda por diesel. Em 2005, os chineses importaram, no total, 4,4 milhões de toneladas, quase tudo da Malásia. E o volume deve crescer.
Em julho, a estatal China National Offshore Oil Corp. (CNOOC) anunciou a construção de uma usina de biodiesel em Hainan Island, com capacidade inicial para 100 mil toneladas por ano e planos para chegar a 1 milhão no médio prazo. Analistas do segmento acreditam que a empresa utilizará como matéria-prima o óleo de palma da Malásia, já que o exportador oferece vantagens comerciais à China. A mesma CNOOC também planeja construir uma unidade de biodiesel de óleo de palma em seu país ou na própria Malásia.
Ainda na China, pesquisadores do Instituto de Físico-Química de Dalian também desenvolvem pesquisas para produzir etileno, propileno e outros produtos de química fina a partir da palma, em substituição aos derivados de petróleo. A expectativa é que o país eleve suas importações do óleo em pelo menos 1 milhão de toneladas já em 2007, para a produção de biocombustíveis.
Na Ásia, o Japão também demonstra interesse no biodiesel de palma. O grupo japonês Itochu Corp. e a petroleira malaia Petroliam Nasional Bhd planejam investir US$ 22,6 bilhões para desenvolver a indústria de biodiesel na Malásia. Outras interessadas são as também malaias Sime Darby e Golden Hope Plantations, além da Wilmar Corp., de Cingapura.
O melhor exemplo de que o eixo do mercado de óleo de palma começa a mudar é a União Européia, onde o consumo é crescente principalmente em Holanda, Inglaterra e Bélgica, que usam o produto para para gerar energia elétrica. Conforme dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), as importações do bloco europeu aumentaram 12% na safra 2005/06, para 4,5 milhões de toneladas, e deverão crescer mais 9% em 2006/07. A demanda mundial, segundo o USDA, deverá crescer 6,5% no ciclo 2006/07, para 37,5 milhões de toneladas; a oferta está projetada em 37,4 milhões, o que deixa como saldo estoques apertados, de 77 mil toneladas.
Nos EUA e na UE, nota João Paulo de Moraes Filho, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), não é apenas a febre do biodiesel que puxa a demanda. Ele diz que, nos últimos anos os dois mercados vêm recorrendo mais ao óleo de palma na alimentação, como substituto do óleo de soja e de outros óleos com gordura trans (formada por processo de hidrogenação e, se consumida em excesso, causadora de aumento dos níveis de colesterol ruim no organismo). Em parte graças a essa preocupação, na temporada agrícola 2005/06 o consumo mundial de óleo de palma superou o de óleo de óleo - 35,2 milhões contra 33,4 milhões de toneladas. "Só que há mais restrições geográficas à produção de palma do que no caso da soja, o que limita sua expansão", avalia Moraes.
Para o técnico, a atual tendência de maior produção de biodiesel de óleo de palma em outros países fora da Ásia tem limite. Mesmo na Europa, observa, a principal matéria-prima adotada tem sido a canola. Nos EUA, as apostas deverão se concentrar na soja. Não é de esperar, portanto, crescimentos geométricos da demanda, mas aumentos graduais.
No Brasil as perspectivas também apontam para essa direção, definida pelo avanço do biodiesel também por aqui e pela nova legislação sobre rotulagem de óleos comestíveis. E nesse cenário, a Agropalma, que responde por 75% da incipiente produção nacional de óleo de palma, já estuda ampliar a produção do combustível e reavalia a possibilidade de entrar no varejo de margarinas. Hoje a empresa faz a margarina Vitapalma, voltada exclusivamente para a área de food-service (padarias, sorveterias, bares e restaurantes).
Desde o dia 1º, no país, as indústrias de alimentos devem incluir nos rótulos a quantidade de gordura trans contida em seus produtos. Nos EUA, a rotulagem de gordura trans tornou-se obrigatória em 2005, e no primeiro ano da lei o consumo de óleo de palma cresceu 51,9%, para quase 416 mil toneladas, segundo a Comissão Internacional de Comércio dos EUA (ITC). As perspectivas apontam para novo crescimento em 2006, de 44%.
"Com a rotulagem de gorduras trans, a demanda por produtos mais saudáveis no Brasil também deve crescer", diz Marcelo Amaral Brito, diretor comercial da Agropalma. Segundo ele, as grandes indústrias já adequaram produção e rotulagem e aumentaram as consultas para compra de óleo de palma por empresas de menor porte. A produção de óleo da Agropalma não deverá chegar às 145 mil toneladas previstas no início do ano. Segundo Brito, uma seca no fim de 2005 e as chuvas de julho afetaram a produtividade das palmeiras. No ano passado, foram cerca de 130 mil toneladas. Conforme Brito, a Agropalma também estuda implantar uma nova tecnologia para elevar a produção de biodiesel. A empresa investiu US$ 1 milhão em 2005 em uma fábrica em Belém (PA).
Fonte: MB do Brasil
domingo, 11 de fevereiro de 2007
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