terça-feira, 5 de junho de 2007

Biorrefinarias já despertam interesse de estrangeiros

O Brasil começa a dar seus primeiros passos em direção aos projetos de biorrefinarias, instalações que buscam na biomassa um substituto para o petróleo na produção de químicos, biocombustíveis e eletricidade. Pelo menos quatro empresas, todas ligadas a grupos estrangeiros da área de química e petroquímica, têm intenções firmes em investir projetos relacionados a esta nova tecnologia.

A Dedini, fabricante de equipamentos para usinas de açúcar e álcool, está analisando formas de viabilizar esses projetos. “Como uma característica comum, é possível dizer que eles trabalham com a biorrefinaria de grande escala, com verdadeiras plataformas de produção”, diz o vice-presidente de operações da Dedini, José Luiz Olivério. “São duas, três, quatro usinas, todas próximas, que serão fornecedoras de matéria-prima para uma única empresa que em grande escala terá produção alcoolquímica.”

O debate atual na área de energia, seja pelo lado econômico, seja pelo ambiental, tem uma corrente que defende que o petróleo é um elemento que caminha para o esgotamento das reservas. O desafio, para estes, é buscar um substituto ao produto. Pelo fato de a biorrefinaria se valer de matérias-primas renováveis, elas também têm a vantagem de apresentar mínimas gerações de resíduos e emissões de gases poluidores. O etanol, que já aparece como uma das alternativas sustentáveis ao óleo como combustível, agora ganha mais amplitude, com o desejo já anunciado de países desenvolvidos de investir nas chamadas biorrefinarias. Em fevereiro passado, o governo dos Estados Unidos anunciou investimentos de US$ 385 milhões para financiar, em quatro anos, seis biorrefinarias de grande escala. Em maio, divulgou que destinará outros US$ 200 milhões para o desenvolvimento de biorrefinarias de pequena escala para converter biomassa em combustível líquido, principalmente etanol, e emoutros produtos. Tudo para diminuir a dependência do país em relação ao petróleo comprado de outras nações.

Os Estados Unidos são maior consumidor mundial de petróleo, com um quarto do total, e importam 60% do que consomem. O país tem estimulado políticas de produção do etanol. Atualmente, a produção mundial do álcool é de mais de cerca de 50 bilhões de litros por ano e 70% deste total é de responsabilidade do Brasil e dos EUA.

Hoje no Brasil, o número total de usinas ao final da safra 2006/2007 é de cerca de 325. Desde janeiro deste ano, outras 43 entraram em processo de montagem e há, ainda, 55 novos projetos aprovados, que já contam com recursos liberados, mas ainda não começaram a ser montados. Além de todos esses, estão na Dedini 189 projetos em fase de estudo de viabilidade, com firmes intenções de que saiam do papel. Deste total, apenas quatro por enquanto são de biorrefinarias, mas a companhia não revela os nomes das empresas envolvidas.

Olivério afirma que trata-se, ainda, de um movimento inicial no Brasil na direção deste novo tipo de refinaria e que será comandado por um novo grupo de investidores. “Este é um caminho que tem a mesma lógica do uso do etanol como combustível. Ou seja, a de que o petróleo é finito e seus preços tendem a aumentar”.

No Brasil, a Oxiteno, do grupo Ultra, já tem projeto conceitual, elaborado por uma empresa sueca. Segundo Pedro Wongstchowski, presidente da empresa, em entrevista à revista científica “Inovação Unicamp”, afirmou que a unidade deverá produzir açúcares e álcool a partir de insumos hoje rejeitados, como bagaço, palha e pontas da cana-deaçúcar por meio de uma tecnologia chamada hidrólise ácida. Prevista para operar em cinco anos, a biorrefinaria da Oxiteno deverá ser financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). com recursos da linha de crédito para inovação.

A Dow Química também negocia com o BNDES financiamentos para a instalação de biorrefinarias . Oficialmente, a empresa informa que está ainda apenas “avaliando as oportunidades nesse mercado (alcoolquímico), mas de acordo com uma fonte do alto escalão do governo, ouvida pelo Valor em fevereiro, a empresa já iniciou conversações com o BNDES para obter financiamento para mais de uma biorrefinaria. Elas seriam localizadas no Centro-Oeste ou em Minas Gerais. No conjunto, os investimentos poderiam alcançar US$ 1,5 bilhão.

O pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Antonio Bonomi, avalia que a dificuldade para os projetos nacionais de biorrefinarias vêm da viabilidade econômico financeira. “A tecnologia atual disponível ainda está longe do ideal e os preços do álcool e do petróleo ainda dificultam a rentabilidade ao empreendimento.” Segundo ele, se no cenário de médio prazo, o preço do petróleo, por exemplo, subir muito, a tecnologia atual talvez possa ser viável. “Hoje é possível fazer, mas ainda sem escala, sem olhar os custos do projeto.”

De qualquer forma, na avaliação de Bonomi, o país tem grande potencial a ser explorado neste sentido, com esforços para multiplicar a sua produção atual de produtor de álcool. “A chamada mundial pelas biorrefinarias só faz com que aumente a necessidade de o Brasil ampliar a sua produção. Esses novos produtos agregam valor à cadeia produtiva”, afirmou o pesquisador do IPT.

“Embora ainda existam barreiras de natureza técnica e econômica para o desenvolvimento em nível comercial das tecnologias necessária s para a implantação das biorrefinarias, a ênfase dos governos parece indicar um caminho sem volta”, escreveu Valéria Delgado Bastos, economista do BNDES, no estudo “Etanol, Alcoolquímica e Biorrefinarias”. Segundo o trabalho, especialistas acreditam que as biorrefinarias possam vir a se constituir numa indústria-chave do século XXI, responsável até mesmo por uma nova revolução industrial, em virtude da importância das tecnologias que empregam e dos efeitos sobre o paradigma industrial.

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