Projeto da primeira leva do PIPE dá origem a três pedidos de patente; no setor sucroalcooleiro, empresa fatura US$ 10 milhões
Lívia Komar
Em junho de 1997, uma notícia no jornal despertou a atenção do engenheiro químico argentino Pedro Gustavo Cordoba. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) acabava de criar o Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE), com o objetivo de gerar uma linha de crédito para financiar projetos inovadores de empresários empreendedores. O proprietário da Technopulp Industrial, instada em Ribeirão Preto (SP), enxergou ali a oportunidade de aperfeiçoar um equipamento útil para o setor sucroalcooleiro e que vinha estudando desde a década de 1990.
Com a ajuda do filho, o também engenheiro químico Pedro Gustavo Córdoba Filho, o proprietário da Technopulp apresentou um projeto de pesquisa à fundação e conseguiu o financiamento para sua idéia. Em 2000, o filtro Vacuum Press (VP), para usinas de açúcar e álcool, surgiu no mercado como um dos 30 primeiros projetos custeados pelo PIPE.
Primeiro, as Indústrias Matarazzo
Córdoba, o pai, chegou ao Brasil em 1970. Formado em Engenharia Química, veio para gerenciar o Departamento de Papel e Celulose das Indústrias Matarazzo. Em 1974, porém, fez uma reviravolta em sua vida e criou a Technopulp Industrial, na região que já era o maior pólo sucroalcooleiro do Estado. Por quatro anos, a empresa manteve o foco no setor de papel e celulose; a prosperidade veio a partir de 1978, no auge do Proálcool. Nessa época, a empresa começou a aparecer no cenário sucroalcooleiro, primeiro com equipamentos como depuradores e refinadores para usinas de açúcar e álcool. Em seguida, nasceram os filtros, que se tornaram o produto principal da empresa. Apesar do foco em usinas de açúcar e álcool, a Technopulp também fornece filtros para os mercados de mineração, fertilizantes, sucos e o já citado papel e celulose.
Em 33 anos, a empresa passou de US$ 500 mil de faturamento e dez funcionários para os US$ 10 milhões anuais e 60 funcionários de hoje. A especialidade da empresa é a purificação de caldo em indústrias. "O PIPE nos ajudou a ampliar a Technopulp. A entrada no mercado se tornou mais fácil com esse financiamento. Hoje triplicamos nossa área industrial", ressalta o proprietário, que também atua como diretor técnico da empresa. A empresa funciona em dois prédios — um, administrativo, na região central da cidade; outro, em um bairro periférico, com oito mil metros quadrados, abriga o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento e grande capacidade de produção. A empresa tem representantes no Brasil e em toda América do Sul.
Dificuldades
Em 1990, a Technopulp já caminhava em busca da inovação. Devido à experiência de seu proprietário no ramo de papel e celulose, criou um filtro para usinas de açúcar e álcool utilizando os princípios básicos aplicados nos lavadores de celulose para a fabricação de papel, que funcionam com lavagem a vacuo. Nascia assim o primeiro protótipo do que é hoje o carro-chefe da empresa, aperfeiçoado anos depois com o financiamento do PIPE.
Toda usina que produz açúcar a partir do caldo de cana aplica um sistema de filtragem se não quiser impurezas misturadas ao produto final. O equipamento da Technopulp surgiu para substituir o filtro rotativo, que já existia há mais de um século na indústria canavieira e que, apesar de até então ser o único no mercado, já não dispunha de tanta eficiência, desperdiçando toneladas de açúcar em cada safra.
Em 1992, a Technopulp tinha três desses filtros instalados em diferentes usinas da região de Ribeirão Preto. No entanto, com a crise do setor sucroalcooleiro que abalou o Brasil na ocasião, os usineiros receavam investir em novidades. Com isso, a empresa não conseguia aperfeiçoar o equipamento e a produção desses filtros ficou estacionada até surgir o custeamento da Fapesp, cinco anos depois, proporcionando um estudo mais detalhado do filtro em uma planta-piloto para ensaios e testes.
O filtro desenvolvido com apoio do PIPE
Para o desenvolvimento do produto batizado de Vacuum Press, a empresa recebeu da Fapesp R$ 248 mil. Com o dinheiro, instalou um laboratório e a planta-piloto na Usina Diamante, no município de Jaú (SP), onde a solução pôde ser testada e aperfeiçoada na prática. A Technopulp, de sua parte, investiu R$ 104 mil no projeto. Com o financiamento, a empresa do interior de São Paulo conseguiu corrigir defeitos no tempo de drenagem, por exemplo, permitindo aperfeiçoamentos mecânicos e no processo de instalação.
