No ano passado, quando o preço do barril do petróleo ensaiou estabilizar-se na casa dos US$ 80 o barril, recorde histórico, alguns especialistas proclamaram que a commodity começava a ficar cada vez mais escassa e que dentro de 30 ou 40 anos a era do petróleo estaria terminada. A disparada da cotação do produto, que em cinco anos quintuplicou seu preço, seria a prova. Para o presidente doCambridge Energy Research Associates (Cera), Daniel Yergin, essa teoria não é novidade. É a repetição da história, que já foi divulgada cinco vezes desde o fim do século XIX.
Quando começou a ser explorado em 1880, já se iniciavam as dúvidas sobre o futuro do novo combustível. Quando o automóvel começou a ganhar espaço nas ruas e estradas dos Estados Unidos, novas incertezas, que aumentaram depois das duas guerras mundiais. Até agora o fim não chegou. E também poderá levar muito várias décadas para chegar a ele, até porque o temor de escassez provoca cada vez mais investimentos na exploração de petróleo em lugares antes não imaginados, como em águas ultra profundas, procedimento cada vez mais usual.
Recente estudo do Cambridge Energy Research discorda da tese de que a produção mundial de petróleo já atingiu seu pico e começará drasticamente a cair ano após ano. Para a consultoria, essa teoria se baseia na estimativa de que haveria ainda 1,2 trilhão de barris a serem explorados — análise que leva em conta, em sua maioria, poços já comprovados. Estudo do Cera aponta que hoje esse número é mais de três vezes maior — 3,7 trilhões de barris, número que se baseia em poços ainda a serem descobertos e recursos possíveis de serem explorados. Estimativa que ainda está sujeita à revisão para cima. “Já se ouviram cinco vezes na história falar do fim do petróleo. A tecnologia e a abertura de novas fronteiras impulsionaram novas descobertas de jazidas e não há porque pensar que a tecnologia nada fará dessa vez”, diz Yergin.
No estudo, a consultoria estima que o pico da produção mundial de petróleo poderia ser alcançado apenas em 2030 e que, antes de começar a declinar, é bastante provável que ela se mantenha em um patamar estável por uma ou mais décadas. O estoque global de petróleo para a Cera estaria hoje em cerca de 5 trilhões de barris, sendo que 1 trilhão estariam sendo produzidos e outros 3,7 trilhões ainda estariam para serem explorados. Montante tão grande que proporcionaria capacidade produtiva para que a indústria de petróleo continue se expandindo nos próximos anos. Simultaneamente, a discussão sobre o aquecimento global poderá fazer com que os países adotem políticas de uso mais eficiente da commodity.
Se existem dúvidas sobre o fim do petróleo, começam a se cristalizar algumas projeções sobre a commodity. Em um cenário de bom desempenho econômico mundial até 2030, o Cera estima que a demanda mundial por energia crescerá no período 75%, refletindo o aumento do número de automóveis e o aumento do consumo de eletricidade, com a alta da renda. Esse acréscimo será mais rápido na Ásia, que representará metade do PIB mundial, sendo que metade da demanda por petróleo virá da China. Para acompanhar essa expansão, as empresas de energia, segundo a Agência Internacional de Energia, teriam de investir mais de US$ 5 trilhões.
Algumas respostas podem ser buscadas. Países devem reforçar seus programas de eficiência. Após os choques do petróleo da década de 1970, os Estados Unidos investiram com vigor em eficiência energética, conseguindo crescer mais de 100% nas décadas posteriores, enquanto o consumo de energia se expandiu em apenas 25%. Simultaneamente, vão se buscar novas tecnologias para capturar as emissões de carbono, e empresas de energia devem investir mais em inovação tecnológica, tentando tornar viáveis as energias renováveis.
No entanto, uma das preocupações de Yergin é que a demanda por petróleo está restrita não por problemas geológicos, mas geopolíticos, em razão da falta de investimentos no Irã, guerra no Iraque e a turbulência com a Venezuela. Fatores que têm impulsionado o preço da commodity. “O petróleo vem mudando de patamar de preço nesses últimos anos”, afirma o economista Fabio Silveira, da RC Consultores. Uma parte dessa elevação também se deu com o aquecimento das economias da China e Índia. “Esse ciclo de alta de commodities tem um fator ligado à performance da China e Índia”, afirma o economista da Universidade Católica do Chile, Felipe Larrain. “Em 2006, 34% da demanda por petróleo veio da China”, diz.
Prever o preço do petróleo nos próximos anos é uma tarefa árdua, mas as indicações são deve se manter acima de US$ 50 — um patamar bem diferente do visto no fim da década de 1990, quando o barril era cotado abaixo dos US$ 20. “Um aumento de US$ 10 no barril de petróleo pode provocar uma queda de 0,5% do PIB mundial”, diz Larrain. Ainda maior economia do mundo, os EUA, que consomem cerca de um quarto do petróleo mundial, demorarão vários anos para reduzir sua dependência da commodity, mas já começam a buscar alternativas.
“As energias renováveis começam a ganhar espaço nesse cenário, e o Brasil é um grande exemplo para o mundo”, diz Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), órgão estatal de planejamento. Em boa parte dos países desenvolvidos, petróleo e seus derivados representam mais de 70% da matriz energética. As fontes renováveis representam 6% da matriz dos países mais ricos, enquanto, no Brasil, cerca de metade da energia vem de recursos renováveis.
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terça-feira, 5 de junho de 2007
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