terça-feira, 5 de junho de 2007

Etanol: Vitória democrata em 2008 favorece proteção

O poder de atração do etanol é tamanho no imaginário político do país que analistas de todas as tendências consideram ser impossível decidir qual dos principais candidatos à Presidência dos EUA em 2008 é o mais favorável ao incremento da produção do combustível derivado do milho como principal estratégia para o combate à dependência do petróleo. “Neste momento, parece que é politicamente ’ in’ sair por aí alardeando seu apoio irrestrito ao etanol. Não há um único candidato contrário ao crescimento do uso de energias mais limpas nos EUA. Mas também não há qualquer diferença significante entre os projetos dos candidatos todos neste momento da campanha”, diz o professor Wallace Tyler.

Em recente entrevista para o Valor por conta do lançamento de sua aclamada biografia do economista Joseph Schumpeter, o professor Tom McCraw, da Universidade de Harvard, alertou, no entanto, para a possibilidade de um incremento do protecionismo americano no caso de uma vitória democrata nas eleições do ano que vem. “A tendência, por exemplo, no caso de uma presidência de Hillary Clinton ou Barack Obama, seria a de manter a taxação de 51 centavos por galão do etanol brasileiro. Infelizmente, ao menos em um primeiro momento, trabalhamos, na hipótese de uma virada de mesa na Casa Branca no ano que vem, com um aumento de subsídios em amplos setores da economia”, diz. Para McCraw, vencedor do Prêmio Pulitzer, a ligação dos democratas com os agricultores é forte e será um dos alicerces do partido na conquista de votos na América Profunda.

Tyner é menos pessimista, apostando que a tarifa deve, no mínimo, reduzir gradualmente nos próximos anos: “Não penso em 2007 ou 2008, mas há uma possibilidade de se chegar a uma tarifa que seja um ponto de partida para a abolição. No entanto, a pior estratégia de Brasília seria incentivar a criação de uma comunidade internacional de produtores de etanol na linha da OPEP, que forçaria os EUA a manter intacta a tarifa de importação do etanol brasileiro. A hora é de se pensar justamente no contrário: de tentarmos consolidar a imagem do Brasil como a de uma fonte amigável e segura de etanol para o mercado americano”.

Por conta do peculiar sistema eleitoral americano, um dos Estados mais decisivos para a escolha dos candidatos à Presidência é Iowa, que tem se beneficiado enormemente do aumento da produção de milho e é sede de uma das primeiras primárias. “Os plantadores de milho estão conversando com todos os candidatos democratas e republicanos sobre a importância de Washington continuar apoiando o crescimento da indústria do etanol. Temos mostrado a eles que o boom do etanol tem mais apoio popular do que a maioria das pessoas imagina, até por conta do efeito direto na vida de eleitores que vivem nas áreas rurais em que as bio-refinarias estão sendo erguidas”, diz McCauley.

Opresidenteda NCGAdiz ainda que o eleitor dos rincões dos EUA não contava há muito com um catalisador de oportunidades e emprego como o etanol. Hoje 43% das refinarias de etanol do país estão localizadas em fazendas, responsáveis por 34% da capacidade da nascente indústria.

Até pouco tempo várias estrelas da política americana eram refratárias a uma política de desenvolvimento energético que contemplasse o etanol como possibilidade estratégica. A senadora Hillary Clinton detém o recorde de votar 17 vezes contra emendas relacionadas ao incentivo da produção de etanol nos EUA. No flanco republicano, o senador John McCain era até bem pouco tempo um ferrenho opositor de qualquer incentivo à indústria do etanol (que considerava ’limitada’). Tanto ele quanto Rudy Giuliani agora apontam para a necessidade de se combinar um incremento na produção do álcool combustível com a construção de mais usinas nucleares. “É um absurdo que não tenhamos construído sequer uma usina nuclear nos últimos 30 anos enquanto seguíamos comprando petróleo, dando dinheiro para nossos inimigos”, disse recentemente exprefeito de Nova York em um dos programas de entrevista de maior audiência da televisão do país em maio. Giuliani costuma citar a Venezuela de Hugo Chávez como uma das razões pelas quais Washington precisa parar de ’financiar nossos antagonistas’. Curiosamente, cabe justamente a seu escritório de advocacia defender a CITGO, subsidiária americana da PDVSA, a estatal venezuelana de energia. Detalhes do mundo corporativo.

Neste exato momento há dezenas de projetos de lei nas duas casas do Congresso relacionados ao incentivo à indústria do etanoldois dos mais importantes, o Fuel Economy Reform Act e o Ethanol Education and Expansion Act, contam com a assinatura do senador Barack Obama. Uma das principais vozes contrárias aos subsídios governamentais à indústria do etanol, o especialista em energia John Taylor, do Instituto Cato, apareceu na última sexta-feira em um dos principais programas de reportagem da rede ABC a fim de apresentar uma série de ressalvas ao que classificou como ’o mito do etanol’. Um dos trunfos por ele apresentado foi um recente estudo da Universidade de Minnesota que apresenta os riscos de se destinar toda a colheita do milho para a produção de etanol. “E mesmo neste caso hipotético apenas 12% de nossa demanda por combustível seria atendida. Mas não adianta, hoje, se você quer ser eleito presidente dos EUA, tem de apoiar a indústria do etanol. Se você não estiver disposto a sacrificar crianças no altar do deus do milho, você não receberá em Iowa sequer 1% dos votos. Neste exato momento o que temos de mais próximo de uma religião de Estado neste país não é o cristianismo, mas o milho.”, disse, criando um imagem de forte impacto para a aparente canonização do etanol no dia-a-dia da maior economia do planeta.

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