O equipamento inovador, totalmente projetado pela Technopulp, entrou no mercado com força total. Ele filtra a garapa através de duas telas de poliéster. Isso acontece após o processo de decantação, que separa o caldo, já aquecido e tratado, em duas partes, chamadas de "lodo", mais escura e pesada, e de "caldo claro". O lodo vai para o fundo dos decantadores e retém grande parte da sacarose. O equipamento filtra exatamente essa matéria orgânica. A novidade do filtro da Technopulp é o fato de conjugar as etapas de drenagem, lavagem e prensagem. Nos filtros rotativos comuns, a etapa do meio não ocorre. A lavagem, diferencial do VP, otimiza a retenção das impurezas. No processo convencional, grande parte do açúcar que ainda está no lodo acaba sendo desperdiçada para a torta, que é a mistura prensada de todas as impurezas que sobram depois da filtragem. No caso dos filtros VP, a torta é 35% menor que a gerada nos filtros rotativos.
"Sem um sistema de filtração — seja ele de qualquer tecnologia — perderíamos todo o açúcar contido no lodo dos decantadores. O equipamento, sem dúvida nenhuma, aumenta a eficiência da fábrica", afirma o engenheiro agrônomo Roberto Avalloni de Morais, supervisor de processos da Usina Santa Adélia, de Jaboticabal (SP), que trabalha com o sistema da Technopulp há duas safras.
Driblando a concorrência
Os filtros VP também surgiram para acabar com um problema comum dentro das usinas. Os rotativos, que ainda são muito utilizados, exigem limpeza constante e obrigam as usinas a parar freqüentemente para manutenção. O equipamento da Technopulp, segundo a empresa, exige menos cuidados técnicos devido à facilidade para limpá-lo.
A equipe da empresa enumera outras diversas vantagens em relação ao filtro convencional. "O filtro rotativo pesa 40 toneladas, enquanto o da Technopulp pesa apenas oito. O rotativo desperdiça 4% do açúcar para a torta. Nosso índice é de 1,5%. Em uma safra, o equipamento da Technopulp consegue recuperar aproximadamente 10 mil sacos de 50 quilos de açúcar da torta", garante Fernando Ricci Molina, projetista do Departamento de Engenharia Mecânica da Technopulp, que está há 15 anos na empresa e acompanhou suas principais conquistas.
Outro benefício, segundo Molina, é o preço. Enquanto os filtros tradicionais exigem um investimento de US$ 450 mil, o da Technopulp custa US$ 180 mil. "Na mesma safra em que o equipamento é instalado, todo o investimento já retorna para a usina", assegura o projetista.
Do projeto financiado pelo PIPE, mais dois filtros
A empresa vende cerca de 60 filtros Vacuum Press por ano. Cada um consegue atender de três a oito mil toneladas de cana-de-açúcar moída por dia. A Technopulp já instalou cerca de 380 filtros VP em indústrias de toda a América Latina. O pedido de patente do filtro VP foi depositado em 1993, de acordo com a página do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI); mas a patente ainda não foi concedida. Com o final do projeto financiado pelo PIPE, em 2000, o conhecimento adquirido proporcionou à empresa o desenvolvimento de outros dois filtros para usinas, ambos também com pedidos de patente já depositados, em 2005 e 2006. Um deles, chamando Vacuum Belt, é usado na filtragem de caldo clarificado, xarope e licores de refinarias; o outro, chamado de Filtro Horizontal Vacuum Belt, filtra o lodo que resulta do tratamento da água de lavagem dos sistemas de fuligem nas usinas. Segundo o proprietário, eles proporcionam alternativas eficientes em vários sentidos, como pelo tamanho reduzido, economia de energia e facilidade operacional. No entanto, o VP ainda é o mais procurado, por sua qualidade comprovada há sete anos. Seguindo a tendência do mercado, a Technopulp procura agora usinas parceiras para dar início a um novo projeto para filtragem de biodiesel, combustível produzido a partir da reação química de óleos vegetais extraídos de diversas matérias-primas.
Para o argentino especialista em papel e celulose, o sucesso da Technopulp não veio por acaso. "O segredo é ter muita responsabilidade e conhecimento tecnológico. É fundamental conhecer o mercado e o processo de produção. Importante também é formar uma boa equipe, treinada e atualizada", afirma. A empresa acredita que, de alguma forma, tem de recompensar tudo o que foi feito para sua arrancada no setor e, hoje em dia, segundo o diretor técnico, oferece cursos constantes de aperfeiçoamento aos seus colaboradores. A ação, de acordo com a Technopulp, desencadeará grandes avanços para o segmento do açúcar e de álcool, que se mantém historicamente por meio de constantes melhorias.
terça-feira, 19 de junho de 2007
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