Lançado pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), no dia 18 de maio, o novo contrato futuro de etanol já registrou mil negócios até 29 de maio, segundo o diretor de agronegócios e energia da BM&F, Ivan Wedekin, que classifica como “razoável a movimentação” em quase duas semanas de operação. “Não tínhamos uma expectativa”, afirma Wedekin. Em abril, o contrato antigo registrou 300 movimentações — número, que para o executivo, demonstra que os investidores já abandonaram o anterior e estão já negociando o novo.
Sobre as perspectivas para o futuro, Wedekin afirma que tudo “dependerá das usinas, distribuidores, investidores, mas gostaríamos de ter em 12 meses o volume de 3,5 bilhões de litros negociados nesse sistema”, afirma o diretor da instituição.
Os passos iniciais da BM&F visam a um objetivo muito mais audacioso: ter uma função importante na formação do preço de uma commodity que poderá desempenhar relevante papel no mundo como substituto do petróleo. O novo contrato futuro foi lançado depois de longas discussões com produtores, exportadores, distribuidores e corretores de álcool do Brasil. Tantas negociações e aperfeiçoamentos a partir delas resultaram em 13 versões do contrato, que foi lançado em 18 de maio.
O lançamento — impulsionado por eventos no Brasil e nos Estados Unidos — tem como meta contribuir para o aumento da liquidez global dos contratos de etanol. Maior exportador de etanol, o Brasil também pode sediar nos próximos anos o principal mercado balizador das cotações.
Até então o setor sucroalcooleiro negociava o álcool sem uma referência futura, apenas com os preços médios passados. O novo contrato de álcool anidro será equivalente a 30 metros cúbicos (30 mil litros), terá cotação em dólares e proporcionará ao investidor flexibilidade: voltado para a exportação, com entrega perto do porto de Santos, ou entrega física no mercado interno. “Essa flexibilidade é importante, hoje a prioridade do fornecimento de álcool é do mercado doméstico, mas as perspectivas de exportação são crescentes”, afirma Wedekin.
Na opção voltada à exportação, o vendedor é responsável por colocar o produto no porto sobre rodas nos terminais autorizados a receber etanol no porto de Santos, maior do país e o mais próximo do principal centro produtor de álcool. O comprador fica responsável pelo transporte da carga até o navio e pela burocracia alfandegária. Já, se o comprador optar pela opção do mercado interno, ele retira o produto do tanque das usinas, sendo deduzido o frete estabelecimento credenciado e o porto de Santos. São acrescidos os impostos devidos (PIS e Cofins). “Buscamos discutir com todos os agentes envolvidos para criar um produto com diferenciais importantes, como a flexibilidade, e que tenha aceitação no mercado”, diz Wedekin.
A volatilidade grande existente nos mercados de açúcar e álcool, que chegam a sofrer oscilações superiores a 20% ou 30% em um ano, foi um dos motivos que estimularam a criação do produto, já que é um fator de atração a investidores. Em uma única safra, as cotações podem ir de R$ 500 a R$ 1 mil por metro cúbico. “É preciso ter mecanismos de mitigação dos riscos envolvidos e dar oportunidade para boa rentabilidade.” A boa correlação com os preços à vista e a possibilidade de arbitragem dos preços são outros atrativos para a criação do produto. “Os contratos anteriores de álcool eram indexados à gasolina nos EUA ou eram atrelados a outra indicador cuja correlação era imperfeita, por isso criamos um novo contrato, que se tiver sucesso entre os agentes, será um referencial importante para o mercado”, afirma Wedekin.
Para aumentar a movimentação e tornar o contrato uma referência importante no mercado mundial de commodities, ainda será preciso avançar bastante. Tarefa que estará nas mãos das usinas, distribuidoras, corretoras e do governo, que terão de indicar que o país terá condições de abastecer o mundo e que o etanol é a opção mais viável de combustível para reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa.
Há três anos, o Brasil exportava álcool, grande parte para fins industriais, para 20 países. Hoje a maior parte dos embarques continua sendo voltada para o segmento de bebidas, mas já são 50 países que compram o produto do Brasil. Os produtores e exportadores brasileiros terão de ampliar o seu portifólio de clientes. Tarefa que não será fácil.
A maioria dos países deseja adicionar o álcool à gasolina. A regulamentação da medida demanda tempo. Segundo, alguns países ainda têm dúvidas se o Brasil terá mesmo condições de fornecer etanol durante os próximos anos de forma consistente com a demanda. “A criação de um mercado físico relevante é fundamental para essa negociação de contratos futuros de etanol deslanchar”, afirma o diretor da BM&F.
A criação desses contratos também está estimulando seguradoras de crédito a analisarem o mercado, segundo analistas de mercado. Tornando-se uma commodity negociada e com importância nos principais países do mundo, pode ser criado um nicho. Nos contratos de compra e venda de álcool poderia ser feito um seguro-garantia de entrega do produto.
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terça-feira, 5 de junho de 2007
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