quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Brasileiro que criou o biodiesel compara Brasil à Arábia Saudita

O professor Expedito Parente patenteou, no fim da década de 70, o biodiesel, um combustível ecológico feito a partir de plantas oleaginosas como a mamona, o pinhão-manso e a soja, que podem ser facilmente cultivadas em áreas semi-áridas. Formado em Engenharia Química pela antiga Escola Nacional de Química da Universidade do Brasil (atual UFRJ), esse cearense de 66 anos acredita que o biodiesel será um grande acelerador do desenvolvimento socioeconômico do Brasil, e que a Amazônia vai virar uma “Arábia Saudita do biodiesel”. Dona da primeira patente mundial do biodiesel, sua empresa, a Tecbio, desenvolve plantas e equipamentos para usinas do setor.

Ultimamente, está debruçado sobre outra invenção, que deverá provocar uma revolução na aviação comercial: o bioquerosene, um derivado do biocombustível já em testes pela Boeing, com o apoio da Nasa.

O projeto do biodiesel ficou engavetado por mais de décadas. Por quê?

Parente – Concebi o biodiesel em 1977. Não houve interesse do governo porque o interesse estava focado no álcool etílico. Havia um lobby dos usineiros e uma crise no mercado internacional do açúcar. Para as indústrias automotivas, o ideal seria que nada mudasse. E as distribuidoras do petróleo têm dificuldades a mais. Mas surgiram forças maiores: a escassez do petróleo e o efeito estufa. A história foi acontecendo de tal forma que as pessoas começaram a ter consciência do aspecto ecológico do biodiesel.

Além do Brasil, onde o biodiesel está mais avançado?

Parente – Em todo o mundo. O presidente (dos EUA) Bush vem ao Brasil para conhecer o programa. Um homem totalmente petrolífero. O álcool é um combustível solitário, para veículo de passeio. O biodiesel é coletivo, para ônibus, caminhões, trens, navios, máquinas agrícolas e geração de energia. Por isso, o programa do biodiesel será maior do que o do álcool. Essa é a minha visão. Tem gente que diz que sou louco. Nós temos 80 milhões de hectares na Amazônia, que vai se transformar numa A-rábia Saudita do biodiesel. Essa área é desflorestada e está em degradação. Vai ser um megaprojeto, não tenho dúvida. Precisamos fazer um reflorestamento energético equilibrado na Amazônia. Dinheiro para isso não falta. Os próprios recursos dos fundos de energia limpa e de Quioto podem patrocinar. É o modo mais efetivo de resolver o problema do efeito estufa. Não tem outro caminho.

O País pode virar concorrente de produtores de petróleo?

Parente – Sem dúvida. Enquanto o petróleo, agora, está caindo, o biodiesel está subindo.

O senhor é um entusiasta do apelo social do biodiesel?

Parente – Antes, o negócio era o agribusiness, que emprega máquinas, não gente. O casamento do agribusiness com a agricultura familiar vai ser fantástico. Um governo voltado para o trabalho vai ter que privilegiar o emprego, combater a miséria. O biodiesel é um instrumento.

O projeto, desengavetado pelo presidente, está sujeito aos humores de seus sucessores?

Parente – Uma árvore bem plantada é duradoura. Como o biodiesel tem aspectos sociais importantes, ninguém vai ter coragem de mexer com ele.

Qual o potencial de negócios do biocombustível?

Parente – Em 2006, o biocombustível movimentou R$ 3 bilhões. Esses números vão se multiplicar ano a ano. O interesse de importar é grande.

E o bioquerosene?

Parente – É a terceira onda. Terão outras no futuro. Acho que um dia haverá até mesmo bioeletricidade.

Como surgiu?

Parente – Quando procurei o ex-ministro da Aeronáutica Délio Jardim de Matos, ele disse que não havia interesse no biodiesel. E exigiu que introduzíssemos no programa de estudo o bioquerosene. Fiz uma das maiores irresponsabilidades que se pode imaginar: desenvolver algo que eu não sabia como começar. Assinei um protocolo, em pleno regime militar. Ninguém bem-intencionado vai preso, né? Como sou uma pessoa de sorte, em dois meses tive a idéia. Desenvolvemos, e a coisa andou.

Qual a diferença entre o biodiesel e o bioquerosene?

Parente – O bioquerosene é um subproduto do biodiesel. O que eu desenvolvi foi a partir do babaçu.

Como estão os testes?

Parente – No exterior, estamos testando na Boeing, com o apoio da Nasa. Acredito que em dois anos poderemos ter vôos experimentais com o bioquerosene. Entrar em comercialização é uma questão mais complexa.

E no Brasil?

Parente – Recentemente o Centro Técnico Aeroespacial (CTA) demonstrou interesse em retomar esses estudos aqui.

Como o senhor teve a idéia de criar um combustível a partir de plantas oleaginosas?

Parente – Estava no meu sítio, perto de Pacoti (região serrana do Estado), tomando umas caninhas, numa cachoeira, e olhei para um pé de ingá. Veio a inspiração: vi ali a molécula do biodiesel. No outro dia, surgiram os primeiros 100ml de biodiesel a partir do óleo do algodão.

Fonte: Diário da Manhã - Goiânia/GO

da Agência de Notícia UDOP

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