terça-feira, 5 de junho de 2007

Biocombustível: Hidrogênio ainda é opção complexa e cara

Cada vez mais presente na vida das pessoas, o tema sustentabilidade não poderia deixar de ser muito forte no dia-a-dia das montadoras. Hoje, elas concentram esforços em estudos tecnológicos para transformar os automóveis em elementos menos agressivos ao meio ambiente. A batalha estará ganha quando um ponto dos carros for transformado: a adoção de motores elétricos, em substituição à queima de combustíveis.

“O futuro desta indústria está nos motores elétricos, abandonando a combustão”, afirma Henry Joseph Júnior, presidente da comissão de energia e meio ambiente da Associação Nacional dos Fabricantes de VeículosAutomotores (Anfavea) e gerente dos laboratórios de emissões e de testes de motores da Volkswagen.

Para atender a esse objetivo, etanol e hidrogênio são duas opções chave. Garantindo a performance dos carros, os dois podem ser chamados de combustíveis do futuro e, mais, o uso de um poderá viabilizar o outro.

Desde o primeiro carro produzido, a indústria automobilística fabrica veículos com motores de combustão. A queima do combustível gera poluentes e fugir deste processo é premissa necessária para a adoção de mecanismo que seja ambientalmente mais saudável. Com o uso do álcool, o Brasil saiu na frente. O etanol é uma fonte renovável, diferentemente dos derivados do petróleo, e reduz a emissão de gases que provocam o efeito estufa. No entanto, pelo fato de também depender da combustão interna, ainda emite poluentes presentes nos grandes centros urbanos.

“O etanol pode ser descrito como um produto intermediário”, diz Joseph Júnior. “Ainda funciona com combustão, mas tem aspectos ambientais mais favoráveis.”, afirma o diretor.

Fábio Ferreira, gerente de desenvolvimento de produto da unidade de sistemas à gasolina da Robert Bosch América Latina, lembra que o etanol, por ser líquido, pode ser utilizado mais fácil e rapidamente, já que não demanda grandes alterações nas estruturas dos carros. “Falando do Brasil, o país já conta com uma estrutura de postos e uma migração maior para este tipo de combustível não seria tão cara. A modificação nos motores é pequena e os custos de produção e distribuição são competitivos em relação à gasolina”, afirma o especialista destacando que, ainda assim, em uma década, o álcool deverá avançar em cerca de 10% na fatia de combustível hoje comandada pela gasolina.

A opção mais limpa para a indústria automobilística seria a dos motores elétricos e, na avaliação de especialistas, alimentados pelo hidrogênio. A obtenção de energia a partir do elemento químico é baseada no conceito de células de combustível, em que a energia química é transformada em energia elétrica e térmica. A célula combustível, portanto, converte os elementos químicos hidrogênio e oxigênio em água e gera eletricidade enquanto faz isso. Os veículos contam basicamente com três alternativas para gerar eletricidade a partir do hidrogênio: combustíveis fósseis (gasolina e gás natural); provenientes da biomassa (etanol e metanol); e o próprio hidrogênio na forma gasosa ou líquida.

A grande questão é fazer com que o hidrogênio chegue ao veículo. Em sua forma gasosa, explica Ferreira, ele precisaria de espaço para armazenamento dentro do carro, além de baterias específicas, possivelmente maiores do que as atuais, o que demandaria mudanças nas estruturas dos automóveis.

O desafio, que tem se mostrado muito complexo e caro, aponta Joseph Júnior, é viabilizar a extração do hidrogênio a partir de um combustível líquido, para que a estrutura atual dos carros possa ser preservada, que poderá ser o álcool. “O etanol é rico em hidrogênio. Pode, eventualmente, no futuro, ser um dos produtos mais utilizados para extração do hidrogênio”, diz.

Para o especialista da Anfavea, etanol e hidrogênio são duas realidades, não excludentes, têm vantagens e podem conviver. “Alguns países não têm produção de álcool e o hidrogênio, não necessariamente extraído do etanol, pode ingressar nessas localidades. Por outro lado, em nações em que o álcool é abundante, a entrada do hidrogênio deverá ser retardada.”

Ainda mais porque, como toda novidade, o hidrogênio ainda é uma opção cara e para poucos. “Os preços não caberiam nos veículos populares no Brasil. Somente o sistema de célula combustível que precisa seria equivalente ao valor de dois carros desses”, diz Joseph Júnior.

Pesquisadores da Unicamp trabalham no primeiro veículo elétrico nacional com células a combustível e o uso do hidrogênio, em um projeto orçado em R$ 400 mil.

Os profissionais acreditam que antes de 20 anos não será viável a produção em escala de veículos com hidrogênio, apenas em carros de demonstração.

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